Riscos à parte, produtores de Mato Grosso avaliam uma nova estratégia para a segunda safra no ciclo 2023/24: Migrar das lavouras de milho para o plantio do algodão. Mesmo que haja diferença entre as estruturas para quem cultiva o cereal e para quem planta a fibra, a pauta está em discussão dentro do agro mato-grossense.
O maior gasto de uma lavoura de algodão é com produtos fitossanitários e, desde o ano passado até o presente momento, os custos com fungicidas, inseticidas e herbicidas diminuíram em cerca de 35% em Mato Grosso, maior produtor nacional da pluma. Com isso, o Custo Operacional Total favoreceu os cotonicultores, e foi acompanhado de certa estabilidade nos preços de vendas da commodity nos últimos seis meses. Combinados, os dois fatores levam a uma rentabilidade melhor com a cultura.
Já o milho amarga forte queda em suas cotações, com preços despencando nos últimos meses em mais de 39%. Além disso, a margem líquida da safra 2023/24 para o cereal no Estado também reduziu, tornando-se pouco atrativa. Mesmo com os custos menores com fertilizantes, a rentabilidade do produtor de milho foi sendo comprimida. Os dados são da Agrinvest Commodities, que acompanha o cenário com projeções atualizadas semanalmente.
Em razão deste quadro, alguns produtores têm avaliado substituir o milho pelo algodão na segunda safra ou optar pela redução de tecnologias para aliviar os custos. Em Mato Grosso, é bastante esperado que grandes grupos produtores façam a substituição de uma cultura pela outra, no entanto, os especialistas sugerem ponderação de alguns aspectos antes da tomada de decisão.
Para Jeferson Souza, analista de inteligência da Agrinvest, são vários os fatores que precisam ser ponderados na decisão de substituir o milho segunda safra. “Os custos do algodão são praticamente três vezes maiores do que os custos operacionais do milho. Além do maquinário ser muito mais caro, é preciso analisar a capacidade das algodoeiras e a logística, pois tudo isso impacta diretamente na rentabilidade. Então, o risco e retorno do algodão é muito maior porque o investimento também é maior”, pontua o analista.
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LEI DA OFERTA E DEMANDA – A demanda global da pluma e o quanto isso pode impactar na relação de troca do cotonicultor e vendas da safra futura é outro aspecto importante que será levado ao debate. “Olhando para a rentabilidade, hoje o algodão tem uma performance melhor que o milho safrinha, porém, os custos ainda são elevados e ainda é um mercado que está sob tensão. Com a previsão de aumento da produção no Brasil, é fundamental analisar o mercado consumidor. Se não houver uma resposta do lado do comprador para absorver essa maior oferta, existe a chance de queda nas cotações do algodão no ano que vem”, ressalta Souza.
A preocupação é validada pelo International Cotton Advisory Committee (ICAC), descrita no último Relatório de Safra da Abrapa, no início de agosto. O órgão projeta aumento de 530 mil toneladas na demanda global, estimada em 24,41 milhões de toneladas, alta de 2,2% em relação à safra vigente. Mas, apesar de positiva, a projeção demonstra enfraquecimento devido à inflação nos países desenvolvidos e ao baixo apetite de compras de seus consumidores.
Ainda conforme o relatório, em pesquisas de confiança do consumidor, as pessoas relatam que se sentem desconfortáveis com o futuro das economias e ainda percebem a pressão dos preços mais altos. Apesar da inflação ter diminuído significativamente, a população não tem constatado esse fato no dia a dia. A impressão, para elas, é de que os preços parecem ainda estar superando os salários, também, em países mais ricos.
“Então esse é o grande risco que nós temos. O aumento de área significa mais oferta no mercado, vamos ter que entender como o comprador vai se comportar, olhando exportação, demanda interna, todos esses movimentos. Se o produtor não fizer as fixações direito, antecipadas, gestão de risco boa, significa que ele pode ter um problema mais para a frente”, ressalta o analista da Agrinvest.