A intensidade do El Niño é uma questão crítica na agricultura, pois as suas consequências no clima são extensas e significativas. A última projeção do Bureau of Meteorology da Austrália, nos dá um panorama de intensificação do El Niño até o limite do horizonte de previsão, com valores de anomalia da superfície do mar indicando um evento potencialmente forte.
Conforme dados do metereologista, Gabriel Rodrigues, e do Agrolink, este comportamento e previsão de valores se equiparam aos registrados nos eventos mais intensos da história recente (1997 e 2015).
Em 1997, registrou-se um dos El Niños mais intensos da história, com o seu pico em novembro (2,62°C). No início do ano, os valores eram negativos, mas uma rápida escalada foi observada a partir de abril, alcançando a marca de 1,78°C em julho e ultrapassando a marca de 2°C em agosto.
O evento de 2015 também foi significativamente intenso, com o seu pico em também novembro (2,93°C), sendo ligeiramente mais intenso que o evento de 1997. O início do ano já mostrava sinais positivos de El Niño, e a intensidade aumentou de forma consistente durante todo o ano.
Para o ano de 2023, os dados até junho mostram um El Niño menos intenso do que os eventos de 1997 e 2015 durante o mesmo período. Em particular, os primeiros meses do ano mostraram um estado negativo ou neutro mais duradouro. No entanto, em junho, a intensidade do El Niño já era quase tão alta quanto a do evento de 2015, demonstrando assim a forte intensificação do evento.
A previsão para o restante de 2023 sugere que a intensidade do El Niño continuará a aumentar, embora a um ritmo mais lento que nos eventos de 1997 e 2015. As previsões sugerem que a intensidade do El Niño atingirá o pico em dezembro, com 2,7°C. Embora essa intensidade seja menor do que os picos dos eventos de 1997 e 2015, ela ainda representa um El Niño forte.
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IMPACTOS NAS SAFRAS DE 1997 E 2015 – Em 1997, o El Niño provocou chuvas acima da média no sul do Brasil e secas no Nordeste. Na região Sul, o excesso de chuvas prejudicou as lavouras de grãos, principalmente de milho e soja, por causa do excesso de umidade e proliferação de doenças.
No Nordeste, a seca afetou a safra de algodão e milho, além do rebanho de gado devido à falta de água e pastagens. Já o El Niño de 2015, que foi um dos mais fortes já registrados, trouxe impactos semelhantes. A região Sul foi novamente afetada por chuvas acima da média que prejudicaram a produção de grãos. Além disso, no Sudeste e Centro-Oeste, a seca prolongada também afetou a produção agrícola. Em estados como São Paulo, a falta de chuvas prejudicou o abastecimento de água, impactando a irrigação das lavouras. Culturas como café, cana-de-açúcar e laranja foram afetadas. No Nordeste, a situação se repetiu com uma seca intensa prejudicando a safra.
De acordo com os dados obtidos no Portal de Informações da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento do Brasil), no evento de 1997, a produção agrícola brasileira caiu de 36.716 mil toneladas em 1996/97 para 30.189 mil toneladas em 1997/98, uma redução de 6.527 mil toneladas. Essa variação representa uma queda de aproximadamente 17,8%. Já para o evento de 2015, a produção agrícola passou de 84.670 mil toneladas em 2014/15 para 69.142 mil toneladas em 2015/16, uma redução de 15.528 mil toneladas. Isso representa uma diminuição de aproximadamente 18,3%.
Essas quedas na produção durante os anos do El Niño demonstram o impacto que fenômenos climáticos podem ter na produção agrícola. A intensificação de eventos climáticos extremos, como o El Niño, causada pelas mudanças climáticas, pode representar desafios significativos para a agricultura no futuro, ressaltando a importância de estratégias de adaptação e resiliência.