O Brasil possui um déficit de calagem da ordem de 24 milhões de toneladas. Essa dificuldade no consumo de calcário agrícola evidencia que a performance e a sustentabilidade nas lavouras e pastagens podem ser impulsionadas com a maior incorporação do insumo, que é básico à produção.
O país consome atualmente 56 milhões de toneladas de calcário agrícola ao ano, mas a demanda real é estimada em pelo menos 80 milhões de toneladas pela Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal). O atual patamar de consumo é alavancado pela alta demanda agrícola de Mato Grosso, que impulsiona o consumo de calcário safra a safra no estado.
O alerta foi emitido no Encontro Nacional dos Produtores de Calcário Agrícola, o Enacal 2023, evento em Cuiabá, no final da semana passada.
O processo de calagem é essencial para a correção da acidez nos solos. De acordo com a Abracal, cerca de dois terços da área cultivável do país necessitam desse processo de correção, que consiste na neutralização do alumínio do solo, proporcionando mais cálcio, magnésio, equilibrando o ph e aumentando a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
A série histórica da Abracal aponta que a produção de calcário no Brasil aumentou cinco vezes nos últimos 30 anos, passando de 11,5 milhões de toneladas em 1990 para 56 milhões em 2022. No mesmo período, o volume em Mato Grosso, anfitrião desta nova edição do Enacal, saltou de 621 mil para 11,4 milhões de toneladas, cerca de 20% do total nacional. Dados prévios da Embrapa já sinalizam para uma elevação do consumo regional para 14,5 milhões.
“O setor tem muito a crescer e ainda mais a contribuir ao desenvolvimento nacional. Se pensarmos em áreas consolidadas, é um insumo fundamental para ampliar a produtividade numa mesma extensão de solos. Isso é produzir mais, resguardando o meio ambiente”, destaca o presidente da Abracal, João Bellato.
Ricardo Dietrich, Sindicato das Indústrias de Extração de Calcário de Mato Grosso do (Sinecal/MT), lembra que a técnica de calagem, aplicada em doses adequadas ao tipo de solo, exerce um papel importante para que fertilizantes expressem nas lavouras seu máximo potencial. O trabalho precisa ser guiado por profissionais especializados, com o auxílio da análise de amostras de solo.
“Nós estamos falando de uma tecnologia consagrada pela literatura e pesquisa científica e que vem se aprimorando. Mato Grosso vem se destacando nacionalmente pela alta demanda por calcário, fruto da ampla frente de estudos, de comunicação e a adesão cada vez maior dos produtores rurais à aplicação do produto com regularidade adequada. É gratificante darmos essa contribuição em nível nacional”, ressalta Dietrich.
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FORTALECIMENTO DA INDÚSTRIA – A importância de uma cadeia industrial forte a serviço do país foi reafirmada por lideranças e participantes do Enacal 2023. Entre os segmentos estratégicos está a mineração, que no Brasil encara uma série de desafios de ordem produtiva, regulatória e ambiental. Entre eles, o fato de que atualmente apenas 3% do território nacional é mapeado em uma escala adequada, ou seja, há muito ainda a se conhecer sobre as riquezas disponíveis nos subsolos brasileiros.
“Precisamos urgentemente retomar o crescimento da indústria, voltar a tê-la mais forte, para gerar emprego e renda e reduzir a pobreza neste país. A indústria precisa ser melhor observada e apoiada”, registra Julio Cesar Nery Ferreira, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).
“Quando falamos de mineração, trata-se de um setor altamente tecnificado, que está na base da vida humana. E quando falamos em calcário, precisamos lembrar que não teríamos um agro tão pujante sem ele. Isso fica evidente em regiões como Mato Grosso, esta terra de grandes oportunidades. O estado desponta hoje pela produtividade, com a mineração fazendo um papel muito importante para o crescimento sustentável de nosso país”, declara o presidente da Fiemt e vice-presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Silvio Rangel.