Em meio a um cenário de baixo crescimento da economia global, em que a demanda por commodities não deve crescer, o melhor que se pode esperar para PIB brasileiro é uma expansão de 2% a 3% no médio prazo.
A não ser que o governo consiga fazer a reforma tributária e mudanças microeconômicas capazes de aumentar a produtividade e melhorar o ambiente de negócios. Nesse caso, o crescimento pode chegar a 5%.
A avaliação foi feita por Jim Barrineau, head do mercado de dívida de países emergentes da Schroders, gestora britânica que tem quase meio trilhão de dólares de patrimônio.
Especialista em mercados emergentes há mais de 20 anos, Barrineau acredita que os juros baixos no Brasil vieram para ficar e que há sinais de que a equipe econômica do governo pode tolerar um real mais desvalorizado.
“Parece que há mudança no pensamento econômico em relação ao câmbio”, disse o executivo, numa entrevista feita na sede da Schroders, em Londres:
Os juros baixos no Brasil vieram para ficar? Ou há riscos que podem fazer as taxas voltarem a subir?
A redução dos juros é uma mudança estrutural. A taxa real (descontada a inflação), que ficou em torno de 6% ao ano por muito tempo, está perto de 2%, o que é bastante positivo, porque reduz o custo de financiamento da dívida e ajuda o crescimento econômico.
Parece que inflação e a necessidade de manter juros altos para atrair capital estrangeiro são coisa do passado. Isso se deve, em parte, à reforma da Previdência e à crença de que haverá outras reformas.
Se situação fiscal de longo prazo está ficando melhor, não há por que manter juros mais altos que na maioria dos países emergentes.
Os juros podem cair ainda mais?
Há espaço para mais um ou dois cortes modestos. Mas é importante frisar que a redução das taxas aumentou a volatilidade do câmbio.
Depois de um período de estabilidade, o câmbio passou a oscilar mais no Brasil que em outros países emergentes.
A pergunta que muitos analistas fazem é se o Brasil está disposto a ter uma moeda mais fraca, se isso for ajudar no crescimento econômico, já que um câmbio desvalorizado torna as exportações mais competitivas.
E há indícios de que sim, de que há uma mudança no pensamento econômico em relação ao câmbio. Tomou-se a decisão de reduzir de forma significativa as reservas internacionais, que custam caro, já que o estoque de dívida externa não é alto.
Além disso, o Banco Central parece confortável com a trajetória da inflação e parece não acreditar que a alta do dólar terá um grande impacto nos preços.
Diante desse cenário, acredito que o país pode ter uma moeda mais fraca e mais volátil daqui para a frente.
Qual é a sua expectativa para o PIB brasileiro?
Estamos num mundo de baixo crescimento econômico, em que a demanda por commodities não está crescendo. Nesse ambiente, uma expansão de 2% a 3% do PIB brasileiro no médio prazo é o que podemos esperar.
Mas o número pode aumentar. Se houver reformas microeconômicas, como a trabalhista e outras que reduzam a burocracia e melhorem o ambiente de negócios, e se houver mudanças que permitam que os juros caiam para as empresas e os consumidores finais, o crescimento pode ser até 2 pontos percentuais maior.
Essas reformas estão sendo aguardadas há muito tempo. A da Previdência é importante, claro, mas não resolve o problema.
Ainda há oportunidades de investimento no Brasil?
O problema do Brasil é que todo mundo gosta do país agora. Estávamos bastante otimistas com os títulos de dívida emitidos em moeda local, mas nossa percepção mudou com a queda dos juros.
O rendimento não é horrível, mas piorou e, com a maior volatilidade do câmbio, a relação risco-retorno ficou desfavorável. Há opções melhores em países como México ou Rússia.
Em relação aos títulos de dívida emitidos em dólares, as oportunidades também estão mais raras. O papel da Petrobras chegou a ser uma das nossas maiores posições, porque a história da empresa é espetacular, mas está bem precificada, então vendemos.
Se houver um sell-off de Petrobras, por qualquer razão, seremos os primeiros da fila para comprar de novo.
Hoje, acho que a melhor maneira de investir no mercado de renda fixa no Brasil é comprar títulos de dólar de empresas classe B, como Marfrig e Rumo, que não são tão conhecidas pelos estrangeiros. O rendimento é maior que o dos papéis soberanos.
Quais são os maiores riscos para o Brasil?
O ambiente externo não é dos mais favoráveis. A China está crescendo menos, o que reduz a demanda por commodities. Além disso, a América Latina está num momento complicado. A Argentina, que é um parceiro comercial relevante, deve voltar à recessão.
E a guerra comercial?
Deve gerar impactos opostos para o Brasil. Por um lado, é ruim, porque deve reduzir o crescimento mundial, não dramaticamente, mas de forma moderada. Mas, por outro, pode levar países como a China a procurar por commodities em outros países além dos Estados Unidos, o que beneficiaria o Brasil.
*A jornalista viajou a convite da Schroders.