De acordo com um estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a participação dos fertilizantes na agricultura brasileira pode ‘abocanhar’ até 40% dos investimentos necessários à produção, considerando as culturas de soja, milho e trigo. Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do País, por exemplo, na sojicultura o comprometimento com a parcela ‘fertilizantes’ consome até 37% dos custos variáveis.
Atualmente a participação destes produtos fica dentro de uma margem entre 30% a 40% nos custos variáveis, a depender da região produtora e do produto analisado, destaca o estudo. “Vale ressaltar, no entanto, que este percentual contempla os valores praticados até fevereiro deste ano. O conflito entre Rússia e Ucrânia, por sua vez, teve início no final do mês passado. Com isso, o impacto, tanto nos preços recebidos pelos produtores como nos valores pagos pelos insumos, será melhor mensurado a partir das apurações a serem realizadas ao longo deste mês”, pondera o gerente de Custos de Produção da Conab, Rodrigo Souza.
Entidades do agro de MT se articulam para não sofrerem com escassez de fertilizantes
No caso do trigo, os fertilizantes representam cerca de 33% dos custos variáveis em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, enquanto que no município paranaense de Cascavel, o percentual chega a 38%. Para o milho 2ª safra, o peso destes insumos chega a 33% em Sorriso (MT). Já no cultivo de soja no município mato-grossense o percentual de participação dos fertilizantes atinge um índice de 37%.
“Qualquer aumento nos preços de fertilizantes impacta de maneira significativa nos custos para os produtores e esse movimento tende a influenciar as cotações dos produtos finais disponibilizados ao consumidor”, reforça Rodrigo Souza. “Mesmo com essa elevação nos valores de comercialização do grão, as margens bruta e líquida para os agricultores seguem uma tendência de queda, dada a dificuldade de repasse entre a produção e o varejo”.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, cerca de 22% dos fertilizantes importados no último ano tiveram como origem a Rússia, seguido da China com 15% e do Canadá com 10%. O Brasil importa mais de 85% dos fertilizantes utilizados na agricultura e no caso do potássio são 95% do seu consumo.
NOVOS PARCEIROS – A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, se reuniu nessa semana com representantes de países árabes para debater a possibilidade de aumentar a exportação de fertilizantes para o Brasil. Segundo a ministra, com a redução das exportações de Rússia e Bielorrusia, o Brasil precisa trabalhar em uma “diplomacia dos insumos”.
Juntos, os países árabes fornecem 26% dos fertilizantes importados pelo Brasil, segundo a Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Entre os principais fornecedores do bloco estão Marrocos, Catar, Arábia Saudita, Egito, Omã e Argélia.
A ministra disse que o Mapa vai conversar com empresas e cooperativas do setor agrícola sobre o interesse em aumentar a compra desses produtos dos países árabes. “É muito importante mostrar o potencial dos países árabes para esse suprimento, para que as empresas brasileiras conheçam esse potencial. Vivemos um momento importante de crise, mas também de oportunidades para os dois lados”, ressaltou Tereza Cristina, em audiência com embaixadores árabes e representantes da Câmara.
O governo também trabalha na logística para a importação de fertilizantes. “Já identificamos muitos gargalos nos portos brasileiros e estamos estudando como resolver no curto prazo”, informou a ministra.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi, disse que a entidade também irá trabalhar para aproximar ainda mais as empresas árabes de produtores brasileiros. “Os países árabes são fornecedores importantes de diferentes tipos de fertilizantes para o agronegócio brasileiro, e o Brasil é muito importante para os países árabes em matéria de segurança alimentar”, ressaltou.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Bastos, ressaltou a importância de o Brasil diversificar as origens de suas importações de fertilizantes. “Estamos em um momento em que o Brasil precisa aumentar o volume de importação para se preparar para a próxima safra”, disse.
Ministra diz que Brasil tem fertilizantes suficientes até o início da próxima safra
BRASIL NA FAO – As preocupações do Brasil e da América do Sul com as sanções à exportação de fertilizantes serão levadas à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na próxima semana. Como presidente da Junta Interamericana de Agricultura, a ministra Tereza Cristina, irá apresentar o tema para ser debatido durante a Mesa Redonda sobre Insumos para Sistemas Agroalimentares Sustentáveis da FAO, que acontece no dia 16 de março.
O encontro terá a participação do diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, da Enviada Especial do Secretário-Geral para os Sistemas Alimentares, Agnes Kalibata, e do Diretor-Geral do IICA, Manuel Otero. Segundo a ministra, o objetivo será promover intercâmbio franco e aberto sobre os principais desafios que se impõem ao setor agropecuário dos países das Américas no atual contexto econômico e geopolítico do pós-pandemia.
“A imposição de sanções unilaterais à exportação de fertilizantes nos parece grave, pois representa ameaça à segurança alimentar mundial, especialmente dos países mais vulneráveis. Fertilizantes não podem sofrer sanções, porque se o custo de produção aumenta, sobe também o preço do alimento produzido. E quem mais sofre com essa inflação são as nações que, por razões climáticas, geográficas ou econômicas, não podem produzir boa parte dos alimentos que consomem”, argumenta Tereza Cristina. Ela defende que, assim como os alimentos, os fertilizantes devem ser livres de sanções comerciais, para garantir a própria produção de alimentos.
Redução da adubação pode ser saída para alta no custo de fertilizantes