Com a colheita da soja muito próxima do fim, neste ciclo 2023/24, em Mato Grosso, já é possível acessar resultados de alguns experimentos realizados nesta temporada. O quebramento de hastes nas lavouras de soja é uma preocupação há algumas safras, e tem relação direta com o clima.
Desde a safra 2020/21, a pesquisadora Alana Tomen, que é especialista em fitopatologia, faz experimentos para avaliar a ocorrência do quebramento de hastes nas lavouras de soja. Para a safra 2023/24, o número de avaliações foi triplicado nas três áreas de pesquisa. Foram sete semeaduras em diferentes períodos, de setembro a dezembro de 2023.
“Buscando identificar as condições climáticas comuns em ambientes com e sem quebramento de haste, nós fizemos uma análise de regressão considerando cada situação ocorrida nas últimas quatro safras. A partir desse estudo, nós conseguimos identificar seis condições climáticas favoráveis para ocorrência do quebramento. Coincidentemente, todas as condições estão na fase vegetativa e aquelas com efeito mais importante se limitaram até o estágio fenológico V5, ou seja, até 30 dias após a emergência das plantas. Isso nos permite saber quais são as condições favoráveis e a partir daí, podemos nos preparar para o problema que possa vir ou então, ter a tranquilidade de que o problema não virá”, explicou a engenheira agrônoma, pesquisadora e sócia da Proteplan, Alana Tomen. Os resultados derivam de experimentos considerando fungicidas, variedades e culturas de cobertura que podem reduzir significativamente a frequência de quebramento de haste e o apodrecimento de vagens e de grãos.
Mato Grosso possui a maior área de plantio de soja do país. São mais de 12 milhões de hectares espalhados em regiões com perfis meteorológicos diferentes. “Existem conceitos que devem ser respeitados, que diz respeito a época de aplicação de defensivos, intervalo de aplicação, espectros de controle de cada produto, a sensibilidade de cada cultivar a cada doença, e tudo isso em Mato Grosso é potencializado, porque o estado possui a maior área de plantio de soja, facilmente dividida em oito regiões, com sistemas climáticos diferentes que embutem diferenças na recomendação dos produtos. Mas, por trás a gente tem os conceitos que baseiam tudo isso”. Os experimentos foram feitos em três estações experimentais: Campo Verde, Sorriso e Campo Novo do Parecis, e nós experimentamos diversas situações de controle de doença para tentar trazer, em um evento como esse, os conceitos que sirvam para qualquer situação e possam ser adaptados e aplicados, para que o produtor perca menos com doença e colha mais” comenta o pesquisador e sócio-proprietário da Proteplan, Fabiano Siqueri.
SAFRA 2024/25 – O fenômeno climático La Niña, previsto para ocorrer no segundo semestre de 2024, traz um melhor cenário para o aumento de produtividade das lavouras do cerrado, já que existe maior regularidade de chuvas, mas também traz um alerta: a maior ocorrência de doenças.
“Uma correlação importante considerada por nós é: se o clima é bom para soja, é bom também pra doença da soja. Essas condições são semelhantes, patógenos e plantas necessitam de umidade, chuva, e plantas bem desenvolvidas resultarão num microclima mais favorável para os patógenos. Então, é de se esperar um ano de pressão maior de doenças, e se confirmando ser um Lá Niña, e sendo um Lá Niña típico, as chuvas acontecem um pouco mais cedo e com isso desenvolve doenças mais cedo também”, pontua Fabiano.
Sendo mais pressionada por patógenos, a próxima safra precisa ser construída com estratégia que venha a mitigar o desenvolvimento e a resistência dos fungos. O pesquisador em Fitopatologia, Ivan Pedro, apresentou um plano de ação para que o produtor tome a decisão sobre a compra de fungicidas.
“A escolha dos fungicidas deve levar em consideração a época de semeadura, a cultivar plantada e a região em que a cultura está semeada. Nós temos fatores regionais que são importantes, pensando em inóculo local, pensando em expressamento das doenças, em nível tecnológico do agricultor, do produto, nós temos como premissa a eficiência no controle. Temos que montar programas de manejo, onde busque espectro, onde as aplicações tenham ação sobre diferentes patógenos alvos que estão ali: as manchas foliares, em algum momento ferrugem e outras doenças. Buscar dentro de um contexto a versatilidade de posicionamento, produtos ou combinações que são mais específicas para fase inicial da soja, para fase de florescimento pleno, enchimento de grãos e o fechamento da cultura da soja.”, pontua Ivan.
Quando o assunto é o ataque de pragas, os pesquisadores chamam a atenção para o percevejo barriga-verde. A pesquisa realizada por Clerison Perini, doutor em Entomologia, revela as estratégias para compreender a ocorrência do inseto e a melhor forma de manejá-lo.
“São pesquisas bem aplicadas ao produtor, ao manejo de pragas, tentando entender e compreender a ocorrência, os momentos que elas são mais sensíveis aos produtos, as estratégias de manejo cultural, manejo biológico sobre esses insetos e também entender sobre os danos desses insetos, pois é isso que vai fazer o produtor realizar um controle ou não. O percevejo barriga verde, nós estudamos nas últimas safras, que no período de entressafras e começo do plantio da soja, as populações são mais sensíveis aos inseticidas que nós testamos. Muito mais sensíveis do que quando comparamos com as populações que estão lá no meio da soja, na fase de enchimento de grãos. Isso ocorre porque, com as plantas maduras, os insetos estão mais bem alimentados e nutridos, o que os torna mais tolerantes aos produtos, na comparação com as populações que estão mais debilitadas por falta de alimentação ou por alimentação mais deficiente nutricionalmente, na entressafra”, explica o Dr. Clerison.