Mato Grosso se mantém vanguardista na fabricação de biodiesel, com uma produção crescente nos últimos 13 anos. Entre 2007 e 2021, a capacidade produtiva do biocombustível cresceu 15.052%. De 3,8 milhões de litros, produzidos no primeiro quadrimestre daquele ano, saltou para 582 milhões (l) nos 4 primeiros meses de 2021. Atualmente, é o segundo maior produtor nacional do derivado vegetal, com participação de 20,51% na capacidade brasileira. E há pela frente espaço para avançar, segundo o Sindicato das Indústrias Produtoras do Biodiesel de Mato Grosso (Sindibio).
A disponibilidade de matéria-prima, predominantemente a soja, oportuniza essa expansão. As duas novas fábricas que estão em implantação no Estado têm potencial para elevar a produção anu- al de biodiesel em 71,7%, alcançando 2,9 bilhões (l) por ano.
“Em virtude disso e do perfil empreendedor empresarial, há condições de aumento de produção como em nenhum outro estado brasileiro e, sem medo de errar, nenhum outro lugar do mundo”, afirma o vice-presidente do Sindibio, Rômulo Morandin.
Fabricantes de biodiesel iniciaram os testes para produção no Estado antes do Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB). Hoje, estão instaladas 14 indústrias do ramo em Mato Grosso. Uma delas – com capacidade para ofertar ao mercado 68,5 milhões (l) do biocombustível por ano – está parada.
As fábricas implantadas no território estadual detêm capacidade para produzir 4,8 milhões (l) diários, 144,6 milhões (l) mensais ou, ainda, 1,7 bilhão (l) por ano, segundo dados informados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Entre as duas novas indústrias de biodiesel que estão em construção em solo mato-grossense, uma delas está em Lucas do Rio Verde. Pertence ao Grupo Amaggi, ainda sem a capacidade operacional divulgada. Estima-se, porém, que possa produzir 265 milhões (l) por ano, segundo o Sindibio. A outra nova planta industrial está localizada em Alta Floresta, com capacidade de ofertar ao mercado consumidor 360 milhões (l) por ano. “Com isso, a capacidade produtiva de Mato Grosso poderá chegar a 2,9 milhões de metros cúbicos – ou 2,9 bilhões de litros – por ano”, projeta o executivo do Sindibio, José Alexandre Golemo.
“Obviamente os investimentos são projetados conforme a expectativa de cumprimento da regra estabelecida nas normas legais e a diminuição da mistura de 13% para 10% de biodiesel por litro de óleo diesel causou prejuízo e preocupação em relação ao futuro das indústrias”, complementa Golemo. Essas fábricas planejaram aquisições de matérias-primas, com dois meses de antecedência, em volumes suficientes para atender a demanda dos 13% de mistura (B13). “Estamos falando de 23% a menos”. Essa queda não é compensada pelo acréscimo de consumo de biodiesel com o acionamento de termoelétricas movidas a óleo diesel”, conclui Golemo.
Estado negocia 224,8 mi de litros em leilão
Produtores de biodiesel de Mato Grosso negociaram 224,8 milhões de litros de biodiesel no último leilão (L80) realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A venda, 2,6% acima do penúltimo leilão, movimentou aproximadamente R$ 1,2 bilhão. O preço médio de venda do litro de biodiesel alcançou R$ 5,48, segundo informações da agência reguladora.
No leilão anterior (L79) – quando foram negociados 218,9 milhões (l) pelas indústrias mato-grossenses – a cotação média foi de 5,56 (l), totalizando em torno de R$ 1,2 bilhão.
Vice-presidente do Sindicato das Indústrias Produtoras do Biodiesel de Mato Grosso (Sindibio), Rômulo Morandin comenta que os fabricantes trabalham com expectativa de venda conforme a demanda do mercado, mas sem a certeza de concretizar negócios nos leilões. Isso depende de variáveis como as condições da economia nacional, que é o principal indicador do possível volume a ser consumido de óleo diesel e, consequentemente, de biodiesel. Outros fatores que influenciam nessa venda nos leilões do governo são os preços ofertados e a logística de transporte.
De acordo com Morandin, o preço do biodiesel praticado nos leilões está abaixo do preço de mercado das matérias-primas, especialmente da soja. “As empresas estão trabalhando com prejuízo, principalmente pela decisão do governo (federal) de reduzir o percentual da mistura de biodiesel no óleo diesel, sem aviso prévio”. A mistura que era de 13% de biodiesel para cada litro de óleo diesel foi reduzida para 10%.
De acordo com Morandin, essa redução na mistura foi decidida de forma precipitada, na tentativa de diminuir o impacto do aumento dos preços do óleo diesel no mercado. “Não teve efeito prático”, conclui.
Executivo do Sindibio, José Alexandre Golemo acrescenta que as empresas negociam os volumes de matéria-prima antes de cada leilão, com expectativa de venda baseada na mistura pré-definida (13%) e segue as tendências do mercado das commodities, em especial do óleo de soja. “As produtoras seguem a volatilidade do merca- do, tomando decisões de acordo com as negociações leilão a leilão”, explica. O que se viu, com a redução da mistura, foi os preços do biodiesel abaixo da cotação da matéria-prima e a oferta de biodiesel acima da de- manda. Para ele, caso não seja retomado o percentual de 13% de biodiesel por litro de diesel muitas empresas irão encerrar as atividades, causando prejuízos, desemprego e perda de renda. (Com Silvana Bazani)