Os desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus, mais a guerra entre Rússia e Ucrânia, poderão trazer oportunidades para a agropecuária brasileira impulsionadas pelo aumento da demanda, já que os alimentos se tornaram o bem mais procurado em todos os cantos do mundo. Essa nova realidade foi apresentada pelo especialista em agronegócio Alexandre Mendonça de Barros, em um evento em Cuiabá (MT). Se a procura por alimentos coloca o Brasil em evidencia, essa busca deve ter como uma das direções Mato Grosso, o maior produtor nacional de grãos, fibra de algodão e ainda detentor do maior rebanho de bovinos. Em relação à soja, o Estado se enquadra entre os cinco maiores produtores mundiais da oleaginosa.
O contexto pandêmico e de guerra fez crescer a compra, a garantia e o abastecimento de alimentos. “O Brasil tem uma oportunidade muito grande para cada vez mais se consolidar como um fornecedor confiável para abastecer o mundo. A Rússia perderá espaço no mundo como um fornecedor confiável de commodities. O Brasil poderá ocupar esse espaço”, afirmou Alexandre Mendonça.
Apesar dessa projeção positiva, cautela é a palavra recomendada pelo especialista. Segundo ele, é preciso atenção por causa da elevação do custo do capital e o aumento nos custos de produção, principalmente o de fertilizantes. Alexandre explica que a piora da inflação vem fazendo com que o Banco Central suba fortemente a taxa de juro, alterando o cenário das duas últimas safras. “Com os altos preços dos fertilizantes será muito importante otimizar os nutrientes que temos no solo, o que requer grande conhecimento e experiência na área. Esse é o ano que mais precisaremos do conhecimento de nossos colegas engenheiros agrônomos na área de nutrição para produção de alimentos”.
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Produtor e suas equipes que têm histórico sobre o solo, que faz correções e adubações com eficiência podem ter juntado uma ‘poupança’ e pode ter reserva de adubação. Se a previsão é de continuidade na explosão dos preços dos fertilizantes, usar o que está guardado no solo pode ser uma das alternativas para mitigar a elevação dos custos de produção, manter o ritmo de produção e ainda conservar a rentabilidade.
Além disso, conforme Alexandre Mendonça, nesse momento de altas merece destaque o que está acontecendo com a taxa de câmbio, pois a guerra promoveu acentuada valorização do real e isso afeta muito os preços internos dos produtos agrícolas. “Na a ótica de custos, o assunto principal é o de fertilizantes. É necessário cautela, análise e uso das informações da área para tomar as melhores decisões e evitar prejuízos”.
O especialista frisa que esse momento é muito oportuno para refletir e tomar decisões assertivas de médio e longo prazos. Para Alexandre, a eleição no Brasil deve trazer volatilidade à taxa de câmbio. “Ninguém sabe exatamente qual será o eixo da política econômica do próximo governo. Esse assunto não é prioridade hoje no mercado financeiro. Mas será no segundo semestre e isso certamente trará mais volatilidade ao câmbio, à inflação, ao comportamento do juro”. E é exatamente no segundo semestre que os produtores dão início a nova safra e intensificam as vendas antecipadas, especialmente em Mato Grosso, onde os contratos prevêem a troca de soja – ainda ser plantada – por insumos como sementes, adubos e químicos que serão utilizados nas lavouras.
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