Temos uma matriz de geração de energia elétrica com mais de 80% provenientes de fontes renováveis, mas a conta final para o consumidor é muito cara. A energia elétrica no Brasil possui atualmente uma das tarifas mais altas do mundo, boa parte influenciada pelos tributos federais e estaduais, encargos setoriais, pelos subsídios da conta CDE-Conta de Desenvolvimento Energético e pelo mix de compras de energia no mercado regulado. Por outro lado, as abordagens das empresas distribuidoras de energia elétrica e demais órgãos do setor elétrico tem sido muito previsíveis no tocante a economia de energia. Estampar frases como “Não deixe luzes acesas sem necessidade”, por si só, já não despertam mais o interesse dos consumidores.
As ações de “incentivo” das distribuidoras para os consumidores reduzirem sua conta são sempre bem superficiais, parece para “cumprir tabela”, não fogem do senso comum, o consumidor não leva mais a sério. Neste universo, o consumidor conta somente com si próprio para tentar reduzir sua conta mensal e há um bom caminho a explorar neste sentido. A gestão do tempo de uso dos equipamentos é um ponto central.
Em Mato Grosso neste período de agosto a outubro, de temperaturas muito altas e umidade baixa as contas de energia podem chegar mais “salgadas” para os consumidores. Contudo é preciso estar atento para analisar o aumento das contas de energia. Primeiramente, o consumidor deve verificar se a leitura da energia foi de fato realizada ou se foi por média de consumo.
Importante também analisar seu histórico de consumo, inclusive do mesmo período do ano anterior para comparar. Verificar também na conta o número de dias faturados, que deve ser de 27 a 33 dias de acordo com a legislação. Com relação a tributação de ICMS, deve-se verificar a faixa de ICMS cujo consumo do mês se enquadra.
O consumo de energia mensal é o produto da potência elétrica dos equipamentos multiplicada pelo tempo de uso em horas. O resultado dessa equação é o famoso kWh. Gerenciar o tempo de uso é uma atitude inteligente e sendo o ICMS no estado aplicado por faixas de consumo na classe residencial (até 100 KWh=isento, de 101 a 150 KWh=10%, de 151 a 250 KWh=17%, de 251 a 500 KWh=25% e acima de 500 KWh=27 %), ou seja, economizar no tempo de uso e ainda conseguir mudar para uma faixa de tributação menor, significa ampliar ainda mais os ganhos da economia.
De acordo com o engenheiro mecânico Arnaldo Lopes Parra, especializado em climatização e vice-presidente de marketing da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado e Ventilação (Abrava), entre a cada grau que se reduz no controle remoto do equipamento, são cerca de 3,5% de aumento no consumo de energia. “Existem alguns estudos da Abrava que comprovam que, se o ar estava em 23ºC e o ajuste da temperatura for aumentada para 25ºC, há uma redução de 7% no consumo”.
Ele complementa que, quando as referências são números mais baixos, como 18ºC ou 19ºC, por exemplo, a economia pode ser ainda mais significativa, uma vez que a carga térmica será maior e exigirá mais esforço da máquina. “É o mesmo raciocínio do consumo de combustível de um automóvel. Se você anda a 80 km/h em uma via plana, o consumo de gasolina é menor do que quando você dirige na subida, pois exige muito mais do carro”, exemplifica.
Em outras palavras, quanto mais quente estiver lá fora, mais esforço a máquina tem que fazer para rejeitar o calor do ambiente e alcançar as temperaturas desejadas, o que pode resultar em cerca de 20% de consumo de energia adicional se o consumidor optar por 18ºC ou 20ºC no visor.
Assim, de uma forma geral, estima-se que o calor excessivo nesta época do ano no estado influencia num aumento de cerca de 20% no consumo de energia, isso com os aparelhos de ar-condicionado sendo utilizados dentro da mesma quantidade de horas de dias normais. O mesmo acontece com as geladeiras, que também consomem mais energia para manterem a temperatura programada em dias muito quentes. Somado a isso, existe o consumo de energia por horas a mais em funcionamento, principalmente no caso de ar-condicionados, ventiladores, geladeiras e umidificadores. Vale ressaltar também que nesta cadeia de consumo gerada pelo calor, as pessoas tomam mais banho, lavam e passam mais roupas, utilizando mais o chuveiro, a máquina de lavar e o ferro de passar. Pelas horas a mais, conforme o caso, os aumentos de consumo podem chegar a um percentual maior, entre 30 a 50%, dependendo do perfil do consumidor e quantidade de equipamentos que utiliza. Em função disso, algumas dicas são importantes no caso de ar condicionado, considerado o “vilão” deste aumento de consumo:
– Mantenha a graduação do aparelho de ar condicionado entre 22 e 24 graus;
– Mantenha portas e janelas fechadas;
– Limpe regularmente o filtro do ar;
– Efetue manutenção preventiva a cada 6-8 meses com limpeza geral;
– Se o aparelho de ar for muito antigo, podendo, substitua por equipamento com classificação "A" de eficiência do Procel. Existem ainda equipamentos tipo Inverter que economizam até 40% de energia. Estes equipamentos embora um pouco mais caros acabam se pagando devido sua maior eficiência e tecnologia.
Também é importante que o modelo de comercialização atual seja alterado possibilitando a ampliação do mercado livre para consumidores menores e a liberalização total do mercado (portabilidade) para que o consumidor possa escolher sem restrições seu fornecedor de energia elétrica. Uma forma interessante de alcançar esse objetivo por enquanto seria apostar nas instalações de sistemas de mini e de microgeração distribuída de fontes renováveis, sejam eles hídricos, fotovoltaicos, eólicos, biodigestores e outros para a produção de energia pelos próprios consumidores. Mais livre que isso, impossível, para o pequeno consumidor que é obrigado hoje a adquirir a energia no mercado cativo das distribuidoras a um custo bem mais elevado que no mercado livre.
Assim, foi fundamental a regulamentação e implementação de legislação pela Aneel para a micro e minigeração distribuída através da Resolução 482/12 e aperfeiçoada pela 687/15, possibilitando ao consumidor gerar sua própria energia, principalmente, a partir da energia solar fotovoltaica. Atualmente, já se consegue pagar o investimento na média em menos de quatro anos. Contudo, não adianta o consumidor gerar sua própria energia e desperdiçar. Afinal, como sempre digo, a melhor energia ainda é aquela que não se gasta!
Teomar Estevão Magri, Engenheiro Eletricista com MBA em Gestão de Negócios, Especialista em Energia e membro do Conselho de Consumidores de Energia Elétrica de Mato Grosso-Concel MT.
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