Março registrou os preços mais baixos da arroba do boi gordo nos últimos 12 meses. O preço médio registrado no último mês, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea), foi R$ 281,81. Em abril já é registrada leve recuperação, mas desde julho de 2022 os preços entraram em tendência baixista.
A virada do ciclo pecuário, em 2022, foi marcada pela queda nos preços dos animais de reposição e também da arroba do boi gordo e, consequentemente, pelo aumento no número de animais abatidos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os abates de bovinos em 2022 totalizaram 29,8 milhões, 7,5 % a mais do que em 2021. As fêmeas foram as principais responsáveis pela alta.
A variação de preços dentro da cadeia produtiva da bovinocultura é conhecida como ciclo da pecuária. O fenômeno recebe este nome justamente porque os preços oscilam entre alta e baixa periodicamente, ou seja, em ciclos.
A forma como cada produtor vai passar por este período está diretamente ligada à gestão e ao planejamento da atividade, como explica o pecuarista e empresário Shiro Nishimura. Em entrevista, Shiro explicou que em todas as atividades econômicas há momentos favoráveis e períodos de crise e o que define a perpetuação do negócio é o modo como se passa por estas fases. “Meu pai sempre falou que há dias e noites. Quando há sol é hora de se preparar porque em seguida virá a noite”.
De acordo com o proprietário da fazenda Arapongas, localizada no sul de Mato Grosso, o processo de capacitação é permanente e deve fazer parte do dia do pecuarista, do empresário e dos funcionários que compõem e fazem parte do negócio. “Gestão de crise se faz com estudo, conhecimento e tem que ser constante”, destaca.
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Luciano Resende, médico veterinário e diretor comercial da Nutripura, explica que muitos fatores influenciam o mercado do boi gordo, que vão desde o básico que é a lei de oferta e demanda até questões políticas. “Passamos por um momento de desvalorização do preço do gado, perda de capital, mas é preciso saber como fazer a gestão para superar ou pelo menos amenizar os impactos da crise. Não adianta apenas cortar despesa, é preciso saber onde cortar. É fundamental ter uma visão de futuro porque as decisões tomadas agora terão impactos lá na frente”.
Segundo Resende, agora é hora de trabalhar melhor os aspectos que compõem a atividade para dar o melhor resultado possível. “É preciso trabalhar melhor o pasto, a suplementação, trazer pessoas que possam ajudar a construir uma base mais sólida para passar pelo momento”.
“O que deu gás quando virei presidente da Jacto, é que eu confiei nas pessoas. Mas eu sabia da importância de preparar bem as pessoas. Passamos a elaborar um projeto de sete anos para a companhia, traçar os desafios e a consultoria é muito importante neste ponto porque ajuda a trazer mais pessoas para pensar junto”, relembra Shiro Nishimura que além de pecuarista, é filho do fundador da Jacto, Shunji Nishimura, e foi um dos responsáveis pelo processo de reestruturação da empresa e é autor do livro “A profissionalização da empresa familiar”.