Durante o Seminário de Educação do Vale do Arinos (Seva), realizado no campus da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em Juara (696 km de Cuiabá), foi discutido os riscos da intoxicação por agrotóxicos e as alternativas para plantio sem veneno.
Um dos debatedores da mesa redonda foi o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) que falou das dificuldades na votação de projetos de lei para regular e reduzir o uso de agrotóxicos no estado.
“A realidade que temos hoje não é produto do acaso é produto dos interesses que nos governam, e do que está por trás do próprio Estado”, disse Lúdio, lembrando que o governador quer extinguir o órgão responsável pela assistência técnica à agricultura familiar, a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer). A mesa redonda foi realizada na quinta-feira passada e teve como tema Educação, Meio Ambiente e Saúde do Trabalhador.
Juara é um dos 30 municípios de Mato Grosso que forneceram dados ao Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. Na análise, foram detectados 27 agrotóxicos na água, conforme o Mapa dos Agrotóxicos elaborado em reportagem investigativa da Agência Pública, Repórter Brasil e Public Eye.
A nutricionista e doutoranda em Saúde Coletiva Márcia Montanari, pesquisadora do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (Neast) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), citou os riscos de ser direta e indiretamente exposto aos agrotóxicos. “Trabalhadores rurais, famílias que residem próximas a lavouras e comunidades no entorno estão sujeitas à exposição direta aos agrotóxicos. Mas todos nós estamos expostos indiretamente”, observou.
O Neast pesquisa a relação entre agrotóxicos e diversas doenças. “O câncer em crianças e jovens de até 19 anos é o mais suscetível a condições ambientais. Quando começa aumentar o número de casos nessa faixa etária é porque há fatores ambientais influenciando o desenvolvimento do câncer”, citou Márcia.
O engenheiro agrônomo Rogério Leschewitz, que trabalha na Empaer, demonstrou experiências com agroecologia na agricultura familiar, que utiliza os processos da natureza como base e é uma alternativa ao modelo de produção com alto uso de agrotóxicos e baseado na compra de insumos.
“Não precisamos de insumos externos para produzir porque sabemos os processos da natureza. Os sistemas agroflorestais são o futuro da agricultura familiar. Você mistura árvores, frutas, hortaliças, flores, o que você quiser, respeitando a técnica humana. Técnicas e tecnologias existem. Por que não aplicar?”
O agrônomo destacou que existe demanda de mercado para vender a produção sem agrotóxicos. “A agricultura orgânica demorou 10 anos para ter um crescimento de 30%. Só no ano passado, porém, ela cresceu 25%, e neste ano a previsão é que cresça 27%. É um crescimento exponencial. Não é mais um nicho de mercado”, observou.