A União Nacional do Etanol de Milho (Unem), com sede em Mato Grosso, apresentou a defesa técnica do setor na investigação da Seção 301, destacando sustentabilidade, competitividade e liderança global do etanol de milho, na última quarta-feira (3), em audiência pública conduzida pelo United States Trade Representative (USTR), em Washington. O evento avaliou possíveis práticas comerciais do Brasil que poderiam afetar o acesso do etanol norte-americano no Brasil, incluindo tarifas aplicadas de forma assimétrica, acesso a mercados e sustentabilidade ambiental.
Durante a audiência, a diretora de Relações Internacionais e Comunicação da Unem, Andréa Veríssimo, expôs a defesa do setor, articulando dados e argumentos técnicos que evidenciam a natureza justa, sustentável e competitiva do mercado de etanol brasileiro.
A defesa do Brasil tratou de seis pontos centrais: o Brasil não adotou atos, políticas ou práticas que justifiquem sanções sob a Seção 301, os EUA deveriam trabalhar em conjunto com o Brasil para expandir mercados emergentes de uso final e melhorar o acesso a mercados de terceiros, a integração Brasil-EUA no setor de etanol inclui importação de equipamentos, tecnologia e insumos dos EUA, além de participação de empresas americanas em biorrefinarias brasileiras, o comércio bilateral representa uma pequena fração do total de exportações; as tarifas brasileiras de 18% não prejudicam os EUA, sendo inferiores às tarifas americanas propostas sobre o etanol brasileiro e o fluxo de exportações é efetivamente definido por oferta e demanda, não por ajustes tarifários.
Com base nesses pontos, a Unem destacou quatro eixos estratégicos: que as tarifas brasileiras não prejudicam os Estados Unidos, que o fluxo comercial é determinado pela oferta e demanda interna; que o Brasil mantém uma regulação ambiental rigorosa, incluindo produção em áreas agrícolas consolidadas e com base em segunda safra de milho e que a Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) reconheceu os benefícios ambientais do etanol brasileiro para o Combustível Sustentável de Aviação (SAF), reforçando internacionalmente a sustentabilidade das práticas adotadas.
A defesa também explicou que o programa RenovaBio é aberto e transparente, permitindo que produtores de qualquer país, incluindo os EUA, sejam certificados, desde que atendam a critérios técnicos e ambientais rigorosos.
“Focamos em uma defesa técnica e estratégica, não apenas reagindo aos questionamentos sobre tarifas, mas propondo soluções concretas para a expansão do mercado de biocombustíveis e a remoção de barreiras comerciais que impactam o setor. O Brasil tem muito a oferecer no campo da sustentabilidade energética, e nossa participação na audiência foi essencial para abrir portas para um diálogo construtivo com os EUA”, afirmou Andréa Veríssimo.
A audiência foi organizada em sessões temáticas, e a sessão 2, dedicada ao etanol, reuniu a Unem e representantes de entidades norte-americanas de referência, incluindo: Geoff Cooper (Renewable Fuels Association); Chris Bliley (Growth Energy); Kenneth R. Hartman Jr. (National Corn Growers Association); e Linda Schmid (U.S. Grains & Bioproducts Council). O intercâmbio com essas entidades reforçou pontos positivos sobre o etanol brasileiro e situou a defesa da Unem em um debate internacional mais amplo, mostrando convergência em temas como crescimento da produção, ciclo de vida sustentável e expansão de mercados.
Durante a reunião, as testemunhas participantes receberam perguntas dos servidores de diversos ministérios e organizações do governo norte-americano. A pergunta dirigida à Unem foi sobre o eventual impacto que as tarifas impostas pelo Brasil teriam na performance das exportações norte-americanas.
“Aproveitamos para reforçar que o valor de tarifas impostas pelo Brasil aos Estados Unidos não tinha impacto, como exemplificado em nosso testemunho. Em momentos de tarifa zero, as exportações foram muito menores do que em momentos de alta tarifação. Além disso, como maiores produtores de etanol do mundo, não deveríamos estar aqui discutindo comércio entre nós. E sim, trabalhando para garantir que nossas práticas produtivas e de sustentabilidade sejam aceitas nos em torno de 200 países do mundo que precisam importar etanol”, destacou ainda Veríssimo.
POTENCIAL DE CRESCIMENTO – A Unem ainda enfatizou o enorme potencial de crescimento do etanol brasileiro em novos mercados de uso final, como o SAF (combustível sustentável de aviação e para o setor marítimo, que devem representar mais de 75% da demanda adicional por biocombustíveis até 2030. Ao mesmo tempo, alertou para barreiras discriminatórias persistentes em mercados terceiros, como União Europeia, Tailândia e Índia, reforçando a importância da cooperação bilateral e da abertura de mercados globais.
PRÓXIMOS PASSOS – A entidade seguirá acompanhando o processo da Seção 301, que inclui análise detalhada das manifestações, revisão de evidências e possíveis recomendações do USTR. Na próxima semana, todos os participantes poderão enviar novos comentários após a audiência pública. A atuação da Unem mantém a credibilidade técnica e institucional do setor, consolidando o Brasil como referência global em etanol e combustíveis sustentáveis.
“Nosso objetivo é que ambos os países se beneficiem com a expansão do mercado de biocombustíveis, uma área em que temos um enorme potencial de crescimento, tanto no Brasil quanto no mercado global. A Unem continuará defendendo a competitividade e sustentabilidade do etanol brasileiro, garantindo liderança institucional do país em fóruns internacionais”, acrescentou Guilherme Nolasco, presidente executivo da Unem.
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