A oferta de arroz no mercado brasileiro será menor no ano que vem e os preços só devem aumentar para o produtor a partir de 2027. É que no Rio Grande do Sul, maior produtor brasileiro de arroz que responde por cerca de 70% da produção, os arrozeiros reduzem em até 15% o plantio na próxima temporada, desestimulados com as cotações em queda acentuada. Com as cotações em média R$ 5,00 por saca abaixo do custo de produção, a alternativa é diminuir a área plantada, reduzir estoques e esperar que a oferta menor traga recuperação dos preços, como defende a Federação dos Arrozeiros do estado, a Federarroz.
No fim de setembro último, levantamento do Cepea/USP feito para o Instituto Rio-Grandense do Arroz apontava que o produtor gaúcho ainda recebia em média R$ 60,96 por saca de 50 quilos, posto na indústria, já 6,5% menos que em agosto, ou o menor preço médio para um mês de setembro dos últimos 20 anos. Descontando a inflação, em valores reais os preços em setembro foram os mais baixos dos últimos 14 anos. E se na primeira semana de outubro a queda persistia, recuando para R$ 59,68, no final do mês caia ainda mais: R$ 56,80 a saca. Só em outubro deste ano (até o dia 23) a baixa nos preços médios é de 5,38%.
Corretores da região de Pelotas (RS) reportam negócios nesta semana a R$ 59,00 a saca, uma baixa de 7,52% nos últimos 30 dias. Em Uberlândia (MG) a queda foi intensa, com corretores reportando negócios a R$ 81,00 a saca preço CIF na indústria, uma baixa de 15,63% no mês. Os preços cedem neste segundo semestre quando normalmente ocorre o contrário, mas “vivemos um processo atípico, com aumento expressivo de produção e baixo volume de exportação”, explica Lucílio Alves, do Cepea/USP.
O Brasil produziu muito e outros também – A produção brasileira de arroz nesta temporada está perto de 12,8 milhões de toneladas, bem acima dos 11 milhões que o país normalmente produz. Com um excedente de 3,6 milhões de toneladas e exportações de aproximadamente 1,6 milhão de toneladas, o Brasil terá no final de 2025 estoques de 2 milhões de toneladas. Mesmo reduzindo 10% na área plantada, o país ainda produziria 11,5 milhões de toneladas. É muita oferta de arroz não só no Brasil, mas no mundo também.
Nos demais países produtores cresceu a oferta do produto e as cotações também cederam. Na Índia há excedentes de estoques, que chegam ao mercado internacional em poucos meses e em 2026 as exportações indianas serão recordes, podendo atingir 26 milhões de toneladas, mais de 40% das exportações mundiais. E com clima favorável e safras cheias, grandes importadores como Filipinas e Indonésia diminuíram as compras e as cotações recuaram também no Exterior. “O mundo tem mais arroz e o crescimento da demanda é muito pequeno”, explica Lucílio Alves.
Com tanta oferta, os preços do arroz no mercado internacional baixaram em média 1,6% em setembro. Nos EUA e no Vietnã a retração em setembro foi de até 5%, e na Índia e na Tailândia cerca de 1%, segundo o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento Cirad, da França. O relatório do Cirad destacou que, após a liberação das exportações indianas, os valores do arroz já baixaram 35% em um ano e estão menor nível dos últimos 10 anos.
APOIO DOS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL – Com as cotações caindo dia após dia, os produtores brasileiros reivindicam medidas do governo federal para mitigar a crise que se abate sobre o setor. Entre as propostas, sugerem restrições à importação de arroz do Paraguai, a redução do ICMS, e uma suspensão temporária da Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura, a CDO. Além disso, pedem que o Governo Federal suspenda temporariamente a fiscalização eletrônica da tabela de preços mínimos de fretes da ANTT, em vigor desde outubro, o que segundo a Associação Brasileira da Indústria de Arroz, a Abiarroz, trouxe aumento dos custos logísticos.
O governo federal ensaia algum suporte aos produtores. Para conceder liquidez ao mercado e aliviar a pressão sobre os produtores, a Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, anunciou R$ 300 milhões. Esse recurso é destinado a leilões de Prêmio de Escoamento do Produto, o PEP, e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural, o Pepro. Uma parte também será utilizado para as Aquisições do Governo Federal, as AGFs. Bem recebido, esse suporte da Conab alivia a pressão sobre o setor, mas não recupera preço. Assim, mesmo reduzindo mais de 10% na área plantada, o Brasil ainda produziria na próxima temporada cerca de 11,5 milhões de toneladas de arroz. Mais do que o mercado absorve. (R7)
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