De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a área plantada prevista para a safra 2024/25 é de 12,66 milhões de hectares, com custos em torno de R$ 3.969,90/ hectare. Com isso o custeio da safra de soja em Mato Grosso é de R$ 50,27 bilhões para este ciclo.
Mas para cultivar a nova safra é preciso investir e nessa temporada, os produtores de soja de Mato Grosso quase que duplicaram a dependência de recursos vindos do sistema financeiro, que engloba linhas de crédito próprias dos bancos, um dinheiro mais caro, porém, uma necessidade que passou de R$ 8,37 bilhões no ciclo passado para R$ 15,33 bilhões no atual ciclo. O sistema financeiro custeou mais de 30% da nova safra mato-grossense. As multinacionais estão na segunda posição, representando pouco mais de 28%. A participação da fatia de recursos próprios, por exemplo, passou de uma safra para outra de 31,58% para 18,85%.
Dentro dos recursos possíveis, os produtores contam financiamentos via agentes do mercado, multinacionais, revendas, sistema financeiro, bancos com recursos federais (juros controlados) e recursos próprios. Em ano se safra ruim, soja por questões a campo, ou de mercado mesmo, a adição de recursos próprios reduz.
Esses e outros dados fazem parte do Funding da Soja, anualmente elaborado pelo Imea e que traz um diagnóstico do custeio da safra e uma contextualização acerca dos fatores que levam ao aumento ou redução de determinada fonte de recursos.
A aquisição de sementes, fertilizantes e defensivos, consome a maior parte dos recursos investidos por hectare plantado.
O CONTEXTO – O cenário da soja, em Mato Grosso, nesta safra se apresenta desafiador, marcado pela pressão nos preços internacionais e nacionais, e pelas mudanças na estrutura de financiamento. Com a queda nos preços da oleaginosa e de seus coprodutos desde o ciclo 2022/23, houve um impacto na decisão de expansão de área de plantio. “A redução dos recursos próprios dos produtores e o aumento da participação de fontes de crédito federais e do sistema financeiro, reforçam uma maior dependência de financiamentos externos, enquanto multinacionais e revendas mostram recuo em negociações a prazo devido aos maiores riscos, denotando a importância de ferramentas de crédito acessíveis para o agronegócio”, apontas os analistas do Imea.
A tendência de adoção de ferramentas como o barter (operação de troca de produto por insumos, realizada entre o produtor rural e o fornecedor), fortalece a segurança das negociações e ajuda a mitigar os custos de financiamentos. Contudo, o encarecimento e a burocracia no crédito agrícola, tornam o cenário de custeio mais desafiador, exigindo que os produtores façam escolhas criteriosas e oportunas em relação ao financiamento e à comercialização. “Nesse contexto, a gestão eficiente de custos e a busca por linhas de crédito com condições diferenciadas, serão essenciais para manter a rentabilidade e a sustentabilidade da produção na safra 2024/25”, pontuam os técnicos.
A análise criteriosa das condições de mercado e do clima, serão determinantes para mitigar os riscos e adaptar-se ao cenário de volatilidade, garantindo, assim, a melhor tomada de decisão para os produtores.
Em relação à safra 2025/26, o projeto ‘Custo de Produção Agropecuário de Mato Grosso (CPA/MT)’, realizado pelo Imea e Senar/MT, em sua primeira estimativa, avalia que os custos de produção podem diminuir em 3,87% se comparado à safra 2024/25, relacionado principalmente a um recuo expressivo de 20,05% para as sementes. Dessa forma, o custeio da próxima safra pode sofrer variações a partir da perspectiva de oferta e demanda de insumos, os custos logísticos e fatores cambiais.
“Para a próxima safra, as perspectivas indicam desafios na composição do financiamento, especialmente considerando a variação no preço da soja, no comparativo com safras anteriores e a menor disponibilidade de recursos próprios por parte dos produtores. Com o sistema financeiro ganhando participação no funding (captação de recursos financeiros para viabilizar a execução de uma tarefa ou projeto), é provável que o crédito externo tenha um papel ainda mais central. No entanto, a incerteza climática e a produção da segunda safra com milho em estágio de definição, podem comprometer a margem de lucro dos produtores que fazem o sistema soja/milho, aumentando a necessidade de uma gestão de custos ainda mais cautelosa”, destaca o CPA/MT.
