Foram sete cortes seguidos nas expectativas da safra mato-grossense de grãos e fibra em 2023/24 para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontasse o primeiro ajuste mais ‘positivo’ à produção anual. Com leves revisões sobre os saldos das ofertas da soja e do milho, a perspectiva para o atual ano-safra passou de 84,31 milhões de toneladas (t), dados de abril, para 85,77 milhões t.
Apesar de uma variação mensal positiva, os dados referentes ao 8º Levantamento da Safra de Grãos 2023/2024 divulgado hoje (14), revelam que projeção mantém Mato Grosso, pelo 13º ano seguido como o maior produtor agrícola do Brasil, porém, segue com perdas em relação ao ciclo passado, que atualmente estão em 15,5% quando comparadas à totalização da colheita anterior com 100,98 milhões t, até então, recorde da série histórica.
Nessa revisão, a soja teve leve incremento mensal na oferta, e deve somar 38,41 milhões t. O volume na comparação anual, com a colheita da safra 2022/23 revela queda de 15,8%.
A maior queda segue com o milho segunda safra. Ainda que também tenha havido um ajuste mensal positivo, o saldo para o ciclo deve apontar quebra de 17,3%, com a oferta do cereal totalizando cerca de 41,95 milhões t. No ano passado, Mato Grosso colheu safra recorde com 50,73 milhões t.
O algodão, não teve ajuste mensal, mas segue com projeção de alta de 17,2% em relação á safra passada. A oferta de pluma deve passar de 2,25 milhões t para cerca de 2,63 milhões t. A área semeada também aumentou na comparação anual, +18,6%, passando de 1,19 milhão de hectares (ha) para 1,41 milhão.
O arroz, cultura bastante monitorada no momento, deve apresentar alta anual na oferta de 20,9%, passando de 277 mil t para 335,4 mil t.
BRASIL – A área semeada para a soja na safra 2023/24 teve um ajuste a partir da identificação de novas áreas de cultivo no Maranhão, Goiás, Pará, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O mesmo foi verificado para o milho 2ª safra. Diante disso, a estimativa para a produção nesta temporada está em 295,45 milhões de toneladas de grãos. No entanto, as fortes chuvas registradas no Rio Grande do Sul trarão impactos negativos para o resultado final do atual ciclo.
“Não é possível ainda ter precisão nas perdas para o setor no estado. Os níveis de água estão elevados e o acesso às propriedades é difícil, impossibilitando que se faça uma avaliação mais detalhada. E vale ressaltar que neste primeiro momento a preocupação é com as vidas e com a garantia do abastecimento, fazer com que as pessoas atingidas pelas chuvas tenham o direito ao básico, como a alimentação”, reforça o presidente da Companhia, Edegar Pretto
Atualmente, a produção para o arroz está estimada em 10,495 milhões de toneladas. Porém, as frequentes e volumosas chuvas registradas no Rio Grande do Sul, principal produtor do grão no país, resultarão em perdas nas lavouras da cultura no estado. Os prejuízos ainda estão sendo mensurados, mas pelo menos 8% da área gaúcha para a cultura registrará perdas devido às volumosas chuvas. Nos demais estados, a colheita avança favorecida pela estabilidade climática. Até o dia 5 deste mês cerca de 80,7% da área semeada em todo país já estava colhida. A qualidade dos grãos colhidos é satisfatória, com bons rendimentos também na quantidade de grãos inteiros.
Para o feijão, as atenções se voltam para a segunda safra da leguminosa. Com a área toda semeada, as lavouras vêm apresentando um bom desenvolvimento. No Paraná, as chuvas foram irregulares nas principais regiões produtoras nas últimas semanas, mas, de acordo com as avaliações dos técnicos da Conab, é perceptível que as condições climáticas gerais estão melhores que no início do ciclo, beneficiando as lavouras mais tardias e devendo elevar a média produtiva da cultura em comparação à temporada anterior. Já em Minas Gerais foi verificado um leve incremento de área plantada em relação ao ano passado. As condições gerais das lavouras mineiras são consideradas boas, com a umidade do solo sendo favorável ao desenvolvimento da cultura. Somando as três safras do grão, a produção nacional deverá atingir 3,32 milhões de toneladas, volume 9,5% superior à produção de 2022/23.
