O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn declarou em Cambridge, onde participou da Brazil Conference, evento realizado por estudantes brasileiros da universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) no último sábado (07), que o projeto de lei que amplia o Cadastro Positivo deve ser votado nesta terça-feira (10) na Câmara dos Deputados. O projeto, já aprovado pelo Senado, cria um ranking para que bons pagadores consigam mais acesso a crédito com empréstimos a custos menores.
Goldfajn fez a afirmação ao comentar como a medida pode contribuir para diminuir as altas taxas de spread (a diferença entre quanto o dinheiro custa para os bancos e o quanto os bancos cobram para emprestar o dinheiro aos consumidores) no Brasil. “É um problema de décadas. Vamos ter que trabalhar para resolver esse problema de décadas, ao longo do tempo”. Ainda assim, Goldfajn disse que a taxa tem caído.
Segundo o presidente do Banco Central, entre as principais causas das altas taxas de spread brasileiras estão a carga tributária, os depósitos compulsórios, os custos dos bancos (como processos judiciais e despesas trabalhistas), a falta de competição entre os bancos e a falta de garantias. Goldfajn acrescentou que, em outros países, a taxa de recuperação dos empréstimos aos consumidores pelos bancos é de 70% a 80%, enquanto no Brasil esses números ficam entre 12% e 15%, o que aumenta o custo desses empréstimos para os consumidores. “Isso faz com que aqueles que pagam seus empréstimos acabem financiando os que não pagam."
Taxa de juros
O presidente do BC comentou os impactos de uma taxa de juros de longo prazo baixa no país, já que, no momento, a Selic, taxa de juros básica da economia, está em sua mínima histórica. “Acredito que, se nós, como sociedade, formos capazes de manter a taxa Selic baixa por muitos anos, vai haver uma mudança radical no sistema financeiro”, afirmou.
Segundo Goldfajn, para isso, é preciso “continuar ajustes, fazer as reformas, em particular, a reforma da previdência, que acabou não sendo votada”.
Goldfajn também disse que o mandato do Banco Central continue focado em atingir metas de inflação, diferentemente de outros países, em que a instituição também tem como missão garantir o crescimento. O presidente do BC afirmou que o controle da inflação garante maior estabilidade e, em consequência, menor taxa de juros, maior investimento e maior previsibilidade, processo que tem como resultado final o crescimento sustentável.
Câmbio
Quando questionado sobre a adoção de outros instrumentos no controle da inflação, Goldfajn reafirmou a centralidade da taxa de juros como instrumento de política monetária do Banco Central e disse que é importante a taxa de câmbio não ser usada diretamente para controlar a inflação. “Nós já tentamos e nunca deu certo. Então, se a gente puder no Brasil não repetir os mesmos erros já seria um grande avanço”.
O presidente do BC citou a política de fixação de preços da Petrobras como exemplo e afirmou: “não vamos fixar o câmbio para depois ter que soltar, não vamos fixar preços para depois ter que soltar. Por favor, procure erros novos, e não os antigos.”