É direito e dever do governante tomar decisões pautadas sob a técnica e a política.
Todavia, "quanto mais técnica torna-se a política, mais regride a competência democrática." (E. MORIN, 2017)
A meu ver, o significado desta assertiva do respeitado pensador, aponta que a técnica não há de engessar as decisões governamentais ou asfixiar e inibir as vontades sociais.
Assim, mesmo a boa técnica há de ser debatida democraticamente para que se tome a melhor e mais abrangente decisão política em benefício da população e do próprio "Príncipe".
O caso do VLT, da Copa de 14, evidencia muito bem esse embróglio entre economia, ciência política, engenharia e urbanismo, aqui na nossa Cuiabá.
Sob a visão econômica, pautar-me-ei neste artigo, porém, en passant, darei alguma sugestão sob o aspecto interdisciplinar a partir das áreas de conhecimento, acima mencionadas.
A obra estruturante do VLT, penso eu, foi idealizada não somente para modernizar o transporte público e a cidade em si, mas, também, para atender uma demanda seleta durante o evento futebolístico mundial, quando esta cidade foi contemplada para município-sede do evento.
Todavia, o atraso vergonhoso na conclusão da obra, quebrou o fluxo do mega-investimento que proporcionaria seus desdobramentos em termos de gastos efetuados, emprego, arrecadação e na própria renda derivada, decorrente de novos investimentos.
Aliás, novos investimentos estruturantes, a exemplo de drenagem, viadutos, sinalização, embelezamento da cidade com obras no Morro da Luz com a construção de um provável elevador para ter acesso a essa bela visão que sem tem de Cuiabá sem ilha da banana, construção do calçadão histórico e provável transferência da sede da prefeitura para um outro local, etc., todas essas obras macro-dinâmicas pensadas com visão de futuro, visando, também, a ampliação de linhas/trajetos do "trem da modernidade" em simbiose ecológica com as "jardineiras" atuais adentrando nos bairros de Cuiabá, levando conforto e comodidade aos usuários.
Mais uma vez, com o atraso da obra, restaram-nos prejuízos, perdas de vida, desperdício de recursos públicos, desperdício de mão-de-obra, dentre outros vazamentos da economia do desperdício.
Portanto, retomar a referida obra é uma questão de respeito político-social e visão de futuro para com Cuiabá como principal pólo dinamizador e de atração na esteira desse mundo globalizado.
Como economista, eu não poderia deixar de mencionar o problema do financiamento desse "resto a construir", que segundo dizem, seria de aproximados 1 bilhão de reais, entretanto, não esquecer dos 400 milhões disponíveis em caixa comprometidos para essa obra, segundo dizem, também.
As opções para o financiamento dessa obra seriam duas: privatizar a obra, mas, com um ambiente institucional-tributário revisto, ou fazer empréstimo, conforme tem sugerido o "Vivaldy" da economia matogrossense (Vivaldo Lopes, ex-secretário-adjunto da SEFAZ) com todo seu conhecimento de setor público, de mercado e técnica para viabilizar a capacidade de endividamento e pagamento do Estado, além do estudo do falecido (dez. 2020) engenheiro Everton de Almeida Carvalho e do estudo (em finalização) no Ministério do Desenvolvimento Regional.
Importa para este momento, muita racionalidade diante das dificuldades e complexidades caóticas que afetam a todos, porém, a conclusão dessa obra seria importante até para evitar aglomerações e para avançarmos junto ao "chá cô bolo", sem perder a visão de futuro e estratégica, nesse mundo, também, e já, pós-moderno.
Com respeito, ao Excelentíssimo Governador e aos que lutam e acreditam na necessidade de relevante obra.
Ernani L P de Souza, 58, economista da UFMT/PROAD/CACS, especialista em DRH pelo Programa MEC/BID III/UFAL e ms. em Planejamento do Desenvolvimento pela ANPEC/UFPA/NAEA. Foi vice-presidente do CORECON-MT.(elpz@uol.com.br)
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