No início do ano, produtores rurais que precisavam de 20 sacas de soja para comprar uma tonelada de fertilizante do tipo SSP (superfosfato simples), precisam hoje, para a mesma quantidade de fertilizante, de dez sacas de soja, ou seja, a relação de troca caiu para metade. Só no mês de setembro, o valor dos fertilizantes teve queda média de 13%(KCl), 12% (MAP) e 7% (ureia), com cálculos em base de custo e frete. Essa diferença grande pode afetar de maneira negativa a vida de muitos produtores rurais.
Em Mato Grosso, por exemplo, maior produtor nacional de soja, o mais recente levantamento sobre o custo de produção elaborado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), mostra que de julho a setembro houve um recuo de pelo menos 7% sobre o custeio da safra 2022/23.
Em julho, o custeio – que engloba investimentos feitos na aquisição de sementes, fertilizantes e defensivos, entre outros – apontou para um desembolso de R$ 5,17 mil para cada hectare cultivado com soja transgênica. Em agosto, a mesma cotação apontou para R$ 4,95 mil e agora em setembro para R$ 4,80 mil por hectare. Somente por esse indicador é possível observar a relação desequilibrada no decorrer da preparação para o plantio da nova safra. Quem foi às compras mais cedo pagou mais caro. Para todos os cenários de custo, o Imea manteve uma necessidade de produtividade de 60,92 sacas por hectare para empatar receita e despesa. O entanto, o peso dessa produtividade média provoca efeitos diferentes sobre o total de custeio de cada produtor.
Se a retração atual de preços dos fertilizantes favorece e até encoraja alguns produtores rurais, por outro lado, quem comprou fertilizantes na alta e pode precisar vender seus produtos finais a um preço abaixo do esperado, a situação não se mostra nada favorável.
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Segundo Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos e especialista em recuperação judicial e agronegócio, com os preços dos fertilizantes em queda por conta da grande oferta, produtores rurais devem acender o botão de alerta para um cenário de possível crise. Cenário esse vivido na safra 2004/05, quando os preços também provocaram desequilíbrio entre receita e despesa. ”Os preços dos fertilizantes estão começando a cair por conta da grande oferta. Alguns produtos, como o milho, que costumavam subir nesta época do ano não está subindo, tornando fator negativo a diferença de preços de quem comprou fertilizantes na alta e que agora pode não conseguir remunerar esse preço, caso os produtos finais, como soja, milho e algodão, estiverem abaixo do preço estimado, o que é uma expectativa por conta da queda dos insumos do setor. Por isso, este é um momento preocupante para os produtores rurais que dependem da venda de tais produtos”, destaca Duek.
Segundo o especialista, muitos produtores já falam em grandes prejuízos e que, dependendo da perda, pode acarretar na necessidade de uma recuperação judicial pela grande diferença de preços. “Dependendo do estado de saúde financeira desse produtor rural, ele pode não suportar tamanho prejuízo financeiro e, realmente, será hora de recorrer a uma recuperação judicial”, finaliza.
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