Desde 6 de agosto, estão em vigor as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, marcando um dos momentos mais delicados das relações comerciais e diplomáticas entre os dois países.
Neste contexto desafiador, o governo brasileiro tem intensificado esforços para mitigar os efeitos econômicos da medida, buscando alternativas comerciais, mobilizando instrumentos jurídicos e reforçando a diplomacia em fóruns internacionais. As negociações com novos parceiros comerciais, como União Europeia, México, Canadá e países asiáticos, ganham protagonismo como parte da estratégia de diversificação.
Em boletim internacional, o Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) traz uma análise sobre os desdobramentos da crise, seus reflexos para as cooperativas brasileiras e os caminhos possíveis para superar esse cenário adverso.
“O cenário internacional segue instável, mas também abre oportunidades para reposicionamento estratégico do Brasil e do cooperativismo nos mercados globais. Neste contexto, o Sitema OCB segue acompanhando de perto as mudanças no comércio internacional; monitorando impactos econômicos e setoriais; apoiando cooperativas na diversificação de mercados e atuando junto ao governo, Congresso e organismos internacionais pela defesa do setor”, destacam os analistas responsáveis pelo boletim.
A continuidade da atuação diplomática do Brasil será essencial para construir uma solução negociada que minimize os efeitos das tarifas. Contudo, o sucesso dessas tratativas dependerá em grande medida da disposição política do presidente Donald Trump.
“O momento exige coesão institucional, estratégia e pragmatismo, para que o cooperativismo siga competitivo mesmo diante de desafios geopolíticos e comerciais”.
A MEDIDA – A tarifa de 50% combina uma taxa base de 10% com um adicional de 40%, imposta via Ordem Executiva.
A decisão foi justificada com base na IEEPA (International Emergency Economic Powers Act), lei que autoriza o presidente a regulamentar o comércio internacional após declarar uma emergência nacional em resposta a qualquer ameaça incomum e extraordinária aos Estados Unidos. Produtos como aço, alumínio, carne, café, frutas e sucos estão entre os mais afetados.
A medida teve impacto imediato nas exportações brasileiras, com queda de 18,5% nas vendas para os EUA em agosto.
O setor agropecuário está sendo diretamente atingido, especialmente os segmentos de proteína animal, café, grãos e frutas.
Alguns atores reduziram preços para manter mercados, com impactos sobre a margem de lucro e sustentabilidade da produção
“O Sistema OCB tem monitorado o cenário, articulado com autoridades e prestado orientação às cooperativas afetadas”.
DIVERSIFICAÇÃO DE MERCADOS – Com o avanço das tarifas impostas pelos EUA, cresceu o consenso entre países exportadores sobre a necessidade de reduzir dependência do país norte-americano.
Neste contexto, a estratégia do governo brasileiro inclui redirecionar exportações para mercados como:
– União Europeia, Mercosul, China, Japão, México e Países Africanos.
– Em agosto, mês da entrada em vigor das tarifas, as exportações brasileiras para a China cresceram 31%, para o Mercosul quase 28%, para o México 43% e para a Índia 58%.
– Essa diversificação resultou em aumento de 3,9% na balança comercial brasileira em agosto.
PREÇOS GLOBAIS – “É importante destacar que o aumento do preço internacional compensou a queda nas exportações de proteína bovina do Brasil aos EUA em agosto deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado”.
Além disso, o preço internacional do café já subiu 28%. Neste cenário, o Brasil ganhou mais vendendo menos. Se comparamos os meses de agosto deste ano com 2024, as exportações do grão brasileiro para o mundo caíram 30%, para 149 mil toneladas, mas os vendedores receberam 2% a mais.
De toda forma, apesar dos resultados positivos e da importância de diversificar mercados, o setor produtivo e o governo já sinalizaram que continuarão com as articulações para reduzir, ou derrubar, os impactos das tarifas impostas pelos EUA.
MERCOSUL/UNIÃO EUROPEIA – No início de setembro, a Comissão Europeia aprovou o texto do Acordo Mercosul–UE. A aprovação é o primeiro passo antes de submeter o tratado de livre comércio aos Estados-membros e aos eurodeputados nos próximos meses.
A expectativa é que o tratado seja assinado no início de dezembro, durante a cúpula do Mercosul. Diante das tensões com os EUA, a UE tem procurado fechar acordos comerciais rapidamente para reduzir os impactos das tarifas.
Se aprovado, criará a maior zona de livre comércio do mundo, com PIB conjunto de US$ 22 trilhões.
O acordo tem grande potencial para absorver parte das exportações brasileiras redirecionadas, especialmente do agro e da indústria. Contudo, o acordo poderá aumentar a entrada de produtos europeus no mercado brasileiro.
OS MERCADOS:
– Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA): Nessa semana, Mercosul e a EFTA, formado por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, assinaram um acordo de livre comércio que criará uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) agregado de mais de US$ 4,3 trilhões.
– México: O Brasil tem buscado fortalecer as relações políticas e ampliar os laços comerciais e de investimentos entre as duas maiores economias da América Latina. Neste contexto, com a recente visita do Vice-presidente Geraldo Alckmin, o governo espera destravar oportunidades em áreas como indústria, agronegócio, saúde e tecnologia.
– Canadá: Entre 10 e 12 de setembro, o governo brasileiro participou de uma missão empresarial em Toronto, com o objetivo de retomar as negociações para um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e o Canadá. Um estudo da ApexBrasil identifica o mercado canadense como estratégico para diversos produtos brasileiros, como aeronaves, itens semimanufaturados de ligas de aço, sebo de bovinos, ovinos e caprinos, e castanhas da Amazônia.
– Japão: Em 11 de setembro, foi realizada a 15ª Reunião do Comitê Conjunto de Promoção do Comércio e Investimentos e Cooperação Industrial entre Brasil e Japão. Na oportunidade, foi apresentado um posicionamento conjunto em apoio à retomada das negociações do Acordo de Parceria Econômica entre o Mercosul e o Japão.
IMPACTOS INTERNOS NOS EUA – Os preços ao consumidor americano de produtos importados do Brasil têm subido de forma significativa. Por exemplo, entre abril e agosto, o café subiu 9,8%, a banana 4,9%, joias e relógios 5%, televisões 3,1% e brinquedos 2,5%.
Lojas nos EUA relatam já estar repassando custos ou absorvendo perdas, enfrentando margens mais apertadas.
O índice de preços ao consumidor (CPI) mostra que os alimentos importados e bens de uso diário estão pressionando famílias de baixa e média renda, que têm menor capacidade de absorver essas altas.
Empresas americanas têm manifestado preocupação com rupturas na cadeia de suprimentos, aumento de custos logísticos e incerteza regulatória. Isso tem gerado impacto nos estoques, nos planos de compras internacionais e em planejamento de longo prazo.
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