A crise na suinocultura mato-grossense, que se arrasta há meses e que parece não ter previsão de melhora, tem tirado o sono dos suinocultores que lutam para se manter na atividade no Estado. Conforme a entidade que representa a categoria, a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), eles têm trabalhado com prejuízos milionários por conta do alto custo de produção e do baixo preço pago pelo quilo do animal vivo.
Suinocultores de várias regiões do Estado precisaram fazer adequações na produção para tentar amenizar as perdas, mas ainda assim, não conseguiram tornar a atividade rentável novamente. Entre as ‘saídas’, está a entrega do suíno com menos peso para o abate. A entidade pleiteia o reconhecimento de ‘estado de emergência’ sobre a atividade.
De acordo com relatório do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o quilo do suíno vivo atingiu na última semana de abril a marca de R$ 5,18, enquanto o valor do custo de produção permanece acima dos R$ 6,50.
Para o suinocultor, Aréssio Paquer, que faz parte da Cooperativa Agropecuária Mista de Nova Mutum (Coopermutum), além do custo de produção, o sistema integrado, em que o suinocultor recebe da agroindústria toda a estrutura para desenvolver a atividade, mas com remuneração atrelada ao desempenho da granja, tem sufocado e retirado suinocultores independentes do mercado.
“Essa crise prolongada não afeta nas mesmas proporções as grandes empresas, que possuem condições financeiras melhores e suportam por mais tempo a crise, e com isso podem se aproveitar do momento de dificuldades dos independentes e ganhar ainda mais mercado com o sistema integrado. Nesse cenário, o suinocultor se torna um prestador de serviço, ele ganha por produtividade, os riscos são menores, assim como o lucro, que fica todo nas mãos das agroindústrias”, desabafa.
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“Na minha opinião não é o modelo socialmente mais justo, pois as grandes empresas vão poder controlar o mercado, ter uma margem de lucro maior e ainda retirar o produtor rural independente do mercado. Mas, com a crise se arrastando por tanto tempo, o produtor independente não tem condições financeiras para permanecer na atividade e não consegue competir com as grandes empresas, sendo assim ou encerra a atividade ou se torna mais um integrado”, completa Paquer.
Para tentar amenizar os prejuízos em sua granja, o suinocultor de Nova Mutum conta que fez mudanças em sua produção e passou a enviar animais para abate com peso menor do que antes da crise. “O normal era enviar animais para abate com peso na casa dos 130 kg, mas esse cenário se tornou completamente inviável com o aumento dos prejuízos e o prolongamento da atual crise. Para reduzir os custos foi preciso mudar esse cronograma. Agora os animais são entregues para abate com aproximadamente 105 kg e por isso passam menos tempo nas granjas e dessa forma conseguimos diminuir o consumo do milho, um dos vilões neste momento”, aponta.
Segundo ele, somente nos primeiros quatro meses deste ano o prejuízo na sua atividade está próximo de R$ 1,2 milhão, e a projeção para curto prazo não é das melhores. “Em uma conta por cima, levando somente em consideração os custos com o milho, acredito que nos próximos 14 meses, se o cenário não mudar, o prejuízo será superior a R$ 3,6 milhões”, estima.
Para tentar mitigar a crise no setor, a Acrismat tem articulado com os governos estadual e federal, além de unir forças com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), para o reconhecimento da situação de emergência na suinocultura, o que permitiria a implantação de incentivos aos produtores.
“Apesar das várias tentativas por parte dos suinocultores de melhorar o setor, não se veem perspectivas de melhoria. Por isso precisamos do apoio dos governos e que estes criem mecanismos que ajudem os produtores neste período de crise”, afirma o presidente da Acrismat, Itamar Canossa.
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