Acompanhamento das últimas safras de soja em Mato Grosso vem demonstrando aumento da incidência do cascudinho-da-soja, (Myochrous armatus). A nomenclatura comum errônea na hora de identificar a praga presente na lavoura gera desinformação ao produtor. Muita gente assemelha o cascudinho com o torrãozinho (Aracanthus mourei). Mas ambos são de duas famílias de insetos bem diferentes, o que exige controle também diferenciado.
“Produtor e equipe precisam estar atentos para saber distinguir uma praga da outra com a nomenclatura entomológica já estabelecida, pois elas provocam danos às plantas da soja, podem transmitir doenças, reduzir o potencial produtivo da cultivar e consequentemente diminuir a qualidade da produção. Uma identificação correta das pragas nas lavouras ajuda na tomada de decisão sobre qual manejo é o mais indicado para o controle dos insetos”, alertou Clérison Perini, entomologista da empresa mato-grossense de pesquisa agrícola, Proteplan.
Os ataques das pragas na cultura da soja podem causar muitos prejuízos ao setor produtivo. As boas práticas agronômicas, como o manejo integrado de pragas (MIP), que agrega um conjunto de ferramentas para ter um controle mais eficiente, devem ser seguidas à risca pela classe produtora. Uma das premissas do MIP é a identificação correta de tudo que tem na lavoura para a escolha certa dos métodos de controle.
O levantamento do conjunto de informações, mais as táticas de manejo e controle têm de ser feitas com muita atenção, de forma planejada e cuidadosa. De acordo com o pesquisador, a identificação da praga na lavoura é determinante para que o MIP tenha bons resultados.
“Por isso insisto: não pode haver confusão de nomenclatura já estabelecida que possa nos levar a outra espécie. O combate às pragas começa em ter conhecimento de qual inimigo se deve combater. Nas avaliações a campo, encontramos o M. armatus, cascudinho-da-soja, e não o torrãozinho. Mas, por não saber a diferença de um e de outro e pela permanência no erro nos últimos anos, muita gente acha que é a mesma coisa e acredita que o segundo é que está infestando as lavouras em Mato Grosso ou que há presença das duas espécies, quando na verdade só há o Myochrous”, ressalta.
Nas últimas safras de soja, o cascudinho-da-soja, Myochrous armatus (Coleoptera: Chrysomelidae),tem causado danos muito severos nas lavouras. De acordo com Perini, há pelo menos sete anos de ocorrência intensa desse inseto na região sul de Mato Grosso. Mas, atualmente está espalhado em todas as regiões, incluindo médio-norte e norte do Estado. “Essa praga está aumentando os locais de ocorrência em Mato Grosso, onde antes não era encontrada. É uma praga com baixa mobilidade, mas quando se instala é de difícil controle”.
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O torrãozinho é um Coleoptera: Curculionidae. Ele é diferente do cascudinho-da-soja principalmente na morfologia das antenas, aparelho bucal e tarsos. “O torrãozinho tem cor marrom, mede de 4 à 6 mm, com corpo oval, coloração cinza a marrom e élitros com saliências que lembram partículas de solo. Já o cascudinho-da-soja, mede cerca de 5 mm, o corpo é oval de coloração preta-fosca e recoberto de escamas curtas e robustas”, detalhou o especialista.
Quanto ao controle, Perini indica tratamento de sementes e pulverização inicial para diminuir a incidência dessa praga. “A escolha correta do manejo, do produto químico ou biológico passa por fazer a identificação correta do inseto que está infestando a lavoura. Uma confusão ou erro de identificação pode colocar todo um trabalho em risco e causar danos ao bolso do produtor. É preciso fazer o monitoramento contínuo com a correta identificação e não abrir mão de nenhuma ferramenta de manejo”.
OUTRAS PRAGAS – Clérison Perini afirmou aumento das populações de Helicoverpa, principalmente a espécie H. zea nas lavouras de soja que expressam a toxina de Bt. Provavelmente essas populações sobraram das lavouras de milho da safra passada para a soja. Além disso, a ocorrência de H. armigera ainda continua nas áreas de soja convencional e RR. “Foi descoberto recentemente que as duas espécies, H. zea e H. armigera sofrem hibridação. A maior preocupação desse processo é a possível transferência de genes de resistência aos inseticidas ou às toxinas de Bt, o que pode complicar o controle dessa praga. A classe produtora deve ficar atenta com esse fenômeno”.
A mosca- branca é outra praga que teve alta ocorrência na última safra nas lavouras mato-grossenses. Conforme o pesquisador, a incidência maior foi pela condição mais seca no início desta safra. “Além disso, detectamos a incidência de carlavírus CPMMV em plantas de soja que foram enviadas para análise molecular no laboratório da Profa. RenateKrauseSakate, UNESP-Botucatu”. Os danos dessa ocorrência podem ser diretos, pela sucção da seiva, e indiretos com a formação de fumagina e transmissão de viroses. Perini afirmou que foram encontradas muitas moscas-brancas na região médio norte e norte de Mato Grosso. “Temos orientado os produtores a terem atenção redobrada e intensificarem o controle dessa praga.”