Desde o início de 2024, os preços da soja têm se mostrado pressionados, à medida que grandes países produtores da oleaginosa, como os Estados Unidos, registram safras robustas e outros como a Argentina, que se encontram em período de semeadura, demonstrando bons desenvolvimentos das lavouras até o momento. Nesse contexto de preços mais baixos, em relação a anos anteriores, a tendência é de que o aumento da área plantada não apresente o mesmo crescimento expressivo observado nas safras passadas – em observação a uma expansão territorial no estado em áreas de pecuária -, além de gerar desafios de comercialização para os produtores, o que pode resultar em menor rentabilidade e maior instabilidade no mercado. Inserido nesse panorama, está o mercado de crédito agrícola, que tem demasiada importância para a manutenção e crescimento das atividades do setor, como a produção de soja.
“Entre os anos de 2023 e 2024, o mercado de crédito tem se mostrado mais burocrático e com maiores custos para o financiamento do setor, diante de um menor capital disponível no campo, que impacta nas cadeias de fornecimento. Com isso, há uma tendência de diminuição das negociações a prazo em insumos e o encarecimento do crédito, além do aumento de obstáculos na tomada de recursos financeiros. Além disso, a presença de recuperações judiciais entre os agentes da cadeia, tem preocupado os fornecedores de crédito, que passam a avaliar com maior rigidez os parâmetros de concessão de capital”.
REFLEXO NO CAMPO – A participação dos recursos próprios registrou uma queda acentuada de 12,78 pontos percentuais (p.p.), influenciada também por diferenças metodológicas no Sistema Financeiro. Contudo o cenário de rentabilidade atual, aponta para menos recursos no campo, diante da diminuição dos preços da oleaginosa desde a safra 2022/23, fazendo com que os produtores possam buscar outras fontes de recursos, como as instituições financeiras, com os recursos próprios deixando de ser a principal fonte de financiamento da oleaginosa.
As multinacionais apresentaram recuo de 0,67 p.p. em sua participação, o que demonstra a retração na disponibilidade de negociações a prazo, com algumas empresas do segmento, deixaram de realizar este tipo de negociações. Desse modo, com preço da commodity em baixa, assim como dos insumos, as margens de negociação tornam-se menores para estas empresas, desfavorecendo as vendas de pagamento futuro e aumentando a aderência a ferramentas de barter.
“Mesmo com a retração, as multinacionais se mantêm com a segunda maior participação no financiamento da oleaginosa no estado. Com tendência em mesmo sentido, as revendas tiveram recuo de 4,95 p.p. na participação chegando a 13,11%, considerando as observações de risco de concessão de crédito em maior medida, já que a propensão é de que essas empresas com porte menor, tenham menos mecanismos de segurança. De acordo com os informantes, houve uma demora para a realização de compras por parte dos produtores, na expectativa de melhora no comportamento climático e melhores definições nos preços da soja, principalmente no início do ano”, aponta o estudo.
Entre as ferramentas de negociação dessas empresas, o barter, se mostra fortalecido, junto a outras ferramentas de crédito privado, o que pode favorecer a atuação desses agentes no mercado de insumos, mitigando os altos custos de negociações a prazo para os produtores e gerando maior confiança para os fornecedores.
Os recursos dos Bancos, ligados às fontes federais de cunho controlado, mostraram aumento significativo de 4,58 p.p. no funding, atingindo uma participação de 8,69%, reflexo do aumento de tomadores de crédito na modalidade, assim como do encarecimento dos custos de crédito de outras fontes, já que os recursos controlados tendem a ter condições diferenciadas.
O Sistema Financeiro, mostra aumento de 13,78 p.p., ligado principalmente à adição da disposição de crédito das linhas próprias dos bancos. Entretanto, para além da alteração metodológica, as negociações a prazo com maiores desafios e até mesmo empresas deixando de realizar vendas nessa modalidade, a demanda por crédito de recursos livres do Plano Safra e linhas de crédito próprias dos bancos, se tornam maiores. Portanto, a participação do Sistema Financeiro passa a ser 30,50% do financiamento da soja para a safra atual.
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