A conjuntura econômica ainda instável após o novo coronavírus tem mantido o pecuarista mato-grossense cauteloso. Divulgada nesta segunda (18), a intenção de confinamento apurada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) em abril mostra uma retração de 16,45% em relação ao mesmo período de 2019. Análise mais detalhada dos números, no entanto, sinaliza opções para que o mercado da carne em Mato Grosso reduza o impacto da crise.
O primeiro levantamento das intenções de confinamento em Mato Grosso para 2020 indica que apenas 53,6% dos pecuaristas ouvidos pelo Imea planejam confinar neste ano. O estudo aponta para um rebanho de 577.550 animais a serem confinados, número 29,93% inferior ao volume confinado em 2019, que foi de 824.225 animais.
"O primeiro elemento de preocupação do pecuarista é o custo de produção em confinamento. Os insumos relacionados à nutrição animal e a aquisição de animais para engorda aumentaram e podem negativar a rentabilidade do confinamento", contextualiza o zootecnista Bruno Andrade, especialista em confinamento. Além disso, ele afirma haver uma expectativa de redução no consumo interno de carne bovina, devido aos impactos econômicos gerados pela Covid19. "Já em relação às exportações, o cenário, hoje, é positivo", pontua.
Apesar do levantamento indicar uma retração na intenção de confinamento, Bruno Andrade enxerga no estudo do Imea algumas oportunidades para o mercado da carne em Mato Grosso. Uma delas é o fato de que 43,6% dos pecuaristas ainda não adquiriram seus animais para o processo de engorda em confinamento. "Não deixa de ser uma oportunidade, pois o comportamento do mercado está sendo construído dia a dia, e a carne de Mato Grosso tem ativos sólidos, que se tornam mais valiosos em uma conjuntura onde importantes produtores diminuem o ritmo de abate e se discute a questão sanitária da produção".
De acordo com o zootecnista, o maior ativo é a qualidade da carne produzida em Mato Grosso. Além da grande capacidade quantitativa de produção, o estado é reconhecido pela excelência da carne que entrega ao consumidor final – fruto de investimentos que vêm sendo realizados há décadas no setor. "Temos o maior rebanho e Mato Grosso é o segundo estado brasileiro que mais confina. Aprendemos a produzir uma carne de grande qualidade", pondera Bruno Andrade.
Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atestam essa qualidade. De 1999 a 2019, o peso da carcaça do boi mato-grossense aumentou 39,6%, superando a variação nacional, de 15,8%. Além de um crescimento consistente ao longo desses 20 anos, Mato Grosso tem um desempenho superior à média nacional: enquanto, em média, o boi em Mato Grosso rende 20,8 arrobas por carcaça, a média nacional é de 19,29 arrobas por carcaça. "Em outras palavras, isso pode significar melhor genética, mais manejo e suplementação nutricional sendo empregados nas fazendas mato-grossenses", explica.
Além da qualidade propriamente dita da carne de Mato Grosso, o especialista identifica outra oportunidade nos números divulgados pelo Imea. "Ainda há espaço para bons negócios, principalmente para quem faz o dever de casa", afirma. E esse dever de casa, além da gestão rural propriamente dita, inclui escolher ferramentas para intensificar a produção com uma melhor relação custo/benefício para o criador.
"O confinamento em si é uma dentre várias alternativas. O pecuarista consegue obter animais com mais qualidade investindo em suplementação alimentar, realizando semi-confinamento ou integração lavoura-pecuária, por exemplo", comenta o zootecnista. A disponibilidade de proteína para a dieta animal, e a preços mais acessíveis que em outros estados, é uma vantagem que deve ser aproveitada.
Lançar mão de mecanismos de proteção de preço, como a negociação em bolsa ou via contratos a termo devem estar no rol de opções do produtor. O levantamento do Imea indica um leve aumento no número de pecuaristas que utilizam proteção via B3, somando apenas 6,31% do total de entrevistados. "Neste momento, produtor e indústrias estão sem saber como avaliar o mercado interno, o que explica esse comportamento mais cauteloso", analisa o zootecnista.
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