Pesquisadores, acadêmicos e lideranças do Estado enxergam à frente uma terceira safra em Mato Grosso e planejam a construção de uma plataforma tecnológica para monitorar chuvas irregulares. Apesar da água ser um recurso natural abundante no planeta, ela pode faltar em algumas épocas do ano e prejudicar a produção agrícola de Mato Grosso.
O secretário da Seciteci Maurício Munhoz ressaltou que é necessário melhor monitoramento das condições climáticas e um sistema que unifique as informações para subsidiar a tomada de decisões no campo e melhorar a construção de políticas públicas ao setor do agronegócio.
Maurício que também esteve recentemente na 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito, disse em reportagem ao MT Econômico, que esse evento foi muito importante para compreender melhor a desertificação do Estado, a mudança de temperatura em diversas regiões e principalmente, entender se Mato Grosso terá água suficiente nos próximos anos para aumentar a produção agrícola.
“No Estado, temos duas safras e já estamos vendo a terceira safra à frente também. Queremos entender se a questão da água pode ser uma ameaça. Nos Estados Unidos há um controle melhor da água, por exemplo. Dependendo da safra, eles fazem um tipo de manejo, se pode ampliar a produção ou esperar um pouco. Queremos fazer o mesmo em Mato Grosso. Apresentamos um estudo para o Fórum Econômico Mundial. Diversas universidades do mundo estão estudando esse assunto”, disse Munhoz.
Representantes do governo do Estado, em conjunto com o campo acadêmico estão desenvolvendo uma plataforma que será um grande big data de informações climáticas. “A ideia é juntar o que o mundo produz e unir numa única plataforma. Hoje as informações são dispersas. Há registros de aumento da desertificação em uma região, desequilíbrio hídrico em outra, sendo assim, fica difícil reunirmos estatísticas. Queremos integrar mais as informações. Se tiver água em abundância, isso é ótimo, mas se houver probabilidade de falta, aí temos uma ameaça à produção agrícola e é preciso cuidar para não faltar a água”, alerta o secretário da Seciteci.
“O governo do Estado tem a Sema para pensar o meio ambiente, mas a Ciência e Tecnologia pode contribuir nesse processo, com uma plataforma tecnológica que agregue informações relevantes e estratégicas visando melhorar o monitoramento climático”, completa Munhoz.
Para debater o tema sobre a possibilidade do plantio de Mato Grosso ser prejudicado devido à desregulação nas chuvas e possível escassez de água em determinadas épocas do ano, reuniram no 1º Seminário Parque Tecnológico – Pensando Mato Grosso professores, doutores Edenir Maria Sinigatto, Rafael Vieira Nunes e Paulo Modesto Filho.
O MT Econômico compareceu ao evento trazendo alguns pontos que foram discutidos e o que os professores pensam sobre esse assunto.
Crise hídrica
Os professores apresentaram seus seminários e discorreram sobre a crise hídrica que o Estado está enfrentando. A professora e doutora Edenir Maria Serigatto, disse que “nós estamos quase em uma inversão climática de chuva! Os volumes continuam os mesmos, mas o período em que a chuva cai está diminuindo. Eu vim para Mato Grosso com 10 anos de idade e, naquela época, haviam três meses de seca nítidos, parava de chover meados de maio. Junho e julho tinham a ‘chuva do caju’ e aí quando chegava meados de agosto, começava a chover de novo, agora não. A chuva neste ano parou em abril, nós estamos em dezembro e não tem chuva o suficiente para encher o rio; os rios estão secos! Olha a lacuna que temos de período, não são mais três meses, se formos contar ‘dá’ sete meses. Não é necessariamente a quantidade de chuva que diminuiu, mas sim, o período que ela tá caindo”, destaca a professora.
A doutora continua explicando que outro fator que está causado essa crise hídrica é o manejo do solo. De acordo com ela, a chuva cai, mas como o volume de água é muito, o solo não tem capacidade para reter essa água, devido à falta de florestas, que foram ocasionadas através dos anos por inúmeros fatores. Dentre eles, a quantidade necessária de terras para pasto e plantio, o escoamento da água acaba sendo superficial. Ocasionando a morte de várias nascentes que levam água para as grandes bacias no Estado.
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Ela finaliza dizendo que “o volume de água de um grande rio, nada mais é do que a somatória do vários pequenos córregos e rios. Um grande rio só existe devido aos pequenos e se as áreas de preservação permanentes estiverem degradadas, o pequeno rio vai morrer e fatalmente, o grande também”.
Por fim, ela dá uma pequena alfinetada nos agricultores do Centro-Oeste. “Se os produtores agrícolas e pecuaristas do centro-oeste fossem inteligentes, eles pagavam para não derrubar mais uma árvore na floresta amazônica. Isso não é mais uma questão de biodiversidade, isso já passa por uma questão alimentar. Se o Estado de Mato Grosso realmente quer continuar como um grande produtor agrícola, ele vai ter que tomar algumas decisões”, segundo Edenir.
Rafael Vieira, discorreu sobre a atual situação da crise hídrica do Estado e reforçou os pontos trazidos pela professora Edenir. Segundo ele, as chuvas não diminuíram em quantidade, o que está ocorrendo é que, há um espaçamento muito amplo entre uma chuva e outra. Ele também apontou a importância da plataforma que está sendo desenvolvida para monitorar essas questões.
“Por haver apenas uma Amazônia, um Cerrado e um conjunto de pantanais e também, por sermos os maiores produtores de alimentos do mundo, o Estado tem função de liderar tecnologia de monitoramento e análise para gestão do seu próprio território, se tornando modelo de gestão territorial, hídrica e climática”. Ele ainda acrescenta que o desenvolvimento dessa plataforma vai ser muito importante não só para a economia num todo, como para a situação socioeconômica do Estado, devido a importância do mesmo na produção de alimentos mundial.
Preocupações climáticas
A questão climática mundial não é um assunto que começou a ser debatido agora. Há anos, várias nações mundiais se reúnem para debater o que pode ser feito para salvar o planeta ou para amenizar os danos causados à natureza pelo Homem.
A 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (Cop 27) que ocorreu no dia 06 de novembro de 2022 no Egito, discutiu temas para ações climáticas. Tais quais, adaptação e resiliência, redução do desmatamento, transição energética, adoção de práticas sustentáveis pelo agronegócio e auxilio de países menos desenvolvidos. O principal objetivo desse encontro, que vem ocorrendo desde 1995, foi o cumprimento de compromissos anteriores já estabelecidos e das metas de redução da emissão de gases do efeito estufa, algo que já foi definido em sessões anteriores.