A agricultura familiar dá passos largos nos talhões da perenidade. O modelo sustentável de desenvolvimento de pequenos produtores consagrado no Sul e implantado em inúmeras propriedades Brasil afora amadureceu exponencialmente nos últimos anos e se consolida como uma agricultura que dá certo, no coração do país. O assistencialismo em assentamentos esparsos e isolados de outrora vai cedendo lugar a um segmento arrojado, que busca crédito e conhecimento para produzir mais e melhor, com uma renda à altura da fé e do suor de milhares de famílias.
Da porteira para dentro da agricultura familiar, fatores econômico-financeiros impõem, sem dúvidas, uma estrutura de logística e um ambiente de negócios desafiadores. Mas há novas luzes – e, felizmente, mais fontes financiadoras – sobre o setor. No novo Plano Safra, anunciado no início de maio pelo governo federal, à agricultura familiar é reservado um quinhão de R$ 30 bilhões em recursos para a safra 2016-2017. O volume é R$ 1,1 bilhão maior que o da safra anterior.
O Plano Safra visa fortalecer a agricultura familiar através da oferta de crédito, estimulando a produção de alimentos agroecológicos, do extrativismo e de produtos que integram a cesta básica de alimentos de consumo dos brasileiros. Entre as medidas, está o apoio ao cooperativismo. Serão ofertados, por meio do Programa Ater Mais Gestão, apoio a 840 associações e cooperativas da agricultura familiar. Também serão desenvolvidas ações de apoio à produção das mulheres rurais. Mostras de que os pequenos agricultores não querem apenas crédito. Eles também têm fome de assistência e conhecimento.
No Sicredi, maior sistema de cooperativas de crédito do Brasil, a agricultura familiar há muito é prioridade. Mais precisamente, há 113 anos. O apoio a esse segmento de produtores é a razão da fundação da primeira cooperativa de crédito brasileira, em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, importante referência ao cooperativismo e ao Sistema Sicredi. Para a instituição financeira cooperativa, olhar para a pluralidade no campo e na cidade e apoiar, respeitar e fomentar iniciativas junto a diferentes pessoas, segmentos e empresas, de todos os portes, é a chave para o desenvolvimento econômico e social sustentável. Mais que um belo discurso, uma prática consagrada junto a 3,1 milhões de associados, pertencentes a comunidades em 11 Estados brasileiros.
Os números estratificados conferem acreditação ao apoio efetivo do Sicredi à agricultura familiar de Mato Grosso e região. As liberações de recursos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) via Sicredi a produtores de Mato Grosso, Pará e Rondônia cresceram 105% em 2015. Foram R$ 108,3 milhões liberados no ano passado ante R$ 52,8 milhões em 2014. O desempenho do saldo em carteira do Pronaf reafirma a alta na demanda da agricultura familiar por crédito sustentável: de R$ 151 milhões em 2014, este saldo subiu para R$ 239 milhões no consolidado de 2015, alta substancial de R$ 173 milhões em números absolutos (88%).
O propósito de nossa instituição cooperativa, representada em nossa região pela Central Sicredi Centro Norte, é seguir avançando cada vez mais no fomento à agricultura familiar. A extensa capilaridade de nossa rede de atendimento é um insumo precioso para isso. O Sicredi reúne 160 pontos de atendimento em Mato Grosso, Pará e Rondônia. E em mais de 20 municípios mato-grossenses, é a única instituição financeira presente, atendendo a pessoas físicas, empresas e produtores rurais de todos os portes.
As cooperativas de crédito, sabiamente, acreditam na força da união entre pessoas. Reduto de fomento a quem quer e precisa empreender, elas oportunizam à agricultura familiar mais que crédito: uma nova perspectiva de desenvolvimento em sua plenitude econômica, social e ambiental.
*João Carlos Spenthof é presidente da Central Sicredi Centro Norte e vice-presidente da Organização das Cooperativas do Brasil em Mato Grosso (OCB-MT)