Avaliando a última safra de soja, especialmente em Mato Grosso e no Centro-Oeste, foi evidente o aumento na incidência de nematoides nas lavouras. O alerta é da pesquisadora e nematologista da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Tânia Santos, que ressalta que é preciso ficar de olho no manejo para o ciclo 2022/23.
Para orientar e sanar dúvidas, principalmente sobre o momento certo de identificação desses patógenos, a instituição realizou na última terça-feira, a live gratuita “É Hora de Cuidar”, com participação de Tânia e da também pesquisadora e doutora em fitopatologia, Rosangela Silva.
Uma das temáticas do evento é o monitoramento e o momento certo de coleta para a avaliação dos nematoides. Esse assunto é apontado pela especialista Tânia como fundamental para o sucesso do manejo. “O ideal é monitorar sempre os sintomas na parte aérea da cultura, geralmente, observamos manchas em reboleiras, onde as plantas ficam pequenas e amareladas, e onde as folhas afetadas, às vezes, apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha ‘carijó’”, relata.
Ainda pode ocorrer de muitas vezes não haver redução no tamanho das plantas, mas no florescimento, de acordo com ela, pode acontecer o abortamento de vagens e amadurecimento prematuro. “Comumente esses sintomas não são tão evidentes, por isso é importante fazer a análise nematológica, para identificar o tipo de nematoide e a população presente”, reforça.
Fazer a coleta de solo e raízes, sempre que identificar ou observar algum sintoma, ou ainda quando houver queda de produtividade na safra anterior, são outras recomendações de Tânia. Ela destaca ainda que é preciso enviar a um laboratório de confiança para análise. “O momento certo de coletar essas amostras é no início da floração da cultura da soja até a maturação. Esse é o período ideal, porque o nematoide completa de dois a três ciclos nas raízes da planta”, sinaliza a profissional.
VILÕES DE VÁRIAS SAFRAS – O problema com os nematóides, em Mato Grosso, tem aumentado nos últimos anos, e a preocupação maior é com: Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita e Heterodera glycines, e não menos importante o nematoide das lesões, (Pratylenchus brachyurus), frequentemente encontrado nas amostras de solo e raízes. Entretanto, ainda temos o Rotylenchulus reniformis, que pode não ocasionar perda na soja, porém, na cultura subsequente, como é o caso do algodão, e ainda perdas mais expressivas.
O aumento da população desses patógenos não ocorre só no Estado, mas também na região Centro-Oeste do País, que segundo a pesquisadora da Fundação MT se deve ao monocultivo – (soja/milho ou soja/algodão) – e a utilização de cultivares de soja suscetíveis ao longo das safras.
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AMOSTRAGEM – Para que os resultados estejam de acordo com a realidade da fazenda, é necessário realizar a coleta de amostras para a diagnose da maneira mais correta possível e no tempo certo. Para a coleta de solo e raízes é recomendado que estas sejam feitas no início da floração da cultura, aproximadamente aos 40 ou 60 dias após a emergência. “Também indicamos coletar essas amostras, sempre que possível, na bordadura da reboleira, ou seja, proveniente da rizosfera. No caso de raízes, atenção especial às radicelas, que devem ser coletadas de preferência no ciclo anterior a um novo plantio”, explica a pesquisadora.
Ao fazer a coleta, utilizar ferramentas corretas, tais como enxadas, enxadões e pás. Sempre identificar a embalagem que for colocar esse material, sendo esta de plástico para não perder as características iniciais da amostra. “Durante a amostragem, deve-se caminhar em ‘zigue-zague’, abrindo o solo em forma de V. Coletar as plantas que mostrem os sintomas moderados, evitando aquelas com muitos sintomas ou que estejam muito depauperadas. Nas reboleiras, amostrar na periferia dela”, salienta a especialista.
Outra orientação importante é coletar na profundidade de 0 a 25 ou 30 cm. “Com destaque para obter 10 sub amostras a fim de formar uma amostra composta e aí desta homogeneizar bem e enviar para o laboratório ao menos 1kg de solo e 20 gramas de raízes, devidamente embalada e identificada de acordo com a área amostrada”, completa Tânia.
O ALERTA – Os danos causados pelos nematoides na soja são muito significativos, especialmente no Cerrado brasileiro como um todo, onde existem condições favoráveis ao desenvolvimento e multiplicação deles. Para a pesquisadora, falta ao produtor aprender a conviver com esses patógenos, pois uma vez presentes na área é impossível erradicá-los. “Por isso é tão importante fazer a correta diagnose da espécie que está na lavoura, aliada ao uso de ferramentas de manejo comprovadamente eficientes, baseadas em resultados de pesquisa, assim é possível melhorar a situação”, diz.
Várias ferramentas de manejo estão disponíveis no mercado, com diferentes graus de eficiência, dependendo do trabalho adotado pela fazenda. “Podemos apontar as cultivares resistentes, rotação de culturas, utilização de nematicidas químicos e/ou biológicos e ainda culturas de cobertura para introdução de matéria orgânica no sistema. Cabe ao produtor analisar a relação custo/benefício de cada ferramenta e escolher o que mais se adequa à sua lavoura”, finaliza a pesquisadora.
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