O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebeu ontem, a informação sobre a liberação das exportações de carne bovina para a China. Com isso, a certificação e o embarque da proteína animal para a China serão normalizados e podem ser retomados imediatamente. A liberação ocorre depois que a recusa do país – por 100 dias – derrubou em 70% as exportações de carne bovina de Mato Grosso, em novembro. Assim como para o Brasil, a China é o maior parceiro comercial do Estado e maior comprador da proteína e da soja em grão.
“Retomamos o fluxo normal de exportações para a China. Tivemos uma negociação bastante técnica com uma série de trocas de informações e reuniões com a equipe da autoridade sanitária chinesa. Nós já tínhamos concluído o envio das últimas informações pelo nosso canal via embaixada em Pequim há cerca de um mês, então já esperávamos que houvesse uma solução. Desta forma, o país asiático passa a aceitar novamente os lotes de carnes brasileiras certificadas a partir desta quarta-feira. É uma boa notícia para o setor, já que se trata do principal destino de importação de carne bovina brasileira”, explicou o secretário Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Guilherme Leal.
Como pontuam os analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), com a barreira imposta pela China, as compras do país asiático novamente reduziram, chegando ao pico com retração de 70% na comparação entre os resultados de novembro desse ano ante igual momento do ano passado. A movimentação registrou volume total de 2,05 mil toneladas em equivalente carcaça (Mil TEC). “Essa forte queda puxou para baixo a quantidade total exportada do Estado em 11%, na comparação anual, de janeiro a novembro desse ano”.
A China é o principal destino das carnes exportadas pelo Brasil. Em 2020, o Brasil exportou US$ 4,04 bilhões de carne bovina para aquele país, 48% do total de nossas vendas globais. Mesmo com a suspensão desde setembro, as exportações brasileiras de carne bovina para China já totalizaram, em 2021, US$ 3,87 bilhões, 46% das vendas globais do produto.
REPERCUSSÃO – O fim do embargo é visto com otimismo pelos pecuaristas, especialmente os de Mato Grosso. “Enfim, uma boa notícia para a pecuária e para o Brasil. A China suspendeu o embargo que nunca deveria ter acontecido, provando que a questão nunca foi sanitária, mas político-econômica. Com 1,4 bilhão de habitantes para alimentar – e uma classe média emergente muito importante, que gostou da nossa carne em razão do preço, qualidade e quantidade – o governo chinês não teria mais como segurar esse embargo”, afirmou o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Ribeiro Júnior.
O Brasil ficou temporariamente impedido de exportar para a China desde o dia 4 de setembro, porém, o mercado brasileiro conseguiu se readequar e outros países se tornaram importantes compradores da carne bovina. “Hoje o Brasil está em uma posição mais confortável no mercado externo, com a abertura significativa de mercados que tem comprado bastante do Brasil, como todo o sudeste asiático, a Rússia que está iniciando suas compras e uma grande surpresa, que foi o volume importante destinado aos Estados Unidos”, disse Oswaldo Ribeiro Júnior.
A expectativa agora é de melhoria e aquecimento do mercado futuro da carne bovina. “Esse é um presente de Natal para todos os brasileiros. Acreditamos que 2022 será um ano muito melhor para a pecuária”, concluiu o presidente da Acrimat.
O CASO – Os embarques para o país asiático estavam suspensos desde o dia 4 de setembro, quando o Brasil identificou e comunicou dois casos atípicos da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), registrados em Nova Canaã do Norte (MT) e em Belo Horizonte (MG).
A suspensão foi feita pelo Brasil em respeito ao protocolo firmado entre os dois países, que determina esse curso de ação no caso de EEB, mesmo que de forma atípica. O que significa que esses animais desenvolveram a doença de maneira espontânea e esporádica, não estando relacionada à ingestão de alimentos contaminados e que não há transmissão da doença entre os animais.
A OIE, que é a organização internacional que acompanha a saúde animal, analisou as informações prestadas em decorrência dos dois casos de EEB atípica e reafirmou o status brasileiro de “risco insignificante” para a enfermidade.
Segundo o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Orlando Leite Ribeiro, o Brasil forneceu todas as informações solicitadas pelas autoridades chinesas. “Eles ficaram satisfeitos com o nível de informações fornecidas pelo Mapa. Nossa equipe aqui teve contato com as autoridades chinesas quase que diariamente. Quando as informações técnicas satisfizeram as autoridades chinesas, eles reabriram o mercado”, explicou.
Em novembro, a China já havia liberado alguns lotes de carne bovina brasileira que receberam a certificação sanitária nacional até o dia 3 de setembro de 2021.