O governo da China anunciou a suspensão da compra de carne bovina de três frigoríficos brasileiros. As unidades pertencem às empresas JBS, Frisa e Bon-Mart. O documento oficial divulgado pelas autoridades chinesas não detalhou as razões específicas do embargo, mencionando apenas a detecção de “não-conformidades” durante audiências remotas.
A decisão preocupa o setor de exportação de carne bovina do Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que representa os frigoríficos, já estão em andamento diálogos com o governo chinês para reverter a situação. Entretanto, a medida não afeta apenas as empresas embargadas, mas também outras unidades que seguem os rígidos padrões exigidos pela China e que temem futuras sanções.
Para o especialista em comércio exterior Daniel Cassetari, a decisão chinesa evidencia as dificuldades que frigoríficos brasileiros enfrentam para exportar ao país asiático. Segundo ele, a certificação exigida pela China é um processo longo e complexo. “Além de atender normas técnicas, sanitárias e de processo por um período mínimo de três anos, os frigoríficos devem manter esse padrão por todo o tempo até uma vistoria presencial dos auditores chineses”, explica.
A vistoria, no entanto, não ocorre em prazos previsíveis, o que gera uma grande incerteza para os exportadores brasileiros. “Os auditores da China não têm uma agenda fixa para visitas ao Brasil. Após a conclusão dos três anos de conformidade, pode levar seis meses, um ano ou até três anos para que a inspeção aconteça. Sem essa certificação renovada, a empresa fica impossibilitada de vender para o mercado chinês”, alerta Cassetari.
Outro ponto crítico apontado pelo especialista é o impacto econômico que a suspensão pode gerar. “Os frigoríficos que perdem a certificação não podem exportar até que o processo seja refeito do zero, o que leva pelo menos mais três anos. Além disso, enquanto aguardam a inspeção, são obrigados a operar dentro das regras chinesas, mesmo sem garantia de que conseguirão vender para o país”, destaca.
Esse rigoroso sistema de certificação, somado ao tempo de espera para a auditoria oficial, pode representar um prejuízo bilionário para o setor. “Conheço casos de grandes frigoríficos no Brasil que aguardam há mais de três anos a vistoria de auditores chineses para retomarem suas exportações. Isso significa um investimento operacional imenso, sem retorno garantido”, afirma Cassetari.
Diante desse cenário, a expectativa dos exportadores é que as negociações entre a Abiec e o governo brasileiro com as autoridades chinesas resultem em uma solução rápida para o problema. No entanto, Cassetari alerta que a imprevisibilidade do processo pode exigir que os frigoríficos brasileiros diversifiquem seus mercados e dependam menos do comércio com a China. “O mercado chinês é extremamente relevante para a carne brasileira, mas é preciso pensar em alternativas para evitar que a falta de previsibilidade afete ainda mais o setor”, conclui.
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