A imensa crise causada no Brasil e no mundo pela epidemia do coronavírus tem deixado um número muito maior de vítimas do que se poderia imaginar inicialmente. Não me refiro apenas às mais graves, que perdem a saúde ou até mesmo a vida, mas também aos milhões de cidadãos que terão suas vidas impactadas por anos, talvez décadas, por esta pandemia global.
O mundo subestimou o vírus quando elaborou a agenda para 2020. As projeções econômicas dos mais diversos especialistas não enxergaram o tamanho nem o efeito ao longo do tempo que esta, que já é a mais grave crise de saúde mundial da história moderna, causaria no cenário econômico mundial. Bolsas de valores despencam, economias se deterioram, governos gastam fortunas tentando aliviar os efeitos da crise. Alguns países chegam a comprometer 20% do seu PIB em apoio aos impactados pelo vírus, mas ainda sem conseguir mitigar completamente seus efeitos. No Brasil, com um PIB estimado em R$ 7 trilhões, a estimativa é de que seja necessário mais do que isso: R$ 2 trilhões.
Mais do que o valor a ser gasto, a mudança de rumo causada pelo vírus nos assusta. Enquanto o Brasil vinha de um 2019 de imenso esforço de ajuste fiscal, com uma agenda de reformas profundas e estruturantes para 2020, a epidemia fez o Governo Federal mudar completamente o rumo da condução econômica. A austeridade com as contas públicas ficou em segundo plano diante da necessidade de preservar a integridade da estrutura econômica e produtiva do país.
A agenda de reformas estruturais que tornariam o país mais competitivo, com profundas alterações no setor público, privatizações e modernizações, também teve que ser postergada. O capital político consumido para implementar medidas defendidas pelo governo federal foi maior do que o esperado, inviabilizando novas investidas políticas por mudanças neste ano.
Uma pesquisa com mais de 400 empresas relata algo muito preocupante: o limite de sobrevivência delas ao fechamento das atividades é algo em torno de 30 a 60 dias. Diante do cenário de promoção do isolamento, teremos um imenso número de empresas que não suportarão economicamente o lockdown e fecharão as portas, se nada mais for feito.
Então, é hora de fazer algo: proteger nossa economia para que a saúde tenha seus 90 ou 120 dias de trabalho contra o vírus, e possamos todos, ao fim deste período, estar vivos para começarmos nossa recuperação econômica. Se não fizermos, o colapso econômico deixará um rastro de destruição que pode demorar mais de uma década para ser recuperado. Medidas urgentes precisam ser tomadas, pois o brasileiro precisa de saúde, emprego, renda, atividade econômica e prosperidade. No Sistema Fiemt, o mês de maio foi marcado por uma decisão duríssima: o fechamento de unidades do Sesi e Senai em Cáceres, Barra do Garças e Juína, com desligamento de 198 pessoas – tudo em decorrência do corte na contribuição compulsória das indústrias ao Sistema S e à redução de atividades industriais provocada pela pandemia.
Por isso, precisamos mudar o foco do que não temos para o que temos na mão. Sair da apatia e partir para a proatividade, com todos os cuidados possíveis, com inteligência e responsabilidade. Precisamos nos proteger, como sociedade, dos efeitos devastadores da crise imediata. E isso inclui a iniciativa privada e também o setor público, que precisa olhar para dentro e fazer os ajustes necessários, em todos os poderes.
Passada a fase aguda, planos de reconstrução e retomada da atividade econômica precisarão também ser implantados, mitigando os efeitos de longo prazo que a crise vai nos deixar. Já temos uma previsão de queda do PIB para este ano na casa de 5,5%, de acordo com o FMI. O cenário é de uma recessão sem precedentes no último século, que vai requerer estratégia, ousadia, inteligência e profissionalismo para ser superado.
Muitas empresas já encerraram suas atividades. E muitas outras precisarão mudar seus perfis de atuação, caso contrário também terão dificuldades para sobreviver, pois haverá certamente uma profunda mudança no perfil de consumo das pessoas e uma grande reorganização na estrutura produtiva do país. Novas estratégias e novos modelos de negócio serão necessários no pós-crise.
O caminho para a recuperação econômica será ainda mais difícil se o país não tiver tração política para implantar as medidas que, se antes eram necessárias, agora são imprescindíveis. O momento, portanto, requer sobriedade política e foco total na construção de um caminho para o pós-crise. Não temos espaço para o enfraquecimento de instituições e dos poderes constituídos.
Tal e qual um grande dinossauro que avançou sobre nós, esta epidemia tem nos destruído e nos modificado de muitas maneiras, e deve continuar conosco durante todo o ano. Por mais que esse dinossauro vá embora logo, a má notícia é que a sua cauda é longa, e continuará sendo arrastada e provocando danos entre nós por muito tempo.
Gustavo de Oliveira é presidente do Sistema Fiemt.
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