A 2ª edição do Coopera + MT começou ontem, 23 de setembro no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, com um recado direto do economista e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman: a agropecuária segue como o motor de produtividade do país e, por isso, consegue absorver melhor pressões salariais sem perder competitividade.
“Enquanto o restante da economia não entrega crescimento de produtividade, o agro entrega. Por isso, ele tem condições de absorver mais o impacto dos salários sem prejudicar o setor”, afirmou ele.
Segundo Schwartsman, o ganho de eficiência no campo resulta da rápida absorção de tecnologia e da integração profunda ao comércio internacional. “É um dos segmentos brasileiros mais inseridos no mundo. Essa inserção, somada ao desenvolvimento tecnológico, eleva a produtividade muito acima da média”, disse ao MT Econômico. A mecanização, acrescentou, ajuda a explicar por que o setor emprega menos pessoas do que em 2012, mas produz muito mais, com base em dados da PNAD/IBGE.
O economista avaliou que o desemprego está baixo e que o desafio é político: “Os segmentos mais dinâmicos, como a agricultura, precisam ter maior participação na formulação de políticas. Hoje prevalecem interesses que nem sempre representam os setores mais modernos da economia.”

EUA, DÓLAR E BRASIL – Ao comentar o cenário externo, Schwartsman apontou uma “mudança radical” na política econômica dos Estados Unidos, com afrouxamento fiscal, elevação de tarifas e desmonte institucional. Para ele, o movimento tende a prejudicar o crescimento e contribui para o enfraquecimento global do dólar.
No Brasil, disse, os efeitos de um estímulo fiscal baseado em transferências impulsionaram o consumo, mas já bateram no limite da capacidade de produção, o que pressiona a inflação e exige juros elevados. O avanço das despesas, sem contrapartida de corte de gastos ou alta de impostos, elevou a dívida pública. “Quem assumir o governo federal no próximo ano terá de controlar o crescimento das despesas. A agenda é conhecida: rever aumentos reais do salário mínimo, redesenhar programas sociais e repensar vinculações orçamentárias. Falta coragem para fazer”, disse.
Sobre o chamado “tarifaço” norte-americano, ele ponderou que o impacto relativo sobre o Brasil é modesto, mas virou “desculpa para gastar mais e acionar o BNDES”, além de alimentar disputas político-partidárias.
CASA CHEIA E FOCO EM NEGÓCIOS ENTRE RAMOS – Organizado pelo Sistema OCB/MT, o Coopera + MT tem como tema “Cooperativismo e Economia: Construindo um modelo de negócio competitivo e sustentável”. A organização registrou 550 inscritos e 467 participantes na abertura.
Para Frederico Azevedo, superintendente do Sistema OCB de Mato Grosso, a segunda edição consolida o encontro como referência no Centro-Oeste. “Superamos as expectativas graças à qualidade do conteúdo. Pela manhã, tivemos o cenário econômico com o Alexandre Schwartsman; à tarde, painéis de governança, reforma tributária, sustentabilidade e negócios, para transformar as reflexões em soluções práticas”, afirmou em entrevista ao MT Econômico.

O dirigente destacou que o objetivo é estimular parcerias entre ramos, produção com crédito, transporte com agropecuária, trabalho com saúde, para ampliar a geração de valor dentro do próprio ecossistema. Segundo ele, os números do cooperativismo mato-grossense evoluíram de R$ 40 bilhões para R$ 47 bilhões em um ano, e a integração entre as cooperativas pode acelerar esse avanço.
Dirigentes ouvidos no evento reconhecem preocupação com a conjuntura internacional, mas apontam estratégias de diversificação. Entre as prioridades estão o maior acesso a mercados asiáticos, com ênfase em países como a Índia, e prudência em novos investimentos até que o cenário se torne mais previsível.
Há ceticismo quanto à capacidade do Mercosul de atuar como bloco plenamente integrado nas negociações, o que reforça a busca de acordos e missões comerciais setoriais, casos de soja, algodão e café, para abrir portas e ganhar escala fora do eixo tradicional.
Quer acompanhar as principais notícias de Economia, Política e Negócios de Mato Grosso? Clique aqui e entre no grupo