Os custos de transporte seguem em elevação em diversas praças do país, acompanhando o ritmo recorde de movimentação de grãos e insumos. A combinação entre exportações aquecidas, forte demanda por caminhões e concentração da colheita da segunda safra de milho tem pressionado os fretes, que apresentam tendência de alta em importantes regiões produtoras. Esse cenário é detalhado na edição de agosto do Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Em Mato Grosso, o mercado de fretes rodoviários registrou aumento de preços ao longo do mês, como resposta ao processo de colheita da safra recorde de milho. Cerca de 70% da área de milho segunda safra foram colhidas, perfazendo um total de 95% ao término de julho. “Trata-se de injeção considerável de oferta, que tem ocasionado grande movimentação, em termos de transporte rodoviário. Essa maior oferta de produto a ser escoado tem acarretado maior demanda por caminhões, fato que, além de elevar as cotações no mercado de fretes tem alterado a dinâmica de escoamento com maior predileção momentânea por parte dos transportadores, em realizarem tiros mais curtos, em detrimento dos mais longos, como para portos, de modo a promover maior giro à frota. Este mecanismo contribui para que os preços não subam tanto, pois, de certa forma, não ocorre tanto enxugamento de oferta de caminhões, a exemplo do que ocorreria caso maiores, viagens fossem realizadas. É uma forma de o mercado se adaptar à situação de descompasso entre grande demanda por transporte e oferta relativamente inelástica no curto prazo, fazendo com que os preços não sofram tanta alteração”, explicam os analistas da Conab.
É importante destacar que o movimento de alta nos preços tem acontecido de forma gradual ao longo dos últimos meses, conforme observa a Conab. Enquanto na reta final do primeiro semestre, nos meses de abril e maio houve uma certa urgência e corrida para se esvaziar parte dos armazéns ocupados com a soja de verão, para recebimento do milho de segunda safra, já que em junho houve entrada deste produto movimentando o mercado. “Assim, por se tratar de um processo gradual de aumento, o acréscimo ocorrido nos preços foi moderado. Outro ponto que suavizou a curva de elevação foi a retração comercial momentânea do mercado, tanto para a soja quanto para o milho, como reflexo dos preços não tão favoráveis ao produtor para comercialização neste momento e a aposta para negociação em momento futuro, em melhores condições comerciais. Sem tanto ímpeto mercadológico, o escoamento se restringe a compromissos previamente firmados e àqueles necessários para dar giro e caixa às atividades. Esse fato tem como resultado, além de limitar maiores altas no pico da safra, também promover uma melhor distribuição do escoamento, potencialmente, ao longo do segundo semestre, o que indica que eventuais reduções de preços ao longo da entressafra não serão tão abruptas, mas moderadas, com manutenção de algum suporte às cotações.
CULTURAS – No caso do milho, mesmo com perspectivas favoráveis de produção mundial e safra recorde de 137 milhões de toneladas no Brasil, os preços internos permanecem sustentados pelo elevado consumo doméstico, estimado em 90,2 milhões de toneladas. A demanda, somada ao atraso na colheita da segunda safra, retardou a entrada do cereal nos armazéns e ajudou a manter o mercado firme. O ritmo das exportações também reforça a pressão logística: apenas em julho foram embarcadas 2,43 milhões de toneladas, contra 370 mil no mês anterior, acumulando 11,9 milhões de toneladas no período de janeiro a julho. O porto de Santos concentrou 24,7% dessa movimentação, enquanto os portos do Arco Norte reduziram participação para 34,7%. Já Paranaguá, São Francisco do Sul e Rio Grande ampliaram a presença nas exportações.
Para a soja, produtores têm preferido negociar contratos com entrega futura, apostando na expectativa de redução nos preços dos fretes com a maior disponibilidade de caminhões nos próximos meses. Apesar do bom desempenho nas exportações — 77,4 milhões de toneladas de grãos embarcadas entre janeiro e julho —, o encarecimento logístico é apontado como entrave à comercialização no curto prazo. A demanda chinesa segue como principal motor das exportações brasileiras, favorecidas ainda pelo cenário internacional, que reduziu a competitividade da soja argentina. Pelo Arco Norte passaram 38,2% das exportações nacionais, e pelo porto de Santos, 35,9%.
No segmento do farelo de soja, o mercado doméstico segue aquecido, com a indústria nacional de esmagamento absorvendo 57 milhões de toneladas da oleaginosa em 2025, frente a 52,7 milhões no ano anterior. Essa demanda interna tem sustentado os preços, ao mesmo tempo em que as exportações acumulam 13,3 milhões de toneladas até julho, levemente abaixo do registrado em 2024. Santos e Paranaguá continuam como os principais portos de escoamento.
O boletim também destaca o crescimento nas importações de adubos e fertilizantes, que somaram 24,2 milhões de toneladas entre janeiro e julho, aumento de 8,86% em relação a 2024. Em julho, o volume chegou a 4,8 milhões de toneladas, maior marca para o mês na série histórica. O porto de Paranaguá lidera as entradas, com 6,34 milhões de toneladas, seguido pelos terminais do Arco Norte e de Santos. A alta nos preços internacionais e as incertezas no mercado de nitrogenados, intensificadas pela possível licitação indiana para compra de ureia, têm levado produtores a adiar aquisições, o que pode impactar a disponibilidade de insumos para a próxima safra.
O FRETE – O comportamento dos preços de frete em julho apresentou diferenças entre as áreas monitoradas pela Conab. No Distrito Federal e no Maranhão houve recuo nas cotações em algumas rotas, reflexo da menor demanda de transporte após o fim da colheita de soja e da sazonalidade das operações. Já na Bahia, enquanto praças como Irecê e Paripiranga mantiveram estabilidade, Luís Eduardo Magalhães apresentou tendência de alta, influenciada pelo fluxo de grãos e algodão para portos e mercado interno. Em Minas Gerais, a variação foi heterogênea, com aumento de até 9% em certas rotas e redução em outras, indicando um cenário de ajustes localizados.
Nos principais polos produtores de grãos, prevaleceu a pressão de alta nos preços dos fretes. Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí e São Paulo tiveram incremento nos valores, motivados pela intensificação da colheita de milho e soja, pela elevada demanda de caminhões e, em alguns casos, por reajustes regulatórios da ANTT. Nessas localidades, o encarecimento do transporte tem sido um desafio adicional para os produtores, que buscam equilibrar custos e rentabilidade em meio à movimentação intensa da safra.
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