Um dos principais desafios do agricultor brasileiro para as safras subsequentes será o ajuste do orçamento diante dos expressivos reajustes nos preços médios dos fertilizantes. Matérias-primas que vêm registrando escalada sobre as cotações e ainda não embutem os impactos dos conflitos no Leste europeu. Uma das alternativas possíveis para mitigar essa situação, pensando-se no equilíbrio financeiro sem prejuízos à produtividade, diz respeito a redução da adubação.
A área de solos, nutrição e sistemas de produção da Fundação MT, realiza, há inúmeras safras, pesquisas que demonstram que esse ajuste nem sempre desfavorece os resultados da lavoura, mas para isso há critérios a serem observados.
O ponto de partida é ter uma assistência técnica de qualidade e basear todas as decisões no histórico de produtividade das culturas envolvidas no sistema produtivo da área, monitoramento dos teores dos nutrientes, através de análise de solo de qualidade, aspectos físicos do solo (textura, densidade, infiltração de água) e boa distribuição de fertilizantes.
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Uma orientação genérica para a decisão de reduzir a adubação é a lógica da poupança, como destaca o pesquisador-mestre em Ciência do Solo, da Fundação MT, Felipe Bertol. “Ou seja, se na safra passada o produtor fez o manejo da adubação com a perspectiva de produzir mais, mas em razão das condições climáticas ele produziu menos, então nesta safra é possível aproveitar o que não foi exportado ano passado”. No entanto, é preciso avaliar qual a dinâmica do nutriente a ser poupado, o papel dele na planta e as características do solo, e estando com sobras, a redução pode ser feita com tranquilidade, como é o caso de nutrientes como fósforo e potássio em solos de fertilidade construída. Matérias-primas em que o Brasil e Mato Grosso – maior produtor nacional de grãos e fibras – dependem fortemente da produção de mercados produtores como a Rússia.
Por outro lado, se o solo é frágil, com textura mais arenosa, é necessário ser ainda mais criterioso com a redução, mesmo que seja uma área com investimento na adubação em toda safra. A Fundação MT orienta então que é possível reduzir sim, sobretudo em sistemas produtivos com acidez do solo corrigida, ciclagem de nutrientes através de plantas de cobertura na entressafra e boa cobertura vegetal ao longo do ano. Ou seja, é necessário ter maior critério para a diminuição da adubação, visto a fragilidade do sistema. Isto somente é possível com manejo do sistema bem feito, histórico de cultivos e amostragem de solo de qualidade. “Em todo o país, inclusive em Mato Grosso, a maioria das regiões agrícolas apresenta solos mistos a arenosos, muito comum em regiões de baixadas, próximos a rios e matas”, explica Bertol.
IMPACTOS NA SAFRA SEGUINTE – Bertol explica ainda que se a poupança da adubação existe no solo, feita em safras anteriores quando os preços dos fertilizantes eram relativamente mais baixos, o agricultor também pode optar por reduzir a zero a adubação nas próximas safras, ou ainda fazer a manutenção apenas do que é exportado pela cultura em cada ciclo. No entanto, a orientação é para que o monitoramento dos teores no solo seja feito, é essencial, sendo essa uma opção e não uma prática contínua.
Vale destacar que o impacto na produtividade pode acontecer futuramente, desta forma é importante pensar num planejamento a longo prazo, visto as incertezas dos preços dos fertilizantes para safra seguinte. Logo, a retirada total de safras sucessivas pode ocasionar uma redução da produtividade que obrigara o agricultor a fazer um investimento maior em época de preços de fertilizantes desfavoráveis.
RESPOSTAS DO SOLO – Para o agricultor ter clareza se reduz ou tira a adubação, a conta deve ser feita a partir dos níveis de fertilidade do solo. “Os níveis baixos, médios, altos e muito altos no solo determinam a curva de resposta e probabilidade de retorno. Um solo que apresenta nível baixo de fertilidade indica que a disponibilidade de nutriente para a planta é baixa, logo, se ocorrer o aporte de nutriente, via fertilização, a probabilidade de resposta produtiva é alta”.
Já em solos com média e alta fertilidade, a probabilidade de resposta é menor, sendo baixa ou quase nula, respectivamente. “Nesses podemos retirar a adubação com tranquilidade, pois já há uma segurança com a questão de reposição”, orienta o pesquisador.
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