Para garantir a implementação de soluções viáveis e sustentáveis dentro da cadeia produtiva da pecuária de corte, o Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac) desenvolve e investe numa série de projetos, pesquisas e ferramentas que buscam ampliar a produção, a qualidade e a sustentabilidade da carne. Parte dessas iniciativas foi apresentada pelo presidente do Imac, Caio Penido, em um evento em São Paulo, na última terça-feira (30).
Penido participou do painel “Pecuária sustentável na prática. Como a pecuária brasileira atua em direção a uma atividade mais rentável e sustentável”, mediado pela presidente da Sociedade Rural Brasileira, Tereza Vendramini, ele pôde destacar algumas iniciativas que estão alinhadas justamente com a proposta de viabilizar a sustentabilidade econômica, ambiental e social dentro da pecuária de corte.
“O Imac atua em iniciativas que buscam apresentar soluções tecnológicas, ágeis e legais para os integrantes da cadeia da carne. São ferramentas que podem reintegrar pecuaristas ao mercado formal da carne bovina, padronizar e melhorar a qualidade do produto e implementar uma certificação que dê destaque a legalidade da produção de carne bovina”, explica Caio Penido.
Entre os programas citados pelo presidente, está o MAPADOCAR, uma iniciativa que integra diferentes entidades de classe para investir no aprimoramento da qualidade dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR) apresentados hoje à Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Essa base de dados será utilizada pelo produtor para desenhar seu CAR e será compartilhada com o órgão ambiental, evitando divergências e dando celeridade às análises aos cadastros.
“O objetivo é ter um banco de dados e imagens unificado e certificado para a confecção do CAR em Mato Grosso. Muitos processos ficam parados justamente por falta de qualidade do CAR apresentado”, explica o presidente.
Caio Penido destacou que a atuação do Imac busca promover a cadeia produtiva da carne bovina em Mato Grosso, desenvolvendo ações com a produção, processamento e diretamente com o consumidor final. “O Imac atua para promover a carne de Mato Grosso, seja abrindo a possibilidade para que produtores realizem a recuperação de áreas degradadas ilegalmente, monitorando a partir de critérios socioambientais a compra de animais para a indústria e levando informações ao consumidor sobre o perfil da qualidade da carne produzida no estado. E todos esses projetos contam com participação do Governo do Estado, indústrias instaladas, Ministério Público Federal e pecuaristas.”
Para o presidente do Imac, o Brasil está posicionado na temática ambiental. “Nós temos um agronegócio rico, pujante, mas ainda precisamos melhorar o desenvolvimento social das comunidades vulneráveis nas florestas e centros urbanos”.
“Preservar é um bom negócio para a produtividade da propriedade, além de ser bom para todos aqueles que são beneficiados pela preservação de nossos recursos naturais: biodiversidade, carbono e água. Mas o mundo não valoriza e não paga pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas e, por isso mesmo, é urgente a rápida regulamentação dos chamados PSA (Pagamentos por Serviços Ambientais), que reconhece isso através do pagamento pelos serviços ambientais prestados pelas florestas cuidadas pelo produtor rural”, destaca Penido.
Segundo ele, a possibilidade de sua implantação representa a justa compensação financeira a àqueles que prestam serviços gratuitamente até hoje em benefício de toda sociedade. “Assim, serão mais estimulados a manter as Reservas Legais e Áreas de Preservação em suas propriedades, adotando boas práticas agropecuárias e respeitando os limites naturais”, afirmou.
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RECIPROCIDADE CLIMÁTICA – De acordo com Caio Penido, o Brasil assusta pelo seu potencial produtivo e é natural se tornar alvo de políticas que tentem coibir este crescimento ou taxar esse desenvolvimento.
“O Brasil vem intensificando a produção de bovinos e empregando alta tecnologia, que permite melhorar os índices produtivos sem a necessidade de abertura de novas áreas. Programas como Agricultura de Baixo Carbono ABC+ e sistemas de produção como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) estão garantindo excelentes resultados e auxiliando no processo de descarbonização da pecuária“, destacou.
Segundo Penido, a legislação brasileira é uma das mais exigentes do mundo e isso precisa ser considerado pelos nossos parceiros comerciais. “O Brasil é pressionado pela Europa que exige o desmatamento zero, não podemos desmatar nada e no chão de nossas fazendas temos o Código Florestal sendo aplicado. O produtor, seja pequeno, médio ou grande, está subordinado a uma legislação brasileira completa, amplamente discutida e complexa. Há um grande desentendimento da Europa sobre nossa legislação, o que gera toda esta confusão”, apontou.
Ele defende que o Brasil exija dos parceiros internacionais a chamada reciprocidade climática. A proposta, dita pela primeira vez pelo governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, durante a COP26, propõe uma contrapartida dos parceiros comerciais na recuperação de ativos ambientais que eles deixaram de ter quando passaram pelo processo de industrialização e até mesmo colonização de outros estados.
Segundo Penido, este posicionamento é uma das lições mais significativas da COP26, realizada em Glasgow, na Escócia. Para o Imac, considerando a relevância do Brasil na discussão ambiental, “devemos nos posicionar mais propositivos, atuantes e cobrando ações semelhantes em outros países, no que tange a preservação ambiental, da biodiversidade e dos recursos hídricos no mundo”.
Neste sentido, as organizações internacionais, governos e a ciência são convidados a auxiliar o Brasil a atingir as metas, considerando o respeito ao meio ambiente e desenvolvimento social e econômico das comunidades locais. “As exigências realizadas não podem desconsiderar os princípios da legalidade, direitos e deveres de cada uma das partes e, portanto, não podem ser imposições de fora para dentro apenas”, finaliza o presidente do Imac.