As indústrias de Mato Grosso estão começando a se preparar para as práticas de ESG – Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança, em tradução). O tema aborda temáticas como sustentabilidade e impacto social de uma empresa com o consumidor e suas escolhas perante ao mundo. O ESG é algo em ascensão no Brasil e em outros países e está chegando no Estado por meio da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt).
Em entrevista com o MT Econômico, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Sistema Fiemt), Gustavo de Oliveira, explicou um pouco mais sobre o conceito e como ele pode ser aplicado nas indústrias e também na gestão pública.
“Basicamente, o que a gente trata quando se fala de ESG, é como o mundo olha os produtos que a sua empresa fabrica e como isso impacta seus negócios, de forma positiva ou negativamente”, disse. Confira a entrevista na íntegra.
MT Econômico: O que significa o ESG, esse tema tão abordado lá fora que está chegando em Mato Grosso?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): É uma sigla em inglês, que aborda os aspectos socioambientais e de governança de uma empresa. Então tem a preocupação com o meio ambiente, a preocupação da empresa com as questões ambientais, com a pegada de carbono que ela deixa, com o impacto que ela gera não só na atividade dela, mas no ciclo de vida dos seus produtos.
Tem o aspecto social de como essa empresa se relaciona com a comunidade. Se o impacto que ela traz é positivo e as ações que ela gera são benéficas para a sociedade na qual ela está inserida, a forma como ela faz negócios e toda a parte de governança. Como essa empresa é administrada, como ela trata de políticas como por exemplo a equidade racial, a equidade de oportunidades para pessoas de diferentes religiões e de diferentes opções sexuais.
Basicamente, o que a gente trata quando falamos em ESG é como o mundo olha os produtos que a sua empresa fabrica e como isso impacta seus negócios, de forma positiva ou negativamente.
MT Econômico: Hoje existe um novo consumidor, que não está só preocupado com o que ele vê na ponta do comércio, mas existe também a preocupação sobre como é fabricado o produto e isso vem dar uma base para o crescimento do ESG no mundo?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): O conceito de ESG é aplicável para empresas, mas ele é principalmente uma exigência do consumidor. As pesquisas de consumo no mundo mostram claramente que o consumidor está se preocupando cada vez mais com o produto que ele está comprando, com o impacto desse produto no meio ambiente e com as pessoas envolvidas em sua fabricação, além de, principalmente, do impacto que está causando no mundo.
Então a gente tem historicamente casos muito importantes de uma fabricante de tênis mundial que foi duramente criticada por utilizar mão de obra infantil no Vietnã para fazer os seus calçados, e foram denunciadas por agredirem o meio ambiente. Hoje, nós temos não só empresas sendo punidas porque não adotam práticas de combate a assédio moral, assédio sexual. Não é raro também que por conta do comportamento de um dirigente ou até de um membro da companhia, toda a empresa e seu ecossistema sofra uma análise ruim por parte do consumidor.
Nos anos 2000, as indústrias tinham certificações, mas hoje, com as mídias sociais, existe maior facilidade para dar transparência às ações realizadas. Eu digo que, não basta parecer ser, tem que realmente ser e adotar boas práticas, porque ainda que ela tenha um certificado, uma denúncia comprovada de alguma prática ruim pode destruir sua imagem e consequentemente sua atuação no mercado.
MT Econômico: Como o conceito de ESG pode ser enquadrado para as cidades e poder público em geral?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Quando se fala de cidades, a gente tem que entender primeiro que no Brasil, você tem desde a maior cidade do país, que é São Paulo, até um pequeno município do interior de estados em desenvolvimento. Se tentarmos aplicar esse mesmo conceito, da mesma maneira nessa diversidade de tamanhos e complexidades, a gente pode ser injusto.
Antes, a gente entendia que a evolução das cidades levaria até grandes aglomerados urbanos com muitas pessoas, com grande necessidade de recursos e tecnologia. O que se chama de smart cities. Com a pandemia, diversos urbanistas nos apresentaram outros conceitos, de cidades que congregam muitas pessoas, mas que têm grandes áreas verdes, com áreas de lazer e recreação pensadas para a qualidade de vida do cidadão.
