A quebra de safra e o alto endividamento tem motivado produtores rurais e indústrias do agronegócio a buscarem aconselhamento com assessores jurídicos. As consultas por reestruturação de dívidas, em alguns escritórios cresceram 80% no segundo semestre do ano passado ante os seis primeiros meses de 2023. Nesse período, as demandas mais solicitadas foram emissão de títulos e venda de ativos (50%), litígio societário (40%) e reestruturação de dívidas (10%).
“Houve uma explosão de casos nos últimos meses, especialmente de empresas com sérios problemas de fluxo e liquidez de caixa. Muitas delas apostaram no crescimento contínuo do agro e acabaram sendo surpreendidas com os resultados bem abaixo do esperado da última safra. Elas fizeram altas apostas de investimento em imóveis, produtos e serviços e não obtiveram o retorno desejado. Como a conta não fecha, elas precisam fazer uma remodelagem de seu negócio para que sua operação continue se tornando viável. Estudamos algumas alternativas e propomos as que fazem mais sentido à operação naquele momento”, explica Diego Capistrano, advogado na área de Reestruturação e Insolvência. De acordo com ele, 30% das empresas que o procuraram são de grande porte, 60% de médio porte enquanto outras 10% são pequenas. Majoritariamente estão concentradas no Centro-Oeste (60%) e Sudeste (40%).
Para Luis Felipe Aguiar de Andrade, advogado da área de Agronegócios, as companhias costumam chegar até eles com alguma demanda pré-determinada, mas acabam promovendo uma mudança estratégica de rota após realizarem algumas rodadas de reuniões. “Mostramos a eles novas e diferentes opções para remodelagem das dívidas. É muito comum as empresas virem até nós com uma ideia fixa, esperando apenas para ‘apertar o botão’ e iniciar o processo. Elas costumam reagir até com uma certa surpresa quando apresentamos outras opções e a que acaba sendo escolhida não era a imaginada inicialmente”, revela o advogado.
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O advogado ainda conta que, por conta do cenário mais adverso no agronegócio, os executivos têm avaliado outras alternativas de tornarem suas operações mais lucrativas e sustentáveis. “Eles querem saber quais são as melhores opções neste momento para trazer fôlego novo à operação sem comprometer a viabilidade do negócio”, relata Aguiar.
Em função da variada lista de opções de reestruturação e de renegociação de dívidas, as empresas têm recorrido às alternativas de negócios que tenham mais aderência à sua atividade e ao mercado em que ela atua. “Melhorar a saúde financeira de uma empresa não é sinônimo apenas de corte radical de despesas. É claro que em momentos de ajustes é necessário ter mais disciplina e resiliência. Mas não basta apenas fechar a torneira e esperar que as coisas aconteçam, é muito importante ter a visão do todo e buscar as melhores alternativas de negócios para as empresas que enfrentam alta alavancagem de dívidas. É claro que cada empresa tem sua particularidade. O ideal é fazer uma avaliação mais criteriosa e, partir daí, elaborar um plano de ação personalizado, que muitas vezes envolve a profissionalização do negócio e a implantação de melhores práticas de governança de modo a ter acesso ao mercado de capitais”, detalha Capistrano.
Para o advogado, o ano será mais desafiador para o ambiente de negócios, especialmente para as empresas que atuam no agro. “Acreditamos que até o final do ano teremos novos pedidos de reestruturação de dívidas“, finaliza.