No último sábado fui entrevistado por duas horas inteiras pelo jornalista e professor José Netto, num podcast do site “Papo Agro”, do estado de Missouri, EUA. Fui indicado pelo meu filho Tiago Correa Ribeiro, executivo da agência Carandá Propaganda. Na mesma semana outro longo podcast, desta vez para a rádio Jovem Pan, de Brasília.
Os podcasts começaram com a abordagem do histórico da ocupação de Mato Grosso a partir da década de 1970. Mas no caso do Papo Agro, a coisa foi muito mais longe. Depois que saímos da fase da colonização de Mato Grosso da década de 1970 e a consolidação do agronegócio com seus altos e baixos até hoje, caímos no futuro. E acabamos abordando um futuro perfeitamente possível que neste momento pode ser classificado como louco.
Levantei a teoria de que a cada ano mais depressa o mundo vai consumir mais alimentos, na medida em que países do porte da Índia, com 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, e dos países asiáticos menores, experimentam rápida elevação do padrão social de suas populações. Somados com a China, esses países terão nos próximos anos mais de 4 bilhões e meio de habitantes. Metade da população do planeta. Todos fortemente dependentes de alimentação vinda de fora. No nosso caso, do Brasil e particularmente de Mato Grosso.
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A considerar esse raciocínio, somando-se a ele as graves questões climáticas mundiais, resta-nos aqui em Mato Grosso, um papel fundamental aos olhos do mundo. Um dado: em 2028, Mato Grosso deverá produzir 110 milhões de toneladas de grãos, fibra e carnes. Isso representa o volume total da produção brasileira em 2010. Diante disso, a tendência mundial é que a indústria transformadora de alimentos mundial tenderá a buscar a proximidade dos locais da produção. É preciso levar em conta os fretes cada vez mais caros e o elevado custo dos combustíveis, além da atual e futura crise de containeres na exportação marítima. Sem contar problemas energéticos para a indústria. Sendo assim, Mato Grosso e o Centro-Oeste brasileiro serão a referência mundial em alimentação processada. A chamada verticalização hoje ainda incipiente, embora bem adiantada. Produção processada eleva o valor agregado e barateia o frete pelos altos volumes dos alimentos transportados.
Diante disso, toda a logística terá que ser repensada rápido diante dessa pressão mundial. Do mesmo modo os sistemas de produção serão cada vez mais tecnificados pra atender à demanda. E todas as cadeias da produção alimentar estarão em poder de empresas de capital internacional diretamente ou através de joint-ventures. O perfil social e econômico de Mato Grosso pouco se parecerá com o atual. A presença estrangeira será dominante. Tanto em capital quanto em raças do mundo inteiro. Estou falando de algo como 15 anos. Nós que hoje puxamos essa onda de crescimento, de desenvolvimento de produção e de verticalização do agro, seremos apenas lembranças em pouco tempo. Seremos tomados pela demanda mundial de industrialização e de consumo de alimentos e fibras, além de fatores naturais como água, oxigênio, madeiras, minerais e chuva.
Mesmo que pareça utopia falar disso neste momento, basta ver as teses levantadas na conferência COP 26 e nas tendências da economia mundial. Em poucos anos seremos muito maiores do que as nossas fronteiras físicas hoje nos delimitam. Seremos parte do coração do mundo dos próximos anos. Nós. Nós aqui do Centro-Oeste brasileiro. Particularmente do nosso Mato Grosso!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso