O gás natural em Mato Grosso teve o fornecimento suspenso por tempo indeterminado em Mato Grosso. Com isso, pode ser feita a queima de todo o gás que está parado na tubulação, um total de 5 milhões de metros cúbicos (m3), em torno de R$ 4 milhões. Caso o impasse não seja resolvido e ocorra de fato a incineração, o duto do gasoduto deve ser preenchido com nitrogênio para evitar possíveis problemas futuros.
O comunicado foi realizado oficialmente nesta quinta-feira (27) em coletiva de imprensa que ocorreu no auditório da Federação das Indústrias de Mato Grosso – Fiemt.
A empresa Gás Ocidente Mato Grosso – GOM que realiza o transporte no estado, após tentar majorar o valor do serviço em 10 vezes, disse não ter mais interesse em transportar o gás. A GOM é proprietária do trecho brasileiro do gasoduto que traz gás natural da Bolívia para o estado de Mato Grosso.
Conforme levantamento do MT Econômico há uma suspeita de que a interrupção do transporte de gás seja uma retaliação, devido à delação premiada ocorrida durante a Operação Lava Jato, que pode ter atingido interesses escusos de algumas empresas e políticos do alto escalão.
A GOM alega não ter mais interesse na exploração do gasoduto a partir do momento em que a Petrobras deixou de atender a Usina Termelétrica Mario Covas, em Cuiabá, que pertence à Âmbar Energia. Tanto a GOM quanto a Âmbar pertencem ao Grupo J&F, comandada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, os quais estão envolvidos na Operação Lava Jato.
O empresário Joesley Batista declarou durante o processo de delação este ano que o atual presidente da república, Michel Temer (MDB) receberia um percentual dos contratos da Usina Termelétrica de Cuiabá. A própria diretoria de Gás e Energia da Petrobras foi o alvo inicial da operação que desmascarou inúmeros políticos, partidos e empresários no país.
O contrato com a Petrobras era necessário porque a Bolívia não tem disponibilidade contratual para fornecer o gás necessário para o funcionamento da usina – mas tem um contrato de fornecimento com a estatal. Com isso, uma fração do gás comprado pela Petrobras era revendido à Âmbar. Após desdobramentos de denúncias relacionadas ao grupo J&F na Operação Lava-Jato, a Petrobras suspendeu o acordo, alegando questões de compliance.
A medida foi adotada em abril deste ano e após liminar da MT Gás, empresa de economia mista que administra o gás no estado, foi possível a prorrogação do fornecimento até julho, conforme o MT Econômico tinha citado anteriormente. No entanto, de julho até o presente momento não houve mais possibilidade de evitar a suspensão.
A Federação das Indústrias de Mato Grosso – Fiemt estuda a possibilidade de entrar com uma ação civil para tentar resolver a situação.
“A corrupção de Brasília, a Operação Lava Jato e a insegurança política está trazendo caos para as indústrias de Mato Grosso”, segundo o presidente da Fiemt, Jandir Milan.
Com a paralisação no fornecimento do gás mais de 40 indústrias de Cuiabá e Várzea Grande estão amargando prejuízo e corre-se o risco de haver demissões de funcionários em breve.
O estoque atual de gás no estado daria para apenas 3 anos de consumo, porém é importante ressaltar que quanto mais vazio ficam os compartimentos de armazenagem, mais aumenta o risco de explosão, devido à questões químicas. Portanto, o gás deve ser incinerado em breve, caso o impasse não seja resolvido.
O consumo de gás natural no estado ainda é pequeno, apenas 100.000 m3 por mês, sendo que o estado vizinho, Mato Grosso do Sul, consome 700.000 a cada dia, totalizando em média, 20 milhões de m3 por mês.
O baixo consumo no estado, segundo empresários e representantes do setor industrial é em decorrência da instabilidade jurídica e política no fornecimento do gás. Com isso, muitas indústrias do estado acabam usando a energia elétrica convencional, mesmo Mato Grosso tendo a segunda energia mais cara do país. Outra fonte utilizada para substituir o gás natural na indústria é o gás GLP, que é cerca de três vezes mais caro que o natural.
“Muitos investidores deixam de investir no estado por conta da instabilidade no fornecimento de gás”, disse Daniel Locatelli, proprietário de distribuidora e transportadora no estado.
Segundo estudos do Senai, o potencial de consumo da região metropolitana de Cuiabá é de 3 milhões de m3 por mês, número bem maior do que o atual consumo de 100.000 m3 por mês.
“As indústrias só conseguem verticalizar a produção se tiverem uma matriz energética mais barata e competitiva”, disse Juliano Muniz Calçada, diretor da MT Gás.
Táxis e Ubers afetados
Além das indústrias, os transportadores de pessoas físicas (táxis e ubers) que utilizam o gás natural em seus veículos também foram afetados. Hoje são cerca de 1.500 motoristas na grande Cuiabá que utilizam esse meio para substituir o alto preço do combustível no mercado local.
Outro setor afetado é o de instalação do kit gás nos veículos. Dos 12 estabelecimentos especializados hoje em dia só resta 1.
Desenvolvimento do Gás Natural em MT
Ficam então algumas perguntas para serem refletidas. Por que em outros estados o gás natural se expande cada vez mais e em Mato Grosso só reduz a cada dia? Por que o gás não entra na pauta de prioridades para se tornar uma matriz energética de relevância no estado, visto que temos a segunda energia elétrica mais cara no país? O que pode ser feito de fato para o setor se desenvolver?
No período eleitoral que estamos vivendo, onde se fala muito em investimentos na educação, saúde, segurança e incentivo à industrialização, talvez seja o momento do próximo governo pensar em algum projeto em parceria com a iniciativa privada para tentar desenvolver o gás natural de forma mais ampla e com maior segurança jurídica e política, visando diminuir o custo das indústrias, visto que a expansão do gás influencia diretamente no gasto de energia. Com a redução desse custo, as indústrias poderiam ter mais competitividade e gerar emprego e renda, pois movimentaria diversos setores da economia fomentando o desenvolvimento econômico e social.