"O caminho para tornar MT livre sem vacinação" realizado nesta quinta-feira (22/10), no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), em Cuiabá. O evento presencial foi transmitido ao vivo pelo canal da Famato no YouTube.
Os impactos da retirada da vacina contra a febre aftosa para o produtor rural foram discutidos no encontro. "O produtor rural tem um papel importante em todo o processo de retirada. O produtor vai ser o principal agente na vigilância, mantendo a sanidade de seus animais e informando aos órgãos de defesa sanitária as movimentações do seu rebanho", disse o chefe da Divisão de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Diego Viali dos Santos.
O vice-presidente do Sistema Famato, Francisco Pugliesi de Castro, conhecido como Chico Castro, destacou a importância do produtor rural nesta caminhada do estado para ser considerado livre da febre aftosa sem vacinação: "O produtor rural é o grande responsável por conquistarmos a imunização do rebanho. Entendeu a importância de vacinar e cuidar do seu plantel e, por isso, hoje temos condição de retirar a vacinação com segurança e manter a sanidade animal dos nossos rebanhos", afirmou Chico durante sua participação como debatedor de um dos painéis do evento.
Baseado em estudos, Chico Castro destacou que em Mato Grosso não há vírus circulante. "Nesse momento, conforme os estudos apontam, não há vírus circulante em Mato Grosso. A mensagem hoje é: tudo está sendo feito com responsabilidade. Não haverá retirada da vacinação sem as garantias de segurança necessárias", assegurou.
Integrante de um pequeno pedaço do Bloco I, que já não vacina mais e tendo a maior parte do Estado no Bloco IV, Mato Grosso se destaca como o estado mais pujante com seu rebanho de 30,98 milhões de bovinos.
Aos estados distribuídos pelo Mapa em cinco blocos é necessário o cumprimento de 42 ações do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PNEFA) para que alcancem o status livre sem vacinação. Em Mato Grosso são exigidas 41 delas que estão sendo trabalhadas pelo grupo gestor desde 2017.
Mercado – A cadeia produtiva perde anualmente R$ 86 milhões com a vacinação. Atualmente, em Mato Grosso a vacinação é feita em duas etapas, o que representa aproximadamente 43 milhões de doses, ao custo de R$1,50 cada, totalizando R$ 64 milhões de investimento ao ano. Estima-se ainda uma perda para o produtor de mais 19 milhões ao ano com a lesão dos animais. "A retirada da vacina em Mato Grosso vai deixar no bolso dos produtores R$ 86 milhões a cada ano", reforçou o chefe da Divisão de Febre Aftosa, Diego Santos. Para se ter uma ideia, o custeio anual para a manutenção do Indea-MT é de aproximadamente R$ 25 milhões.
Para que Mato Grosso se torne livre da doença sem vacinação, os membros do Comitê Gestor Estadual devem fazer a gestão seguindo um cronograma factível e de acordo com todas as ações concluídas em andamento adequado.
Os representantes de Mato Grosso devem continuar monitorando periodicamente os indicadores dos demais estados que fazem parte do Bloco IV, a fim de saber se todos estão sincronizados. "Cada estado tem a liberdade de decidir se permanecerá no bloco, aguardando que todos os demais concluam suas ações ou se deve propor um plano B", apontou Diego Santos.
Pelo andamento das ações, até o momento, o panorama do Bloco IV não é favorável para a retirada da vacina, levando em conta que alguns dos 11 estados estão atrasados no cumprimento das exigências.
A criação de fundos privados foi apontada como uma das principais medidas de segurança para os produtores, em casos de ocorrência da doença. Nesse quesito Mato Grosso sai na frente, já que os produtores contribuem para Fundo de Emergência de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso (Fesa-MT).
Durante o Fórum também foram apontados os avanços sanitários, desde 2017, quando o governo federal publicou o plano de metas e ações para suspender a vacinação em todos os estados até 2026.
O Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) realizou em 2017, por exemplo, monitoramento dos animais, movimentação dos produtos, visitou fronteiras e divisas e implantou os processos para georreferenciamentos.
Em 2018, a equipe gestora se reuniu com produtores de Colniza, Aripuanã, Rondolândia e parte de Comodoro e Juína para a apresentação do plano estratégico. Realizou visitas às propriedades cadastrando e atualizando os cadastros, como também aplicando métodos de educação sanitária. Em 2020 reforçou as visitas esclarecendo dúvidas sobre o trânsito de animais e comunicado de rebanho ao Indea.
Outro avanço significativo foi a implantação de barreiras para que o município de Rondolândia e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína entrassem na Instrução Normativa nº 52, publicada em 14 de agosto de 2020 pelo Mapa, e fossem reconhecidos como livres de febre aftosa sem vacinação, por fazerem parte do Bloco I.
Para o coordenador de Defesa Agropecuária do Indea, Felipe Peixoto, o maior desafio é a sorologia, que trata-se da coleta de sangue dos bovinos que confirmam a sanidade pela a ausência da circulação viral.
Para 2022, é esperada a reforma de mais 70 unidades do Indea no estado, sendo que em dois anos várias unidades foram reformadas. Além disso, são aguardados convênios para envio de amostras aos laboratórios, inclusive já existe um convenio com o Fesa-MT e a implantação de compartilhamento de documentos em andamento.
O coordenador do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), Alejandro Rivera, destacou os riscos de Febre Aftosa e vulnerabilidades para a reintrodução.
Riviera desmistificou uma das grandes preocupações de contágio, ou seja, as fronteiras da América do Sul. Segundo ele, dos 13 países que fazem parte da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa) – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela e Uruguai – a Venezuela é a única área de risco que precisa ser mitigada.
O coordenador deu orientações de ações que devem ser adotadas tais como a gestão de riscos e prevenção, gestão de riscos de exposição e propagação, planos de contingência e preparação para emergências.
Também participaram os diretores da Famato, Vilmondes Sebastião Tomain (Administrativo e Financeiro) e José Luiz Fidelis (Relações Institucionais), o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, técnicos do Sistema Famato, representantes do governo do Estado de Mato Grosso, órgãos de defesa animal do estado e entidades representativas do agronegócio.
As participações onlines foram feitas pelo chefe da Divisão de Febre Aftosa do Mapa, Diego Santos, o chefe Nacional de Sanidade Animal (Senasag) da Bolívia, Jorge Berrios e do coordenador do Panaftosa, Alejandro Rivera.
O Fórum foi organizado pelas entidades: Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Acrismat (Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso), Aproleite (Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso), Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), Fesa (Fundo Emergencial de Saúde Animal), CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária) e Sindifrigo (Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso).
A gravação do evento, na íntegra, está disponível no canal do YouTube da Famato https://youtu.be/rF_PbCbnrUU.