A empresa Moinho Anaconda confirmou que vai investir na construção da terceira fábrica no país de farinha de trigo, dessa vez em Mato Grosso. Executivos da empresa percorreram os municípios de Barra do Garças, Primavera do Leste e Rondonópolis para definir em quais dessas cidades eles farão o aporte financeiro ainda neste ano.
A unidade que será instalada em Mato Grosso, por ora, seria uma indústria para o envase, ou seja, ensacar a farinha de trigo vinda da fábrica de Curitiba. Entretanto, no período de até dez anos seria instalado o moinho no Estado para o processamento e ensacamento do produto.
“São cidades localizadas estrategicamente nas rotas comerciais que nós temos. Tanto essas cidades quanto Cuiabá são importantes pontos logísticos para atendimento comercial não só do Mato Grosso, mas do Centro-Oeste como maneira geral”, disse o diretor da unidade da Moinho Anaconda em Curitiba (PR), Max Piermartiri.
Considerada uma cultura de inverno, não há dados oficiais de plantio de trigo em Mato Grosso, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), contudo, a vinda da Moinho Anaconda pretende estimular a produção de trigo no Centro-Oeste.
“O trigo viria importado do Sul do país, a nossa farinha é produzida na unidade de Curitiba, mas a gente enxerga a expansão da produção no Centro-Oeste, no cerrado de maneira geral, especialmente em Mato Grosso como produtor de trigo não só para o consumo interno, mas também para exportação para outros estados e eventualmente para outros países”, destacou Max.
Atualmente, Mato Grosso é atendido pela planta industrial da empresa em Curitiba, que atende o Centro-Oeste, Rondônia, Acre e Tocantins. De início, há estimativa da fábrica gerar 30 empregos diretos em Mato Grosso e após a expansão com moinho cerca de 230 empregos diretos. Isso sem contar os empregos indiretos com terceirizados e prestadores de serviço.
A Moinho Anaconda tem capacidade de processar 400 mil toneladas/ano na planta paranaense. Além disso, é uma empresa familiar com capital 100% nacional e com 490 funcionários nas duas unidades.
PESQUISAS – O pesquisador da Empaer e coordenador da Câmara Técnica do Trigo, Hortêncio Paro, está há quatro décadas avaliando e testando materiais genéticos para fazer do trigo uma cultura das lavouras mato-grossenses.
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Existem Unidades Demonstrativas de trigo irrigado e na Unidade de Observação de sequeiro nos municípios de Campo Novo do Parecis, Santa Rita do Trivelato, Primavera do Leste, Itiquira e Pedra Preta.
Conforme Paro, em Mato Grosso o trigo pode ser cultivado em dois períodos: final de fevereiro e início de março para o plantio do sequeiro e segunda quinzena de junho para semeadura do trigo irrigado. “O cerrado é uma alternativa para produção de grãos de trigo, pois é a primeira região a ser colhido no Brasil, o que pode garantir ao produtor melhor renda”, explica Hortêncio.
O Estado consome 140 mil toneladas de farinha de trigo e possui uma área de 150 mil hectares com pivôs preparados para o plantio no período de Vazio Sanitário da soja. O pesquisador esclarece que o plantio do trigo é uma boa opção de manejo de solo nas áreas irrigadas, ajuda a controlar o nematoide de galha e o fungo sclerotinia (mofo branco). E também facilita o controle das invasoras de folhas largas e a palha do trigo após a colheita. Essas medidas impedem que haja erosão solar da matéria orgânica, o que prejudicaria a vida microbiana do solo.
De acordo com Paro, o trabalho de pesquisa é feito há 40 anos, comprovando a viabilidade técnica do cultivo do cereal em Mato Grosso e a qualidade do trigo colhido, que pode atingir de 300 a 500 de força de glúten (W). Com esse teor de glúten o trigo é classificado como excelente para uso na panificação. Ele explica que os valores de percentual de glúten são cruciais para fabricação de produtos diferenciados, como pão, massas e farinhas. Vale lembrar que 65% da farinha usada no país é para produção de pão. “O que falta atualmente é uma comercialização que dê sustentabilidade econômica a atividade”, salienta.