A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) e a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) emitiram nota criticando os organizadores do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem 2023, realizado neste domingo (5) em todo o Brasil. Segundo as entidades, questões das provas voltaram a acusar o setor, “sem provas”.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foi mais impositiva e pediu posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico e pede a anulação das questões 89, 70 e 71 do exame nacional.
A Famato frisa que governo federal usou o Exame para criminalizar “o setor essencial para a segurança alimentar mundial – o Agronegócio“. Mato Grosso é, desde meados dos anos 2000, o maior produtor de grãos e algodão do País, contabilizando mais de 100 milhões de toneladas em 2022/23 e também detém o maior rebanho bovino do país, com quase 9,5 bois por mato-grossense.
Ao longo dos últimos anos, Mato Grosso também se tornou o maior produtor nacional de etanol de milho e o maior produtor nacional de carne bovina, ultrapassando São Paulo.
Conforme nota da Famato, o teste aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) e elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC, trouxe, destemidamente, ataques ao agronegócio e críticas ao capitalismo, deixando claro uma ideologia político-partidária nas questões. “O que mais nos preocupa é a falta de conhecimento técnico e o despreparo dos entes envolvidos na elaboração da prova. Estamos falando de uma prova que avalia e prepara estudantes para ingressarem no ensino superior. E qual o perfil dos profissionais que queremos formar? De qual educação estamos falando?”, indagou a entidade.
“A questão 71 (caderno azul) no Enem 2023, alerta para o “avanço da soja” na Amazônia, que seria responsável pelo desmatamento do bioma, e responsabiliza “grileiros, madeireiros e pecuaristas”. Conforme o gabarito extraoficial divulgado pelo MEC, a resposta que melhor explica o problema é a “apropriação de terras devolutas, por esses agentes”, diz outro trecho da nota.
“O texto da questão 89 (caderno branco), fere a Constituição Federal quando fala sobre a propriedade como um bem comum, o que vai contra o inciso XXII do Art. 5º da Constituição Federal. Ainda nesse artigo é discorrido sobre a função social da propriedade (inciso XXIII) e a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição, com a devida indenização quando isso ocorrer (inciso XXV)”, seguiu as críticas da Famato.
Somente em Mato Grosso, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), os produtores são responsáveis por preservar 43,6% do estado, que ainda detém 15,4% de seu território composto por terras indígenas e 5,5% por unidades de conservação, o que totaliza 64,5% do solo estadual preservado. Apenas 32,7% do solo de Mato Grosso são destinados ao uso agropecuário, sendo 19,8% para pastagens e 12,9% para agricultura.
Analisando o bioma Amazônia, dos 48,65 milhões de hectares, 44,78% são preservados pelos produtores. Em seguida, a maior utilização é com pastagem (20,38%) e terra indígena (17,80%). Nesse bioma, a área voltada para agricultura representa apenas 11,13%. O novo código florestal diz que as propriedades rurais devem preservar no mínimo 80% do bioma, além de Áreas de Preservação Permanente (APP).
SETOR DA PECUÁRIA – A Acrimat foi a primeira entidade a repudiar em público as questões do Enem em relação ao agronegócio, deixando claro o cunho “esquerdista” dos enunciados. “De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como um mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias e, de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”, dizia uma das questões. “Um completo absurdo elaborar questões que não servem para avaliar conhecimento, mas sim para acusar, sem fundamento, toda a agropecuária nacional. Um desejo de incutir na cabeça dos jovens, teorias esquerdistas totalmente desvinculadas da realidade”, disse a Acrimat em nota.
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Embrapa e NASA, provando que não há nenhuma alternativa correta para as questões colocadas, a não ser aquelas que os organizadores escolheram como a mais ofensiva, até porque não há nenhuma alternativa que não seja agressiva ao setor que alimenta o Brasil e grande parte do mundo, gerando empregos e desenvolvimento”, destacou.
A Acrimat enfatizou como lamentável que o agro seja “tão agredido por aqueles que deveriam, até por questão de honestidade moral e intelectual, elaborarem questões que avaliem somente conhecimento e não ideologia”. A entidade reforçou ainda que não concorda com esse tipo de abordagem ideológica patrocinada pelo MEC e “se encontra à disposição para discutir esses temas somente à luz do embasamento científico e nos resultados de pesquisas sérias feitas por entidades como a Embrapa e referendadas por várias instituições mundo afora, inclusive a NASA“.
FPA – Também por meio de nota pública, a “Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) aguarda posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico do Enem”.
“O Enem é um exame de avaliação do conhecimento. As perguntas são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica e permite que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista. Anulação já!”
A Entidade elenca as contradições observadas nas questões, acerca do agronegócio brasileiro:
1. Negacionismo científico contra um setor que, além de trazer a segurança alimentar ao Brasil e ao mundo, é massificação de mentiras. O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários
2. É inacreditável o governo federal se utilizar de desinformação em prova aplicada para quase 4 milhões de alunos brasileiros que disputam uma vaga nas universidades do Brasil
3. A anulação das questões é indiscutível, de acordo com literaturas científicas sobre a atividade agropecuária no Brasil e no mundo, em respeito à academia científica brasileira
4. Este é o único país do globo em que o seu próprio governo federal propaga desinformação sobre a principal atividade econômica e de produção de riqueza, renda e empregos. A serviço dos brasileiros? Vincular crimes à atividade legal é informação?
5. A ineficiência do Estado Brasileiro está exposta. A vinculação de crimes à atividade legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades. Não permitiremos que a desinformação seja propagada de forma criminosa entre nossa sociedade, como foi feito durante os anos anteriores do governo atual.