A criação de uma moeda comum com a Argentina, ou mesmo incluindo os outros países do Mercosul, é avaliada como um erro que pode custar caro para o Brasil. De acordo com especialistas consultados pelo Agrolink, a proposta discutida pelos presidentes Lula e Alberto Fernández força uma “sociedade entre economias totalmente incompatíveis”.
“Falta arcabouço técnico que a torne viável, tanto em relação à estrutura do bloco quanto à desenvoltura econômica dos dois principais países. Na realidade, tal mecanismo favorece especificamente a Argentina, carente de reservas internacionais em moeda forte. Não é o caso do Brasil, com reservas aproximadas em torno de US$ 390 bilhões”, afirma Michel Alaby, consultor da PNUD/ONU, membro do Conselho de Comex da Fiesp.
O mesmo entendimento tem o analista sênior da Consultoria TF Agroeconômica, Luiz Pacheco, segundo o qual são duas economias que “giram em rotações completamente diferentes”: “Precisam, primeiro, entrar em sintonia. O Brasil tem um confortável colchão de quase meio bilhão de dólares sobrando e com ele pode honrar todos os compromissos internacionais, do governo e particulares e sobrariam uns 53 bilhões de dólares ainda”.
“A Argentina não tem dinheiro para pagar seus compromissos internacionais, nem do governo, nem particulares e precisou pedir US$ 57 bilhões ao FMI para pagar compromissos e pedir aos sojicultores para adiantar os contratos de soja (Dollar soy) para ter algum caixa. E não teria dinheiro para colocar na sua parte do tal Fundo Soberano que o Haddad (ministro da Fazenda de Lula) falou, para garantir os créditos para os importadores argentinos”, completa o especialista.
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Haddad afirmou esta semana que a ideia dos governos é criar uma nova linha de crédito destinada aos importadores argentinos que comprarem produtos brasileiros, com o objetivo de aumentar as exportações do Brasil para a Argentina.
“Nós vamos dar um fundo garantidor, que é um fundo soberano, que vai garantir as cartas de crédito para o exportador brasileiro”, prometeu o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad. Segundo o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, os detalhes da nova linha devem ser fechados em fevereiro.
De acordo o cientista político Paulo Moura, unificar as moedas de países com economias díspares “não é, nem simples, nem fácil, nem rápido e nem viável. Por trás do discurso da unificação continental há outras intenções ocultas. É uma péssima notícia para os brasileiros e uma ótima notícia para os argentinos”.
“O que está embutido nessa notícia é uma transferência de riqueza, e no trânsito desse dinheiro daqui para lá, não sabemos exatamente onde ele vai parar, porque no bolso do povo argentino, não será. O que está por trás disso é uma tentativa de Lula de socorrer Fernández, que tem eleições e está em péssimas condições, com inflação beirando 100% e crise econômica”, conclui Moura.