Nas últimas duas décadas, a área de pastagem cresceu 40% na Amazônia. No mesmo período, esse tipo de cobertura de solo diminuiu substancialmente na Mata Atlântica (28%) e no Cerrado (10%), onde 10,2 milhões de hectares foram transformados em lavouras temporárias. O avanço das pastagens sobre a Amazônia a colocou no topo da lista dos biomas com maior área, em termos percentuais, com 36%. Cerrado (31%), Mata Atlântica (18%), Caatinga (12%) e Pantanal (2%) vêm na sequência. Com exceção de Minas Gerais, com 19,3 milhões de hectares, os outros dois estados líderes em área de pastagens no Brasil ficam na Amazônia Legal: Pará (21,1 milhões de hectares) e Mato Grosso (20,2 milhões de hectares).
Os dados fazem parte de um mapeamento inédito do MapBiomas. Ele revela que o principal uso dado ao solo brasileiro continua sendo a pastagem: de toda a área desmatada no Brasil, que já se aproxima dos 35% do território nacional, aproximadamente 90% foram ou continuam sendo pastagem. Com presença nos seis biomas, ela ocupa atualmente algo em torno de 151 milhões de hectares de norte a sul do país. Mas a área total pode ser ainda maior porque esse número não integra parte dos campos naturais, principalmente no Pampa e Pantanal, que cobrem 12 milhões de hectares no país, e áreas de mosaico de usos, onde não é possível separar agricultura e pastagem (ou elas ocorrem de forma consorciada), e que cobrem 42 milhões de hectares.
A partir da análise de imagens de satélite é possível identificar uma intensa dinâmica quanto às áreas de pastagens no Brasil, marcada por momentos de expansão e retração territorial. Entre 1990 e 2000, 46,4 milhões de hectares de áreas naturais e antrópicas foram convertidas em pastagem, principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, enquanto 19,2 milhões de hectares de áreas de pastagem foram convertidos para outros usos ou abandonados, notadamente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica. Entre 2000 e 2021, as áreas naturais e antrópicas transformadas em pastagens totalizaram 47,1 milhões de hectares e, mais uma vez, Amazônia e Cerrado foram os principais alvos da conversão. Mas a conversão ou abandono das pastagens nesse mesmo período mais que dobrou em relação ao registrado nas duas décadas anteriores: 44,7 milhões de hectares, principalmente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica.
Entre 1985 e 2021, a agricultura e pecuária ganharam 85 milhões de hectares — um crescimento de 47%. As atividades agropecuárias cresceram em cinco dos seis biomas brasileiros, com exceção da Mata Atlântica.
GIGATONELADAS DE CARBONO – De forma inédita, a Coleção 7 do MapBiomas traz estimativas de estoques de carbono no solo associados às áreas de pastagens no Brasil. Considerando as pastagens de todo o Brasil (cultivadas e nativas), o estoque total de carbono orgânico no solo é de 6,43±1,79 gigatoneladas. Especificamente para o bioma Cerrado, a recuperação de cerca de 28 milhões de hectares de pastagens com algum nível de degradação pode resultar em um ganho de aproximadamente 6% nos estoques de carbono no solo até 2030.
Considerando estoques médios de carbono (toneladas por hectare), estes variam de 44 a 22 toneladas por hectare para a camada superficial do solo (0 a 20 cm) nas áreas de pastagens (nativas) do Pampa e Pantanal, respectivamente. Para os demais biomas – Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga e Cerrado – estes estoques ficam em torno de 41, 39, 36 e 33 toneladas por hectare, respectivamente.
“A recuperação de pastagens degradadas e adoção de boas práticas de manejo representam um verdadeiro ganha-ganha. Ganha o produtor, com o aumento da produtividade do rebanho. E ganha o país, haja vista o maior potencial de pastagens bem manejadas em sequestrar carbono, contribuindo para a redução das emissões e para tornar a atividade pecuária, como um todo, mais sustentável“, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador geral do mapeamento das pastagens.
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