Lembrando que esta é uma série de artigos e pretende abordar perfis ou cenários de alguns aspectos do mundo após a crise de pandemia do corona vírus.
Antes, é preciso voltar à segunda metade do século 19 quando surge a revolução industrial e com ela o trabalho assalariado formal. Ali o homem livre que vivia em torno da terra, do comércio, do artesanato e de pequenos afazeres se transforma em assalariado. Isso evoluiu ao longo dos 170 anos que se seguiram. Chegamos ao agora. O trabalho segmentado em milhares de atividades profissionais. Regimes legais de trabalho em quantidade.
Na esteira desse segmento profissional a composição de classes sociais e o consumo. O salário virou sinônimo de consumo à medida que o tempo passou. Vieram as escolas, as universidades e a educação voltada pro trabalho. Aos poucos esse sistema de trabalho fragmentou todo o sistema social. O consumo estabeleceu classes sociais. Os rendimentos criaram ilhas de prosperidade. A posse dos bens criou elites controladoras desses sistemas.
Enfim, num certo momento as tecnologias subverteram toda essa lógica. Fragmentou a sociedade em pequenos grupos e deu-lhes identidades novas protegidas por telas digitais. A crise do corona vírus vem agora e põe um limite nisso tudo. Inesperadamente a interrupção de atividades econômicas, o desemprego definitivo ou temporário. Surge uma expressão que já vinha há décadas rondando o sonho de empresas e de empregados: trabalhar em casa, o home office.
Inevitável diante da paranoia da pandemia. Mas a crise acabará em breve. O futuro do trabalho passa a ser uma grande questão. Lembra o início da revolução industrial a partir de 1850. Há que se reinventar os sistemas do trabalho. A chamada mão-de-obra, a força do trabalho do início, já não faz mais sentido. As máquinas vindas da tecnologia farão completamente esse papel. Aí resulta a pergunta: que papel terá o ser humano nesse mundo pós-pandemia? Os sistemas comerciais e negociais do mundo sairão profundamente transformados. Logo, o trabalho precisará ser reinventado. Como, em tão pouco tempo?
Além do home office, as tarefas serão feitas por máquinas movidas a inteligência artificial e conduzidas pela robótica. Onde caberá a mão humana? Ou o cérebro humano? A resposta não está pronta. Vai depender das ações estratégicas da política, dos governantes e dos governos, da educação fundamental, da educação técnica e das universidades. Ocorre que a produção vai demandar novas tecnologias e a cada momento o ser humano será distanciado daquilo que fez ao longo de toda a História humana.
Deixo uma questão final. A que pode mal tentar responder às angústias das perguntas sobre o futuro papel do Homem no planeta: o novo ser humano pós-pandemia nesse momento e nos anos próximos terá aproveitamento econômico? Senão, que papel lhe caberá? Ou, pra encerrar: que ser humano será esse que tende a parecer mais zumbi do que gente? Grandes questões pra serem colocadas na mesa dos pensamentos humanos. Uma possível resposta está ligada aos novos papeis que terão a política, a economia e a nova sociedade humana…! O tempo é de rupturas imprevisíveis.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso