Esta semana almocei com dois queridos amigos, entre outras coisas, na busca de análise de informações pra escrever este artigo: Cláudio Gonçalves e Wal. Ele analista de recrutamentos sofisticados e ela psicóloga na área do comportamento juvenil e adulto.
A conversa caminhou pro almoço e novas discussões e questionamentos mútuos. Já no final do almoço sentou-se à nossa mesa uma querida amiga tradicional empresária do Norte de Mato Grosso, nas áreas de madeira, agricultura e pecuária. Nos conhecemos há mais de 20 anos.
Ela estava profundamente angustiada e precisava extravasar. Sentou-se à nossa mesa e contou as suas angústias atuais e, segundo ela, as mesmas de todos os empresários da sua região. O medo é por contas da desconfiança em relação à política econômica e ambiental do governo Lula. Segundo ela, todos os empresários devem a bancos. Financiamento de máquinas, de fertilizantes e insumos e custeio da produção.
O receio é que a ministra do Meio Ambiente radicalize e inviabilize a continuidade dos negócios, mesmo que estejam de acordo com as atuais normas ambientais. O outro receio é sobre a política macroeconômica que mexa na política de financiamentos e das dívidas dos produtores junto aos bancos. O resumo do medo dela e dos empresários, é que os bancos tomem as suas terras e as vendam pros chineses. Avalia-se as ideologias esquerdistas de lá e de cá.
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Aqui faço um intervalo na conversa e volto a um mês antes da eleição no primeiro turno. Uma conversa que tive com o ex-deputado Nilson Leitão, presidente do Instituto Pensar. O Pensar é o braço de pensamento estratégico da Frente Parlamentar da Agricultura do setor do agronegócio brasileiro. Perguntei-lhe se no caso da vitória de Lula e de um governo de esquerda não assustava a economia do agronegócio brasileiro. Ele me respondeu que o agronegócio está tão organizado em instituições privadas e políticas que tem força pra contestar eventuais medidas insensatas de um governo. Lembrou, por exemplo, a maior frente do Congresso Nacional, criada em 1995, que hoje conta com 280 parlamentares. 133 se reelegeram no ano passado.
Agora junto todas as conversas. Os setores produtivos da economia estão aparelhados pra contestar o governo do momento, sempre que forem contrariados nas suas questões básicas. Os caminhos são vários. Um, seria pressionar o Congresso Nacional. Outro seria acionar e agregar as inúmeras entidades representativas de todos os segmentos da economia: agropecuária, indústria, serviços e comércio. Outro seria o menos desejável, os boicotes.
Por isso não vejo com totalmente verdadeiros os receios dos empresários contra eventuais medidas prejudiciais impensadas ou ideológicas do governo Lula. Pra encerrar, deixo no ar uma questão: esses receios não serão uma ótima oportunidade pra maior politização e o fortalecimento da cidadania cívica de todos os setores da economia?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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