Nesta segunda-feira (31.05), esteve presente em Cuiabá o consultor econômico e colunista dos jornais “O Estado de São Paulo e O Globo” Raul Velloso. O economista que possui PH.D. em Economia pelo Yale University e já foi Secretário Nacional Adjunto e Secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento falou um pouco sobre o atual cenário econômico no Brasil e afirmou que a economia voltada para o consumo desabou o Brasil.
No evento, promovido pela Federação das Indústrias de Mato Grosso, em comemoração ao dia da indústria (25.05), estiveram presentes também, autoridades e representantes de entidades, incluindo o governador Pedro Taques e o presidente da FIEMT Jandir Milan.
Jandir Milan disse à reportagem do Mato Grosso Econômico que os empresários matogrossenses passam pela mesma crise de confiança que o restante do Brasil.
“O Brasil chegou no fundo do poço. Estamos aguardando a saída definitiva da presidente Dilma para o mercado recuperar a confiança e fazer novos investimentos. O atual presidente e sua experiente equipe possuem capacidade de implantar novas medidas que vão ajudar o país a retomar o crescimento”, disse Milan. Apesar da crise nacional, Mato Grosso é um dos poucos estados que continuou crescendo no Brasil.
O economista Raul Velloso, disse em sua palestra que o atual modelo econômico precisa ser mudado para o país voltar a crescer. O “modelo de consumo” inserido na sociedade para aumentar a circulação de bens e serviços no mercado criou uma sensação temporária de aspiração social e ao mesmo tempo fez o país frear os investimentos em infraestrutura e outras questões importantes para o desenvolvimento econômico.
Estimular o consumo não é ruim, mas o governo viciou em fazer isso para ter resultados mais rápidos e fechar o balanço financeiro mais positivo no curto prazo. Por outro lado, o aumento do consumo nos últimos anos fez com que a inflação também aumentasse.
O economista se diz otimista com o governo Michel Temer e sua nova equipe, mas acredita que mais importante do que aumentar impostos é revisar a dívida dos estados, que sempre foram reféns do governo federal.
Hoje a dívida dos estados é impagável, afirma Velloso. Uma das soluções para dar um fôlego aos estados é aplicar uma carência de pagamento de pelo menos dois anos e mudar o indexador de juros, analisando tecnicamente se o valor acumulado de cada estado é possível de pagar no longo prazo ou seria necessário diminuir a dívida de forma proporcional à capacidade de pagamento.
O governador de Mato Grosso Pedro Taques esteve no evento e comparou o estado com uma empresa. “Eu administro uma empresa de 100.000 colaboradores e um orçamento anual de R$ 18 bilhões de reais. Esta empresa passa por dificuldades como muitas outras no Brasil e estamos tentando enxergar oportunidades neste cenário de crise”, disse.
Taques falou ainda que esta “empresa” não pode fechar e fez referência ao pagamento do RGA, onde caso ele cumpra os 11,28% de aumento previstos na lei, vai faltar dinheiro em caixa para as próximas folhas salariais. “Seriam R$ 600 milhões a menos circulando na economia. Quantas empresas não podem ser afetadas e até fechar caso isso ocorra?”, refletiu Pedro Taques.
A proposta do economista Raul Velloso em ter um modelo mais orientado para investimentos do que para consumo, converge com o pensamento do governador Pedro Taques, que vem criando um ambiente de negócios mais favorável para atrair investimentos para Mato Grosso. Porém, o grande desafio é ao mesmo tempo que o estado precisa aumentar suas receitas, sendo a arrecadação de impostos uma das formas, como ficaria a questão de incentivos fiscais em Mato Grosso? Muitas indústrias são atraídas para uma determinada região em função de benefícios fiscais. O estado de Mato Grosso já deixou de arrecadar somente este ano, mais de R$ 1 bilhão de reais em impostos, devido aos incentivos do Prodeic originados da gestão anterior. O programa de incentivos passa por reformulação no atual governo e na Assembleia Legislativa, que também possui instaurada uma CPI relacionada à área fiscal.