O Conselho Estadual de Pesca (Cepesca) apresentou a metodologia usada por pesquisadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para avaliar os efeitos de implantação de empreendimentos hidrelétricos da região hidrográfica do Paraguai.
Os estudos técnicos foram realizados pela Embrapa Pantanal e instituições parceiras, inclusive de outros estados do país. O projeto de pesquisa foi solicitado pela Agência Nacional de Água (ANA) e desenvolvido pela Fundação Eliseu Alves, contratada pela ANA.
Pesquisadores de diferentes instituições especialistas em ictiofauna e pesca mostraram um histórico do projeto de pesquisa para os conselheiros do Cepesca, outros Conselhos estaduais convidados e sociedade em geral.
“Os estudos foram realizados em uma escala nunca antes executada no Brasil em nível de uma grande bacia hidrográfica. Foi um grande desafio que proporcionou inúmeras experiências e informações na sua execução”, afirmou a secretária executiva do Cepesca, Gabriela Priante, que conduziu a reunião online.
Agostinho Catella, pesquisador da Embrapa Pantanal, contou como nasceu o projeto e a programação para a construção da proposta. “Nosso objetivo foi trabalhar principalmente com universidades, buscar informações importantes que irão ajudar a tomar decisões cruciais para a Bacia do Alto Paraguai, gerar dados para publicação e auxiliar na formação de alunos”.
O pesquisador destacou que um projeto deste tamanho só é possível com a participação de uma grande equipe multidisciplinar devido ao tamanho e complexidade do estudo. “Para fazer um projeto coeso foi realizado um grande workshop nacional que discutiu metodologias e integração de resultados entre diferentes grupos que envolve além da ictiofauna e pesca, hidrologia e qualidade da água, socioeconomia e produção de energia”.
A bióloga Andrea Bialetzki do núcleo de pesquisa de água doce da Universidade Estadual de Maringá, que tem mais de 30 anos de experiencia em Ecologia de Ovos e Larvas de peixes relatou que o estudo foi pioneiro em avaliar o impacto em uma bacia hidrográfica antes da implantação do empreendimento.
“O ponto forte do projeto é que não se trata de trechos isolados, mas de toda uma bacia e com grande número de pesquisadores diretamente envolvidos, foram mais de dez instituições. Concentramos o estudo nas 15 espécies que são mais sensíveis à alterações ambientais, o que pode causar maior impacto para pesca e para a reprodução pelo seu comportamento biológico”.
Os estudos de campo realizados no componente ictiofauna mediu, entre outros fatores, rios de maior produção, rota de reprodução e estimativa de locais de maior desova. A professora Lucia Mateus, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que é membro titular do Cepesca, ressaltou que o projeto envolveu diretamente todos os usuários da água.
“É preciso que todos os grupos sejam inseridos nas tomadas de decisões, inclusive os peixes, para verificar se os impactos podem afetar os animais adultos em reprodução, o tamanho dos estoques e na coleta de ovos e larvas”, explicou.
O conjunto diversificado de profissionais, de diferentes áreas foi citado por Yzel Rondon, da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, como o elemento para deixar o projeto mais coeso e consistente. “Esse projeto poderá servir de modelo para estudos em outras bacias”.
Já Fernando Carvalho, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, destacou ser a primeira vez que se fez um levantamento sistemático em toda a bacia do Alto Paraguai apontando 14 espécies totalmente novas, que a comunidade científica não tinha conhecimento.
“Alguns peixes só se encontram nessa Bacia Hidrográfica, não existe em nenhum outro lugar do mundo e isso deve ser considerado na hora de medir os impactos”.
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