Nesta quinta-feira, dia 18 de outubro comemora-se o Dia Internacional do Cooperativismo. O sistema de cooperativismo de crédito no mundo é formado por 235 milhões de pessoas em 109 países. No Brasil, são 9,6 milhões de associados.
A cooperativa Sicredi, que possui 3,8 milhões de associados no país, abriu as portas do seu memorial histórico e mostrou quando tudo começou e de que forma tem se preparado para os desafios do futuro.
O MT Econômico visitou neste mês de outubro a primeira sede própria do Sicredi fundada em 1954, localizada na linha Imperial, no município de Nova Petrópolis – Rio Grande do Sul.
Outras duas sedes tinham sido estabelecidas na época. A primeira que marcou o início do cooperativismo no país foi em 28 de dezembro de 1902 (Caixa de Economias e Empréstimos Amstad, atual Sicredi Pioneira RS). A segunda foi fundada no ano de 1933, porém ambas, ainda não eram sedes próprias.
O vice-presidente do Sicredi Pioneira RS, Mário José Konzen apresentou um pouco mais da história da cooperativa para os visitantes presentes.
Tudo começou com a ousadia do padre suíço Amstad, que após ter concluído os estudos na Inglaterra ficou destinado a atuar na região sul do Brasil. Ele percebeu que por meio do cooperativismo e associativismo poderia melhorar a vida da comunidade local.
“O cooperativismo de crédito no Brasil teve inspiração na Alemanha que começou por lá em torno de 1850 e aqui em 1885, com a chegada do padre suíço Amstad no país. Ninguém acreditava no sistema de cooperatismo na época e mesmo com muitas dificuldades o sistema foi avançando aos poucos. Os colonos eram a grande maioria da população, que se dedicavam ao cultivo das terras. Com a criação das cooperativas, os agricultores podiam emprestar dinheiro para comprar sementes e ferramentas de trabalho e desenvolverem suas atividades”, explica Mário Konzen.
Com a imigração alemã crescendo no sul do Brasil, por volta de 1900 foi criada a Associação de Agricultores Bauernverein, a primeira do país que tinha como objetivo zelar pelas condições de vida dos alemães.
De 1902 a 1940 foram constituídas 38 cooperativas do Sicredi, pois foi percebido que o modelo de cooperativismo ajudava as comunidades no desenvolvimento econômico e social.
No entanto, qual a relação da história do cooperativismo do Brasil com os dias de hoje?
A combinação dos elementos de cooperativismo e apoio às comunidades locais fez com que o Sicredi se tornasse algo muito relevante para a sociedade hoje em dia.
O Sistema Sicredi é a décima maior instituição financeira do país. Possui atualmente 3,8 milhões de associados, 1.600 agências, 116 cooperativas, 24 mil colaboradores e está presente em 22 estados brasileiros.
A filosofia do cooperativismo aplicada em mais de 100 anos de história fez com que o lucro não fosse o propósito principal deste modelo de atuação, mas sim o apoio aos cooperados, que são os próprios clientes, num movimento de ajuda mútua para o desenvolvimento econômico e social.
O cooperativismo de crédito difere dos bancos tradicionais, onde os resultados dos mesmos são revertidos somente para os acionistas e a visão é mais focada no crescimento financeiro. Já nas cooperativas, o resultado é pensado no coletivo, com distribuição das sobras financeiras aos associados e apoio às comunidades locais.
No mercado, tanto os bancos quanto as cooperativas de crédito dividem a atenção dos mesmos clientes, que às vezes possuem uma visão limitada e não conhecem a diferença dos modelos aplicados pelas instituições financeiras. Isso ocorre porque os produtos e serviços finais são muito semelhantes. Todos entregam uma conta bancária, opções de empréstimos, financiamentos, consórcios entre outras soluções financeiras. No entanto, vale a pena comparar a diferença de taxas e responsabilidade social de uma cooperativa com um banco tradicional.
