O site Mato Grosso Econômico levantou uma pesquisa da CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, sobre o Endividamento e Inadimplência do Consumidor. A pesquisa mostrou que o percentual de famílias com dívidas recuou em março de 2016 ante o mês anterior, aumentando, porém, na comparação com o mesmo período de 2015. Já o percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou em relação a fevereiro e manteve a tendência de alta também em relação ao ano passado. O percentual que relatou não ter condições de pagar suas contas em atraso recuou em relação a fevereiro, mas aumentou em relação ao ano anterior.
Segundo o percentual de famílias que relataram ter dívidas entre cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro alcançou 60,3% em março de 2016 , o que representa uma queda em relação aos 60,8% observados em fevereiro de 2016, mas um aumento em relação aos 59,6% registrados em março de 2015.
Apesar da queda do percentual de famílias endividadas, o percentual daquelas com dívidas ou contas em atraso aumentou, em março de 2016 e das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes registrou queda apenas na comparação mensal, atingindo 8,3% em março de 2016, ante 8,6% em fevereiro de 2016 e 6,2% em março de 2015.
A redução do número de famílias endividadas na comparação com o mês anterior foi observada apenas no grupo de famílias com renda até dez salários mínimos. Na comparação anual, apenas na faixa até dez salários houve alta. Entre as famílias que ganham até dez salários mínimos, o percentual daquelas com dívidas foi de 61,4% em março de 2016, ante 62,4% em fevereiro de 2016 e 60,5% em março de 2015. Entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos, o percentual daquelas endividadas passou de 53,2%, em fevereiro de 2016, para 54,4%, em março de 2016. Em março de 2015, o percentual de famílias com dívidas nesse grupo de renda era de 55,0%.
O percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso mostrou tendências distintas entre os grupos de renda pesquisados na comparação mensal, mantendo-se estável na faixa de renda inferior e aumentando na faixa de renda superior. Na comparação anual, observou-se aumento do indicador em ambas as faixas. No grupo de menor renda, o percentual com contas ou dívidas em atraso ficou estável no patamar de 26,3% entre os meses de fevereiro e março de 2016.
Em março de 2015, 19,9% das famílias nessa faixa de renda haviam declarado ter contas em atraso. Já no grupo com renda superior a dez salários mínimos, o percentual de inadimplentes alcançou 11,4% em março de 2016, ante 10,4% em fevereiro de 2016 e 8,7% em março de 2015.
A análise por faixa de renda do percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso também apresentou comportamento distinto entre os grupos pesquisados, na comparação mensal. Na comparação anual, houve alta em ambas as faixas de renda. Na faixa de maior renda, o indicador atingiu 3,2% em março de 2016, ante 3,0% em fevereiro de 2016 e 2,4% em março de 2015. No grupo com renda até dez salários mínimos, o percentual de famílias sem condições de quitar seus débitos diminuiu de 10,1%, em fevereiro de 2016, para 9,6%, em março de 2016. Em relação a março de 2015, houve aumento de 2,4 pontos percentuais.
A proporção de famílias que se declararam muito endividadas aumentou entre os meses de fevereiro de 2016 e março de 2016 – de 13,8% para 14,3% do total. Na comparação anual, houve alta de 3,7 pontos percentuais. Na comparação entre março de 2015 e março de 2016, a parcela que declarou estar mais ou menos endividada passou de 21,7% para 21,4%, e a parcela pouco endividada passou de 27,3% para 24,5% do total de famílias.
Entre as famílias com contas ou dívidas em atraso, o tempo médio de atraso foi de 62,6 dias em março de 2016 – acima dos 59,9 dias de março de 2015. O tempo médio de
comprometimento com dívidas entre as famílias endividadas foi de 7,1 meses, sendo que 25,5% estão comprometidas com dívidas até três meses, e 33,5%, por mais de um ano. Ainda entre as famílias endividadas, a parcela média da renda comprometida com dívidas aumentou na comparação anual, passando de 29,7% para 31,1%, e 24,1% delas afirmaram ter mais da metade de sua renda mensal comprometida com o pagamento de dívidas.
O cartão de crédito foi apontado como um dos principais tipos de dívida por 77,3% das famílias endividadas, seguido de carnês, por 16,7%, e, em terceiro, de financiamento de carro, por 12,0%. No grupo de famílias com renda até dez salários mínimos, cartão de crédito, por 78,3%, carnês, por 18,3%, e crédito pessoal, por 10,4%, foram os principais tipos de dívida apontados.
Já entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos, os principais tipos de dívida apontados em março de 2016 foram: cartão de crédito, por 72,8%, financiamento de carro, por 23,7%, e financiamento de casa, por 15,7%. No mês de março, observou-se redução do percentual de famílias endividadas pelo segundo mês consecutivo e o indicador alcançou o menor patamar desde março de 2015. Houve ligeira queda também do comprometimento mensal da renda com dívidas. A retração do consumo, observada nos últimos meses, aliada a uma cautela maior do consumidor podem explicar a diminuição recente dos níveis de endividamento. Entretanto, esses indicadores continuam em patamar superior ao observado no mesmo período do ano anterior.
A proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou em março. Contudo, uma proporção menor de famílias relatou não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso. Na comparação com o ano anterior, houve piora nos indicadores de inadimplência. As taxas de juros mais elevadas e o cenário menos favorável do mercado de trabalho impactaram negativamente os indicadores de inadimplência e a percepção das famílias em relação às suas dívidas e à sua capacidade de pagamento.
Sobre a Peic
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional) é apurada mensalmente pela CNC a partir de janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com cerca de 18.000 consumidores.
Das informações coletadas, são apurados importantes indicadores: percentual de consumidores endividados, percentual de consumidores com contas em atraso, percentual de consumidores que não terão condições de pagar suas dívidas, tempo de endividamento e nível de comprometimento da renda.
O aspecto mais importante da pesquisa é que, além de traçar um perfil do endividamento, permite o acompanhamento do nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua percepção em relação a sua capacidade de pagamento. Existem muitos indicadores nacionais de crédito e inadimplência, que, entretanto, dizem pouco sobre o endividamento do consumidor e nada em relação a sua percepção da capacidade de pagamento.
Com o aumento da importância do crédito na economia brasileira, sobretudo o crédito ao consumidor, o acompanhamento desses indicadores é fundamental para analisar a capacidade de endividamento e de consumo futuro deste, levando-se em conta o comprometimento de sua renda com dívidas e sua percepção em relação a sua capacidade de pagamento. Assim, a pesquisa representa, também, um importante indicador antecedente do consumo e do crédito.
Os principais indicadores da Peic são:
• Percentual de famílias endividadas – percentual de consumidores que declaram ter dívidas na família nas modalidades: cheque pré-datado, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, prestações de carro e seguros;
• Percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso – percentual de consumidores com contas ou dívidas em atraso na família;
• Percentual que não terá condições de pagar dívidas – percentual de famílias que não terão condições de pagar as contas ou dívidas em atraso no próximo mês e, portanto,
permanecerão inadimplentes;
• Nível de endividamento – entre muito, mais ou menos ou pouco endividados;
• Principais tipos de dívida – entre cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro, financiamento de casa e outras dívidas;
• Tempo de atraso no pagamento – entre até 30 dias, de 30 a 90 dias e mais que 90 dias; e
• Tempo de comprometimento com dívidas – entre até três meses, de três a seis meses, de seis meses a um ano e maior que um ano.