Há quase há 100 anos atrás, em especial, os capitalistas do mundo todo, assombrados, viveram momentos de terror e sofrimento ao constatarem numa terça feira, dia 29 de outubro de 1929, a quebra da Bolsa de valores de Nova York, impondo ao mundo ocidental, talvez, a sua maior e primeira crise do capitalismo ocorrida no mundo moderno, colocando todas as instituições ligadas ao liberalismo em cheque trazendo dúvidas que abriram caminhos para a ascensão do fascismo e nazismo.
A palavra-chave das crises econômicas ligadas ao capitalismo, são muitas e como a própria ciência econômica, apesar de sustentada pelo racionalismo científico, nestas horas, acaba por se tornar quase esotérica e nem sempre clara, e nos proporciona resultados bem fora daqueles que esperamos. Desta feita, ao tratar especificamente do setor automobilístico, uma palavra sempre está em evidência, é a palavra “especulação” e com essa palavra vem outra que consequentemente está agregada, “ganância”. Todo golpe de azar nem sempre contém, de fato, elementos aleatórios sem que haja a nossa participação, mesmo que indireta.
Ora quando vemos um mercado de vendas de veículos novos e usados, em contradição, onde ocorre, supostamente uma baixa oferta de veículos novos e usados, inflação acima do esperado, o surgimento de uma segunda onda de contágio pelo Coronavírus, mais crise política do governo Bolsonaro e estranhamente, no caso dos usados, como veremos, queda nas vendas, mesmo que maquiadas, que resultam um aumento dos valores dos veículos, com certeza, deste biscoito atrativo tem veneno perigoso.
Já eram esperados péssimos os resultados para as vendas de veículos usados em abril e como sabíamos, vieram como deveriam vir, e aqueles crédulos, mais incrédulos ficaram. E aqueles que não viram os resultados, atentem-se o mais rápido possível. Preços em alta em um mercado sem demanda é sinal de especulação e com ela vem a quebra dos mercados.
O exemplo que o passado nos deu, nos serve, outubro de 1929 deve ser respeitado, óbvio que em proporções menores, mas em condições parecidas. Os carros usados estão com seus preços fora da realidade econômica que o país vive no momento. Quanto aos novos, já se alinharam com a situação, com um setor mais organizado, posso dizer cautelosos, se preparam para a retomada das vendas.
A diminuição da produção dos zero km teve um propósito simples, além das justificativas que foram apresentadas não indicarem o verdadeiro caminho, vemos a indústria mantendo seus estoques sob um patamar de segurança, baixos, diante de uma possível crise de demanda. Neste caso do zero km, o preço foi reajustado para cima, e a produção diminuída, manobra inteligente evitando surpresas, manter a oferta baixa é um bom caminho.
Em relação aos usados, é evidente, corre uma especulação desordenada, sem planejamento e confusa. Temos carros em grande oferta que não se vendem como deveriam vender, e os preços, subindo sem razão exata. Cuidado, é evidente a existência de uma contradição no mercado de preços do setor.
Este mês de abril trouxe para o Brasil uma grande redução nas vendas de veículos usados, que não é percebida nas ruas e nas lojas, ou se é, não é comentada. As vendas de veículos usados caíram em abril, segundo a FENAUTO, os efeitos do fechamento do comércio com nova onda de Covid se acentuaram no mês.
A Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores, entidade que representa o setor de lojistas multimarcas de veículos seminovos e usados, divulgou seu relatório com os dados das vendas no mês de abril de 2021. Os números refletem os efeitos da segunda onda do COVID-19 que atingiu o país, provocando medidas mais enérgicas de isolamento, além de um novo fechamento do comércio no mês passado.
Por outro lado, a boa notícia é que, em comparação com o mesmo mês de 2020, o aumento das vendas foi de 459,4%! Além disso, o acumulado nos quatro primeiros meses de 2021 também foi 40,7% superior ao mesmo período do ano passado. Em abril foram comercializadas 1.118.285 unidades, contra 1.237.030 em março, um recuo de 9,6%.
O presidente da FENAUTO, Ilídio dos Santos, comentou que “os efeitos dessa segunda onda da epidemia se fizeram sentir no mês de abril, mas acreditamos que com a nova flexibilização das medidas e o retorno das atividades do comércio, já anunciadas pela maioria dos Governos Estaduais, deverá gerar resultados positivos novamente nas próximas semanas. Isso, aliado ao avanço da vacinação por todo o país, deve trazer uma nova onda de confiança aos consumidores”.
Mato Grosso
Em Mato Grosso houve um recuo nas vendas, no patamar de 47,3% em relação ao mês de março. Ainda temos que levar em consideração, que abril, sempre foi o mês de recuperação das vendas de veículos, que é recorrente a todos os anos.
Abril começa o ano comercial, mas desta vez o resultado, diante do que acontece normalmente, foi assustador. Da média de 31 mil veículos usados comercializados por mês em Mato Grosso, neste abril vendemos 15 mil, ou seja, a situação merece atenção e cautela, por parte do empresariado que trabalha com carros usados em Mato Grosso.
Os modelos mais afetados pela possibilidade de estarem passando pelo processo de especulação são os carros populares, que tiveram aumentos muito fora da realidade que hoje o mercado apresenta. Os carros de luxo, também estão inflacionados, porém em um grau menor de contradição.
O comportamento não está dentro do esperado, apesar de todo primeiro trimestre dos anos observamos uma queda nas vendas, muito pelas despesas ocorridas nas festas de fim de ano, férias, início das aulas, impostos. Mas o recuo em abril é atípico e pode ser um indicativo de desaceleração das vendas no segmento.
Ainda temos que levar em conta, para esta queda tão brusca, o agravamento da Covid-19 e seus resultados, por ocasionarem o fechamento das empresas e desta maneira, ao não estarem habilitadas para abrir, perdem vendas, mas em Mato Grosso, em especial Cuiabá, isso não ocorreu, desta maneira nosso resultado é especial porque demonstra um cenário diferente da maioria das capitais brasileiras.
Disto tudo, nos sobra a preocupação e alerta aos que vivem deste setor, todos os cuidados devem ser tomados. E quanto aos preços, observados os resultados de queda nas vendas, devem ser revistos, afinal pagar mais por algo que não vende é muito arriscado. É um momento de muito cuidado por parte do setor de revendas de veículos seminovos e usados. Quer dizer, “Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.
Colunista MT Econômico: Ricardo Laub Jr.
Historiador e Empreendedor graduado no Curso de Licenciatura Plena em História na UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso e em EMPREENDEDORISMO (2005) pelas Faculdades ICE. Com Mestrado em História Contemporânea pela UFMT/PPGHIS. MBA – Master in Business Administration em Gestão de Pessoas, MBA – Master in Business Administration em Gestão Empresarial e MBA – Master in Business Administration em Gestão de Marketing e Negócios. Professor na faculdade, Estácio de Sá – MT, Invest – Instituto de educação superior. Presidente da AGENCIAUTO/MT- Associação do Revendedores de Veículos do Estado de Mato Grosso, com larga experiência profissional na elaboração de planos de negócio voltados para o ramo automobilístico, gerenciamento comercial, administrativo, controle de estoque, avaliação de veículos, processos operacionais e estratégicos para empresas do setor automotivo e gestão de pessoas no âmbito organizacional.
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