Conceito de ESG precisa ser planejado e praticado por todos os gestores. Como fazer isso? Primeiro, com muito planejamento sobre como a cidade vai tratar das questões sensíveis como arborização de suas praças, parques e jardins, como ela vai tratar os resíduos sólidos e todas as espécies de resíduos que a gente produz, com efluentes de esgoto e como a transparência da gestão dessa cidade e o relacionamento com o cidadão são realizados.
Antigamente, não existiam ferramentas em cima da gestão pública que fossem colaborativas. Hoje, o cidadão pode tirar foto de uma calçada quebrada e georreferenciar isso, cobrando das autoridades que com o dinheiro suado de nossos impostos consertem as ruas, calçadas, lâmpadas quebradas, despejo de resíduos em rios e córregos. Tudo isso agora, acontece de forma colaborativa e é necessário que nossos gestores tenham um novo formato de atuação, ouvindo mais a comunidade, entendendo os anseios da sociedade.
MT Econômico: Me fale um pouco sobre o evento realizado pela Fiemt na semana passada, a respeito do novo conceito de futuro e sobre a importância disso para a Indústria de Mato Grosso.
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Na nossa construção mental de linha do tempo, o passado é uma linha que a gente consegue contar uma história, então é mais fácil. A partir de hoje, o futuro não é um futuro único. São vários futuros possíveis e que vão depender da nossa atuação no presente para que possam ser construídos. Em Mato Grosso, têm muitas oportunidades dentro de tudo isso que acontece no mundo, na busca por conceitos de ESG, por uma economia verde, por conceitos mais sustentáveis, uma produção cada vez mais limpa e principalmente por indústrias com alta eficiência.
O que foi mais interessante ouvir e a gente pode confirmar por números recentes é o impacto que Mato Grosso pode ter numa matriz econômica sustentável, diversificada e principalmente em linha com demanda mundial. A gente tem uma atração muito grande para crescer econômica e socialmente. Números recentes divulgados pelo Governo do Estado sobre crescimento econômico e arrecadação dos setores não deixam dúvidas. Cada vez mais vamos ter oportunidade de crescimento em Mato Grosso, porque o que o mundo pede, nós somos vocacionados para fazer.
MT Econômico: Vocês planejam algo no sentido de preparar o empresário industrial de Mato Grosso para práticas ESG?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Nos próximos meses devemos anunciar algumas parcerias importantes de cursos de pós-graduação com esse tema, nessa área específica de ESG. Fora isso, a gente oferece diversas parcerias para as indústrias e elas podem implantar os conceitos de ESG. A indústria não precisa fechar o pacote inteiro, se a empresa quiser começar observando mais a parte social, o Sesi está pronto para fazer isso, se quiser cuidar um pouco mais da eficiência, da parte ambiental e de sustentabilidade, temos especialistas no Senai que podem ajudar muito na redução do impacto de carbono e etc. No IEL estamos atuando fortemente na área da gestão e governança. Temos assessoria para mostrar aos empresários que é possível para as empresas de qualquer tamanho estar em conformidade com o que o mundo espera. E com isso, a pessoa que vai ao balcão da empresa, que compra online os seus produtos vai gostar de saber que está comprando de uma indústria que se preocupa com o ESG e se preocupa com o mundo e a sociedade de onde ela está inserida.
MT Econômico: Você gostaria de fazer alguma consideração final?
Gustavo de Oliveira (Fiemt): Mato Grosso tem sim muitas oportunidades em todos os setores e para todos os tamanhos de empresa. Você empresário, você trabalhador, você que empreende precisa estar bem informado, com fontes confiáveis de informação. O MT Econômico sem dúvida mostra, por toda a sua trajetória e toda credibilidade, que é uma dessas grandes fontes. Em tempos de fake News, a gente precisa ter fontes confiáveis e também parceiros confiáveis. Podem contar também com a Fiemt para ser ponto de apoio para tomar decisões, orientar seus negócios, orientar sua carreira e contar com parcerias de qualidade.
Veja abaixo a entrevista completa em vídeo