O levantamento da Companhia também estima uma colheita de milho em 111,64 milhões de toneladas, redução de 15,4% se comparada com a temporada passada. A primeira safra do cereal teve, na maioria dos estados produtores, produtividades inferiores às obtidas no último ciclo, influenciadas por condições climáticas adversas ocorridas. Na segunda safra do grão, as condições não são uniformes. Em Mato Grosso, a maioria das lavouras encontram-se em enchimento de grãos, com bom desenvolvimento e boa reserva hídrica no solo. Porém, em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e parte do Paraná, a redução das precipitações em abril provocou sintomas de estresse hídrico em diversas áreas.
Em virtude dos ajustes de área e produtividade, neste levantamento, caso a condição de catástrofe climática não tivesse ocorrido no Rio Grande do Sul, a produção brasileira de soja, estimada nesse levantamento, seria superior a 148,4 milhões de toneladas. No entanto, a estimativa atualizada de produção da oleaginosa é de 147,68 milhões de toneladas, redução de 4,5% sobre a safra anterior. Com a atualização realizada, área total cultivada na safra 2023/24 é de 45,7 milhões de hectares, 3,8% superior ao semeado na safra passada. Porém, as produtividades foram inferiores às da safra passada em quase todo o país, reflexo das condições climáticas adversas ocorridas durante a implantação e desenvolvimento da cultura, com falta e excesso de precipitações em épocas importantes no desenvolvimento da cultura.
Já para o algodão, é esperado um crescimento de 16,7% na área cultivada, explicado, principalmente, pelas boas perspectivas de mercado. As condições climáticas continuam favorecendo as lavouras, predominando os estágios de floração e formação de maçãs. Com isso, a produção da pluma deve atingir 3,64 milhões de toneladas, recorde na série histórica da Conab.
No caso das culturas de inverno, a semeadura do trigo já teve início nos estados do Centro-Oeste e Sudeste e no Paraná. No Rio Grande do Sul, em face dos altos índices pluviométricos que vêm ocorrendo no estado, o plantio da cultura deverá iniciar com um certo atraso nas regiões mais quentes do estado (Alto Uruguai e região das Missões), que também são as responsáveis pelo maior plantio da cultura.
MERCADO – Neste levantamento, a Conab fez ajustes no quadro de suprimento de arroz. Estima-se uma expansão do consumo nacional do grão para 11 milhões de toneladas na safra 2023/24. Essa revisão foi realizada com base no provável cenário de políticas públicas de incentivo à ampliação de consumo de arroz ao longo de 2024. As importações do grão foram aumentadas e agora estão projetadas em 2,2 milhões de toneladas, enquanto as exportações tiveram leve redução e podem atingir 1,2 milhão de toneladas. No entanto, essas estimativas serão atualizadas à medida que os impactos das fortes chuvas no Rio Grande do Sul forem mensurados, uma vez que os dados ainda são preliminares, dada a dificuldade de acesso às regiões afetadas. A redução deverá acontecer tanto no produto a ser colhido, quanto no grão já estocado em áreas inundadas.
Para a soja, a revisão na área cultivada permitiu um leve aumento na produção em relação ao último levantamento, o que possibilita uma estimativa de exportações em 92,5 milhões de toneladas. Mas, assim como no caso do arroz, a projeção tende a ser revisada à medida que os impactos das chuvas no estado gaúcho forem dimensionados. No entanto, a produção brasileira atende o abastecimento interno, devendo as vendas ao mercado internacional serem impactadas.