Evolução
O Sicredi tem evoluído com o passar do tempo. Antes os principais recursos de trabalho eram a máquina de escrever, autenticadora e somadora. Hoje em dia, as pessoas estão usando cada vez mais a conta online na internet e os aplicativos de celular. Por mais que o atendimento presencial de uma cooperativa seja diferenciado e mais próximo ao cliente, a tendência crescente dos meios digitais está fazendo com que o Sicredi também se adapte às novas tecnologias e inovações.
O MT Econômico visitou o ambiente de inovação do Sicredi que fica sediado no piso superior da universidade PUC RS, em Porto Alegre.
O Tecnopuc, como é chamado esse espaço de inovação da cooperativa na universidade possui cerca de 120 pessoas trabalhando em uma plataforma digital chamada Woop, que é uma conta 100% digital com apoio à gestão financeira pessoal. A plataforma está presente em 12 estados e possui recursos de Big Data, Inteligência Artificial entre outras tecnologias para tornar a experiência cada vez mais “Fisital”, como definido pelos especialistas da cooperativa, que é trazer a experiência do mundo físico para o digital e o digital para o físico.
Blockchain e tendências do sistema financeiro
Durante o Encontro Nacional de Jornalistas promovido pelo Sicredi, na sede de inovação da cooperativa Tecnopuc, o representante do portal de notícias MT Econômico, Alessandro Torres perguntou ao presidente-executivo do Sicredi, João Tavares, como o Blockchain tem sido visto pelo Sicredi, já que a atual tecnologia está promovendo diversas mudanças no sistema financeiro nacional e mundial.
Tavares respondeu que o Blockchain é uma tendência irreversível e o Sicredi tem se preparado para isso.
“Toda operação financeira é registrada de alguma forma com a presença de um intermediário. Estamos participando dos grupos de discussão sobre essa nova tecnologia, pois temos uma crença de que o Blockchain gera uma consistência da operação de transferência de recursos sem a necessidade de um intermediário. E isso, vai mudar como a movimentação de valores é feita hoje em dia. É provável que não haja mais a necessidade de cartão no futuro, pois as transações financeiras poderão ser mais diretas com o uso dessa nova tecnologia”, disse Tavares.
Outra questão estratégica vista pelo presidente do Sicredi é que se as operações financeiras podem mudar é necessário investir cada vez mais no relacionamento com os clientes.
“O relacionamento precisa de fato ser um diferencial competitivo. O Blockchain pode tirar o cartão e diminuir o custo da transferência financeira, mas o relacionamento para ajudar a resolver os problemas econômicos das pessoas deve ganhar cada vez mais importância. No Sicredi priorizamos muito o relacionamento” completa.
O chefe do departamento de supervisão de cooperativas e instituições não bancárias do Banco Central, Harold Paquete Espínola Filho, disse que o Blockchain é realmente disruptivo.
“A legislação por enquanto continua a mesma, mas as instituições mundo afora estão testando a nova tecnologia. O Banco Central do Brasil também tem vários grupos discutindo esse tema. Alguns bancos centrais no mundo criaram um “sandbox”, com algumas regras específicas para testar os projetos de Blockchain”, disse Harold.
O palestrante de inovação presente no evento, Peter Kronstrom, diretor para América Latina do Copenhagen Institute for Future Studies e fundador do Future Lounge disse que o Blockchain vai permitir muitas evoluções.
“Vai ser possível agilizar transações financeiras e também promover soluções para outros segmentos digitais. Poderemos saber por exemplo, com quem o Facebook compartilhou as informações do começo até o final da atividade. Será uma revolução no mercado digital”, finaliza Peter.
Acompanhe abaixo fotos do memorial do Sicredi, na primeira agência própria do Brasil em Nova Petrópolis RS e o Encontro Nacional dos Jornalistas realizado na sede de inovação da cooperativa, Tecnopuc – PUC RS, em Porto Alegre.