Pesquisadores especialistas em fitopatologia divulgaram os resultados de uma pesquisa de três anos em Mato Grosso, que comprova melhor qualidade da soja plantada em fevereiro, se comparada a dezembro.
Após acompanhar e analisar a produção de 70 lavouras experimentais, sendo 27 em fevereiro e 43 em dezembro, os resultados publicados em artigo internacional apontam que a semente da oleaginosa produzida ao final da janela de plantio tem 90% de germinação e vigor e reduz à metade a aplicação de fungicidas, gerando economia no custo de produção.
A pesquisa foi coordenada pelos pesquisadores doutores Erlei Melo Reis e Laércio Zambolim, por meio da Fundação Rio Verde e contou com a colaboração dos também doutores Fernando Cézar Juliatti, que é professor da Universidade Federal de Uberlândia, e José Octávio Machado Menten, professor da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Laércio Zambolin explica que as sementes produzidas em fevereiro possuem 90% de germinação e de vigor. “Então possui qualidade patológica e fisiológica melhor do que as disponibilizadas no mercado”. Se comparada com as sementes compradas pelos produtores, as características em destaque chegam a ter 15 pontos percentuais a mais de qualidade superior.
Zambolin aponta que fatores como o transporte rodoviário, com exposição ao sol e à chuva e às condições de armazenagem implicam diretamente na redução da semente comprada pelos produtores. “Quando se tem a chance de plantar sua própria semente, o tempo de armazenagem até o plantio será menor e a qualidade garantida”.
O especialista afirma que essa possibilidade não representa nenhum risco ao mercado de produção de sementes, porque a perspectiva é que os pequenos e médios produtores deverão produzir em média entre 3% e 5% das sementes que precisam para formar sua lavoura.
O professor, Fernando César Juliati, reforça que a possibilidade de plantio da semente, conforme autorizado pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa), por meio da Portaria nº 389, de 1º de setembro de 2021, vai impactar de forma positiva os pequenos e médios produtores.
“A cadeia de produção de soja começa na semente. Com os produtores podendo plantar a própria semente, haverá mais autonomia”, reforça.
Para Fábio Bittencourt, que é diretor de pesquisa da Fundação Rio Verde, o resultado da pesquisa garante segurança com base científica para se plantar em fevereiro, com um cenário de controle em relação à ferrugem, que é o principal vilão da soja.
“Hoje temos condições muito boas para que se plantar em fevereiro e se poder fazer um manejo de doenças, principalmente, a ferrugem, com maior qualidade e segurança frente ao que é feito em dezembro”.
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Bitencourt afirma que a nova janela de plantio ainda deve passar por um processo de regulamentação para garantir que a reserva de área para semente tenha segurança jurídica e que se evite o plantio de soja sobre soja.
O coordenador da pesquisa, o professor, Erlei Melo Reis, reforça que o Vazio Sanitário continuará sendo respeitado com o plantio da soja em fevereiro, cuja colheita deverá ocorrer até maio, portanto um mês antes que o período proibitivo tenha início, em 15 de junho.
Reis argumenta que o Vazio é estabelecido em lei, e fundamentado com base teórica, e que sua imposição se dá, principalmente, pelo clima adverso no inverno, quando em Mato Grosso a média de chuva não ultrapassa 35 milímetros.
“Essa proposta de plantio em fevereiro não mexe no Vazio Sanitário, mas eu quero reforçar que com ou sem lei, o clima não permite o desenvolvimento de plantas neste período sem a irrigação”, expõe o especialista, para quem a pesquisa atesta de forma inédita a viabilidade do plantio de soja em fevereiro no maior produtor da oleaginosa do Brasil, com qualidade comprovada.
O vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Lucas Costa Beber, avalia que os produtores ainda estão cautelosos quanto ao plantio imediato de soja para semente, já nesta safra, mas que existe uma parcela de agricultores que já fizeram o plantio de semente no passado e que já reservaram área para fazer o plantio em fevereiro.
“A janela de plantio até fevereiro era um anseio dos produtores. Já existiu o plantio até fevereiro e passou para dezembro, mas houve a necessidade de se fazer mais aplicações de fungicidas, inviabilizando salvar a própria semente, principalmente, aumentando as aplicações e colocando em risco a cultura da soja”.
Quanto à possibilidade de “salvar” a própria semente, Lucas afirma que se trata de uma questão de viabilidade para garantir assertividade no plantio, principalmente, dos pequenos produtores que têm uma capacidade de rendimento menor, e por isso, quanto mais acertos obtiverem no campo, mais rentabilidade terão.