Especialistas e autoridades se reuniram em Cuiabá para abordar temas relacionados a energias renováveis, crise climática e a transição energética que impactam Mato Grosso e o restante do mundo. As palestras ocorreram nos dias 21 e 22 de maio, no XII Seminário de Energia, em Cuiabá. O evento foi realizado pelo Sindenergia-MT com o apoio da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e patrocinadores.
A transição energética é assunto em pauta principalmente por conta do aquecimento global e consequente aumento das tragédias climáticas que tem ocorrido mais frequentemente em diversos lugares do mundo, a exemplo do Rio Grande do Sul.
O desequilíbrio ambiental do planeta vem ocorrendo devido ao aumento de gases do efeito estufa, principalmente ao longo do século XX, que foi agravado e ganhou maior evidência nos últimos 20 anos. Especialistas e governantes tentam reverter a situação e promovem encontros para debater o tema em diversos lugares do mundo.
Umas das alternativas para o desenvolvimento sustentável, segundo especialistas, seria a expansão das energias renováveis, que são mais limpas e impactam menos o meio ambiente.
Por este motivo, o principal tópico abordado no Seminário de Energia de Mato Grosso foi a necessidade de migração das energias não renováveis para fontes alternativas mais limpas, em especial a energia solar, que hoje em Mato Grosso já possui 10% de participação de mercado, segundo o Sindenergia-MT.
Mato Grosso é um estado promissor na geração de energia renovável e a expectativa é que aumente a sua produção ainda mais nos próximos anos.
O presidente do Sindenergia-MT, Tiago Vianna, explica que, “quase 90% da nossa fonte de energia é limpa, mas a dificuldade é fazer essa energia chegar na ponta, nos lugares mais distantes do estado. A gente consome em torno de 11 TWh ao ano e produz em torno de 20 TWh, do qual o excedente é exportado. A maior parte disso daí vem ainda de fontes hídricas”, disse.
SEGURANÇA ENERGÉTICA E TARIFAS – Também esteve presente no evento o secretário-chefe da Casa Civil do governo de Mato Grosso, Fábio Garcia, que ressaltou que a indústria brasileira de energia precisa ser mais competitiva, para que o consumidor final não seja tão prejudicado ao pagar por diversas taxas na conta de luz. Garcia explica o que poderia ser feito para aumentar essa competitividade.
“O Brasil ainda é um país em desenvolvimento e precisa se industrializar muito para que possa gerar emprego de qualidade para as pessoas. Dois pilares são fundamentais para sustentar esse desenvolvimento: o primeiro é segurança energética, o segundo é modicidade tarifária. Ou seja, precisamos de preço competitivo de energia”, afirma.
Fábio Garcia citou também que existem alguns pontos que precisam ser revistos no modelo do setor elétrico brasileiro, já que, de acordo com ele, toda vez que um subsídio é dado a uma fonte de energia, alguém paga essa conta.
“Hoje, todos os subsídios estão concentrados na conta de luz, na nossa tarifa de energia elétrica. Quase metade dela é imposto federal, estadual e encargos do setor elétrico. Portanto, a gente precisa rever ao dar um subsídio ao setor de energia, quem vai pagar por isso. Atualmente, os consumidores estão pagando pelo sistema e isso precisa ser revisto”, conclui Fábio Garcia.
O ex-ministro da agricultura, Blairo Maggi falou sobre o avanço da energia solar e explicou que, “se todo mundo produzir a sua própria energia e quiser transitar pelas redes da concessionária sem pagar nada, como é que isso vai funcionar no futuro? O sistema quebra. Então, o governo deu um incentivo inicial, começou a crescer bastante esse negócio, agora ele [governo] deve retirar o incentivo nos próximos anos para que o processo ande normalmente e que não prejudique o restante da sociedade”, explicou.
O estado de Mato Grosso tem crescido bastante na procura por energia solar e serviços de assinatura residencial e industrial. Maggi explicou que a vantagem do sistema fotovoltaico é que, “a sociedade e o mundo acharam um jeito barato de fazer energia. Agora, a transmissão dela é um negócio mais complicado que vai depender de como cada um vai pagar um pouco por isso”, conclui.
ENTRAVES NA EXPANSÃO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS – Atualmente, um dos maiores entraves é na distribuição das energias renováveis, devido à dimensão territorial do país e critérios técnicos do setor.
O Brasil é rico em recursos naturais, o que o torna promissor na geração de energias renováveis (hidrelétrica, eólica, solar, entre outras). O maior desafio é conciliar todas as atividades necessárias (geração, transmissão e distribuição) para que chegue nas casas, indústrias, comércios e zona rural.
O país possui hoje uma matriz com cerca de 78% de energia renovável, segundo dados da Balanço Energético Nacional (BEN), um número superior à média mundial, que se aproxima de 29%, conforme dados da Agência Internacional de Energia (IEA).
É também, o segundo maior produtor de etanol do mundo que é um combustível considerado limpo. O país está investindo em créditos de carbono e fontes de energias alternativas, como a solar e a eólica, que correspondem a 16,8% e 44,53%, respectivamente, fazendo com que o Brasil seja o 6º maior produtor mundial de ambas, conforme dados da Global Wind Energy Council.
PACTO DA ONU – No Seminário de Energia a CEO da Dona Lamparina, Silla Motta, apresentou o Pacto Global da ONU e as oportunidades na Amazônia Legal.
Ela explicou como é o processo de adesão e quais são os protocolos que precisam ser cumpridos para poder aderir ao Pacto da ONU.
“Para aderir, é preciso preencher um formulário, enviar uma carta e submeter à aprovação da ONU. Depois da aprovação, é necessário pagar uma anuidade e também fazer um relatório comprovando todas as suas iniciativas em prol da agenda 20/30 [desenvolvimento sustentável]”, explicou.
A Amazônia Legal foi constituída pelo governo brasileiro na década de 1950 com objetivo de integrar a região da bacia amazônica e prover incentivos fiscais e políticas públicas na região. É um recorte geográfico de grande importância ambiental e política. Possui aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados e corresponde a 59% do território brasileiro. Engloba nove estados, incluindo Mato Grosso.
Silla Motta discorreu sobre o potencial e os desafios dessa região tão importante para a sustentabilidade do país.
“A Amazônia Legal possui um grande potencial para a geração de energia fotovoltaica, integrando sistemas de armazenamento com o apoio de baterias. No entanto, existe uma complexidade logística da região e limitações para a obtenção de licenças ambientais e isso dificulta o planejamento das ações do setor. A energia fotovoltaica é a mais adequada na Amazônia Legal, comparando com a geração hidrelétrica e eólica que são mais complexas para viabilizar”, disse Motta.
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